Do distrito de Nantun, na cidade de Taichung, em Taiwan, para o resto do mundo, os cortes inovadores e pigmentos vibrantes de Light e May Wang e Wesley Wei têm viajado o mundo via internet. As imagens publicadas no perfil de seu salão, o OOO-Ing Studio, estão fazendo a cabeça não apenas de clientes, mas também de admiradores longínquos. São designs irreverentes, técnicas inovadoras e resultados criativos que desafiam o normcore pelas ruas e feeds em que passam. (O icônico cabeleireiro britânico Guido Palau é um dos fãs.)
Em entrevista à ELLE Brasil, o grupo conta que o salão surgiu em novembro de 2019 da vontade de Light e May terem um espaço pessoal que os permitisse criar sem limites, expandindo a dinâmica do duo para uma parceria de negócios. “Um dia, de repente, recebi um telefonema de Light e May”, lembra Wesley Wei, a peça que faltava para completar o trio criativo. “‘Vamos ter nosso próprio estúdio e estávamos nos perguntando se você quer trabalhar aqui’, disseram. Eu pensei que era uma pegadinha no primeiro momento, porque foi muito repentino.”
May e Wesley, a dupla encarregada pelos cortes e colorações, já se conheciam por volta de cinco anos antes de abrirem o estúdio. Nenhum deles estudou para ser cabeleireiro durante a faculdade, mas a vida os enveredou por esse caminho. A experiência veio com o tempo e com outros trabalhos, mas a possibilidade de criar looks diferentes e expressivos os uniu nesse projeto empolgante e vivaz. Antes de trabalharem no OOO-ing Studio, ambos aprenderam técnicas de corte, coloração e penteado por mais de três anos em outros salões, com a mão na massa.
O nome OOO-Ing, dado por Light, a diretora criativa do espaço, vem da convicção dos três de que todos devemos ser nós mesmos, haja o que houver. “Se você colocar seu nome no lugar de “OOO”, verá que o significado original da palavra muda”, explica Light. Em inglês, o sufixo “-ing” indica o gerúndio dos verbos, ou seja, marca ações em continuidade. Ao adicionar um nome próprio à combinação, o resultado é um neologismo criativo, identitário e expressivo do tipo “Carolando”, “Rafaelando”, “Virginiando” e por aí vai. O nome captura a noção de uma personalidade tomando forma e se constituindo continuamente – aqui, por meio da beleza. “Além disso, ‘ing’ significa força ou poder [em taiwanês] que oferecemos aos clientes. ‘OOO-ing’ também soa como ‘all in’ [do inglês, todos pra dentro] o que significa a inclusão de todos”, ela explica.
Foi por acreditar tão piamente na força da autoexpressão que a dupla de artistas escolheu atuar na indústria da beleza, um mercado que dá vazão à criatividade sem deixar de ser rentável. Assim, May e Wesley decidiram unir suas veias artísticas para conceber algo como obras de arte ambulantes que fazem referência ao estilo Y2K dos anos 2000 ao mesmo tempo que apontam para um futuro esteticamente mais livre e colorido. “Existem muitas formas de apresentar a beleza como conceito. Eu optei por usar o cabelo para expressar a minha própria definição”, explica Wei. “A técnica do cabeleireiro precisa ser acumulada por meio de experiências, e é importante, também, saber como aplicamos essas habilidades, uma vez que isso nos ajuda a construir nosso próprio senso de beleza”, acrescenta Wang.
Sem referências específicas, os hair stylists revelam que se inspiram, de modo geral, em aspectos mundanos e no dia a dia. A ideia principal é traduzir um sentimento, segundo Light. “Para apresentar a concepção de beleza e as cores que existem em nossa mente, tentamos usar diferentes métodos durante o processo. Por exemplo, na imagem Ágata, que criamos em janeiro deste ano, substituímos o pincel de tingimento comum por um pincel de pintura”, diz. Pelas mãos de Wei e Wang, as modulações de cor da pedra ganharam vida por meio de uma técnica de tingimento semelhante à aquarela. “Isso nos ajuda a pensar fora da caixa e é uma forma mais relaxante e divertida de criar”, ela conclui.
“Existem muitas formas de apresentar a beleza como conceito. Eu optei por usar o cabelo para expressar a minha própria definição.” Wesley Wei
Enquanto Wesley gosta de experimentar com a porção visível de crescimento dos fios, preservando e celebrando a beleza natural do cabelo de seus clientes, May busca explorar diferentes técnicas de mesclagem que acentuam cores vivas e brilhantes, trabalhando com gradientes ou até mesmo color-blocking. Como se a cor fosse uma espécie de linguagem, a escolha dos tons é quase sempre baseada na preferência e estilo pessoal das pessoas. “Cada cliente é diferente, mas a maioria deles gosta de discutir ideias conosco, o que é um fenômeno muito interessante. Em outras palavras, cada um de nossos trabalhos é uma cocriação”, diz Wei. A oportunidade de trabalhar de forma colaborativa é um bônus para Wang, que adora engajar com os estímulos da indústria e criar estilos que ajudem seus clientes a se encontrarem no espelho. “Gosto de prestar atenção nas diferentes cores que aparecem naturalmente no cabelo. É semelhante à pintura, em que você pode desenhar e colorir onde quiser”, completa Wang.
Quando o assunto é técnica, o trio concorda que conhecimento e criatividade caminham juntos, assim como tesoura e pincel, corte e coloração. “Acreditamos que é necessário acumular muita experiência e aplicar essas experiências a diferentes competências. Quanto mais você toca no cabelo, mais rápida e precisamente você pode avaliar a condição dos fios e decidir como seguir naquela criação”, comenta Wei. Para cada estilo, uma combinação de técnicas é colocada em prática com muita minúcia e cuidado, para que o resultado seja uma expressão orgânica de tons e formas de tirar o fôlego. “Corte e coloração se complementam. O corte é como uma tela que tem um alcance limitado, mas nela podemos pintar nossas cores favoritas”, acrescenta Wang.
Além de pincéis fora do comum, experimentações com movimentos que se aproximam a pintura de uma tela e combos orgânicos e inovadores de corte e cor, os cabeleireiros apostam na linha de coloração da marca Goldwell, que conta com pigmentos puros e de alta performance, para trazer à vida suas visões repletas de camadas, dimensões e riqueza de saturação.
No entanto, o mundo multicolorido do OOO-Ing Studio ainda tem fronteiras a ultrapassar. Embora os designs altamente expressivos e criativos de Light, Wei e Wang tenham conquistado uma boa e crescente clientela, sua abordagem ainda parece ser ousada demais para o dia a dia taiwanês. Eles acreditam que a indústria dos cabelos está dividida entre estilo pessoal e estilo comercial em Taiwan. Enquanto o visual simples, prático e discreto é mais aceito, os cofundadores creem que ainda há pessoas que preferem um look criativo, como os que saem do OOO-Ing.
Sem grandes pretensões iniciais de revolucionar a indústria da beleza de seu país – e pouco a pouco do mundo –, o OOO-Ing Studio, apesar de jovem, tem oferecido uma visão inspiradora e construído uma comunidade criativa e pulsante que supera barreiras geográficas, sociais e linguísticas. Assim como eles mesmos acreditam, as cores mescladas por suas mãos habilidosas comunicam a mensagem de que sempre podemos reimaginar padrões, experimentar novos estilos e transformar o mundo em um lugar mais colorido – um cabelo de cada vez.