Para tentar se distrair durante a pandemia, a editora sênior de fotografia da revista New Yorker, a estadunidense Elizabeth Renstrom, teve uma ideia brilhante. E se alguém caçasse pela internet aqueles perfumes icônicos que fizeram muito sucesso nos anos 2000 e hoje estão fora de linha? O projeto Basenote Bitch nasceu em fevereiro de 2020 e atualmente soma mais de 120 resenhas dos perfumes redescobertos por Renstrom em um site/perfil no Instagram que também conta com entrevistas com especialistas.
Em entrevista à ELLE, a fotógrafa diz que, logo no início de o isolamento em Nova York entrar em vigor, ela já andava meio obcecada com essas fragrâncias descontinuadas. “Costumo me jogar em projetos pessoais quando estou estressada. Quando consigo fazer algo por mim mesma, sinto que saio do piloto automático”, explica. O embrião do Basenote Bitch surgiu quando ela trabalhava em uma série de cliques sobre o feminismo pós-lucro e como o marketing usa a beleza para vender cada vez mais produtos para mulheres.
As brumas perfumadas de Victoria’s Secrets são, para Basenote Bitch, o cheiro oficial das meninas populares do colégio.Foto: Elizabeth Renstrom/Basenote Bitch
“A partir disso, tive a ideia de criar uma imagem para o Love Spell (perfume da Victoria’s Secret) que representasse o tipo de menina que o usava na adolescência”, lembra. Ao encontrar o frasco à venda no eBay, uma viagem nostálgica a convenceu de que o projeto tinha de existir. “Quando senti aquele cheiro pela primeira vez em tantos anos, fui levada diretamente para minha pré-adolescência e me lembrei de todas as minhas inseguranças da época.” Para materializar esse universo ao redor das fragrâncias, Renstrom lança mão de imagens supercoloridas e com cenários elaborados e cheios de referências à cultura pop. Nas legendas, seus textos recontam histórias da época com ironia e bom humor.
Dois sucessos incontornáveis dos anos 2000, o Be Delicious, de DKNY, à esquerda, e o Cool, de Ralph Lauren, à direita.Foto: Elizabeth Renstrom/Basenote Bitch
De início, a fotógrafa imaginou se dedicar somente a dez perfumes. Entre eles, alguns clássicos, como o Be Delicious (DKNY), o Cool (Ralph Lauren), o Fantasy (Britney Spears), o Fierce (Abercrombie & Fitch) e o Happy (Clinique). Mas, graças ao retorno tão positivo que teve na internet, o Basenote Bitch foi muito além dessa primeira lista. Apaixonados por perfumes e pela estética vintage das fotos publicadas por Renstrom, seus leitores comentavam em suas posts, sugerindo mais perfumes para serem resenhados. “Boa parte do meu trabalho está em provocar sentimentos de nostalgia. A ideia, contudo, era usar tudo isso como uma ferramenta para criar reflexões mais profundas sobre a experiência de juventude vivida pela minha geração”, revela.
“Quando senti aquele cheiro pela primeira vez em tantos anos, fui levada diretamente para minha pré-adolescência e me lembrei de todas as minhas inseguranças da época”, Elizabeth Renstrom
Vale dizer que, com o tempo, as resenhas do Basenote Bitch deixaram de se limitar a perfumes lançados nos anos 2000. O Halston, de 1975, cuja criação foi retratada na série Halston da Netflix neste ano, por exemplo, tem o seu espaço por lá. “A história desse frasco é também um conto sórdido sobre amizade, traição, cocaína e um inesquecível casaco de pele”, escreve. Em sua versão mais recente, o projeto tem como intuito fazer uma viagem pela memória de diferentes gerações por meio do olfato. “Faço isso para celebrar os entusiastas e nerds da perfumaria e para provar que a arte olfativa é algo importante”, justifica. Para o futuro, o sonho é criar uma versão impressa da publicação.
Se hoje temos perfumes de celebridades como Ariana Grande e Kim Kardashian fazendo sucesso no mercado de beauté, é porque Britney Spears abriu o caminho para elas com seu adocicado Fantasy, um hit eternamente adolescente.Foto: Elizabeth Renstrom/Basenote Bitch
Ainda assim, os anos 2000 continuam tendo um lugar especial em seu coração. Principalmente quando se fala das linhas de fragrâncias assinadas por celebridades, que marcaram fortemente o mercado no começo do milênio. “Sou muito inclinada a tentar entender melhor esse período da minha história porque foi quando comecei a usar produtos e roupas como uma forma de entender quem eu era no mundo. Queria descobrir por que certas coisas tinham tanto apelo para mim.”