Que atire a primeira pedra quem passou pelos anos 2000 sem jogar o cabelo gritando “Calypso!”. A música brega do Norte e do Nordeste do Brasil, sem dúvida, foi uma das trilhas sonoras mais marcantes do começo do novo milênio. A época, inclusive, está mais em alta do que nunca. Não à toa, é exatamente dessa obsessão que surge o novo disco da diva pop e drag queen Pabllo Vittar, Batidão tropical (2021). O mais recente registro de estúdio da cantora mistura tecnobrega, forró, bachata e música eletrônica, entre canções originais e covers de clássicos do brega compostos por Kassikó, Ravelly, Batidão e Companhia do Calypso. Uma vez que que Vittar é uma das estrelas mais queridas do país, naturalmente o brega entrou para o hype novamente.
A influência do estilo ultrarromântico e altamente instrumentalizado, contudo, não ficou só nas caixas de som. A beleza de ícones nordestinas e nortistas, como Joelma (Calypso) e Mylla Karvalho (Companhia do Calypso) – simulada por Pabllo na capa do novo disco e em seus clipes mais recentes –, está virando hit também. Vale lembrar que, naquele momento, ambas as popstars lotavam estádios, principalmente no Norte e no Nordeste. Ou seja, para quem viveu essa experiência, a tendência tem um quê de nostalgia ainda mais forte. “O processo criativo para o Batidão foi muito gostoso”, lembra Sydney Salles, cabeleireiro brasileiro radicado em Londres, que foi responsável pelas perucas da cantora nesse projeto. “Amo todas as referências que ela trouxe dos anos 2000. As cores e formas que usamos são muito características da época.”
O cabelo, evidentemente, é um dos elementos mais importantes na composição desse visual. Loiros do pop internacional daquela década como os de Mariah Carey, Shakira, Anahí e, claro, Britney Spears foram referências fundamentais tanto para Joelma quanto para a sua “inimiga”, Mylla Karvalho. O amor da segunda pela dona do hit “I’m a slave 4 u” era tanto que até performance com uma cobra viva já rolou nos palcos de Belém do Pará fazendo alusão à apresentação lendária de Britney no VMA. A diferença, no entanto, é que o penteado chega por aqui longuíssimo – e acima de tudo, o que mais importa é o movimento.
Britney Spears em sua icônica performance de “I’m a slave 4 u” no VMA em 2001.Foto: Getty Images
Em 1999, era balançando para lá e para cá as madeixas loiras e onduladas que Joelma (ao lado do guitarrista Ximbinha) conquistou sucesso. “O cabelo é um dos pilares do meu trabalho”, diz em entrevista à ELLE. “Ele precisa ter comprimento suficiente para jogar e dançar”, explica antes de dizer que a babosa é o ingrediente-chave para manter os fios em dia. “Faço até um suco verde com ela e tomo todos os dias. É meu segredo de beleza”, confessa.
Foi pensando em visuais como esse que o time de profissionais ao lado de Sydney desenhou o mix de mechas douradas que estampa a capa de Batidão tropical. “Essa estética definiu o visual das pessoas que eram jovens naquele momento. Eu mesmo adorava essas divas e queria fazer tudo como elas. Foi justamente essa ligação direta que a gente buscou”, revela o hairstylist.
Mylla Carvalho e Companhia do Calypso performando “Bang bang” e “Zap zum”, duas das músicas regravadas por Pabllo Vittar em “Batidão tropical”.
A drag queen e beauty artist Thereza Brown foi quem finalizou o cabelo de Pabllo para o Batidão e, segundo ela, esse momento da cultura do Nordeste e do Norte foi a primeira e mais importante referência dada pela diva na hora de definir o conceito. “Para chegar a essa textura, com os cabelos úmidos e hidratados, usei um protetor antitérmico, secador, pomada para definição, e um triondas médio, quase grosso, para dar esse efeito. Para finalizar, fui com um spray fixador e um spray de brilho. É um cabelo fácil e divertido de fazer!”, ensina.
Outra contemporânea fã da beleza da época é a multiartista goiana Milian Dolla. “Sempre fui encantada pelo exagero e pela energia que aquela estética exalava”, relembra. “Sabia que era esse o mundinho em que eu queria viver e que viveria”, diz antes de citar, para além dos penteados, as maquiagens, a barriga de fora e até os piercings no umbigo, tão populares na década. Não à toa, esse é o universo imagético da Panim de Cachorra, marca de roupas criada pela DJ e empresária. De acordo com ela, o retorno dessa moda está ligado ao desejo por ousadia que paira no ar. “É sobre ter a coragem de misturar de um tudo, sabe? É o desejo de ser sempre diferente e dar um toque pessoal que constraste com esse mundo básico e careta em que estamos vivendo”, resume.