As collabs alcançaram um novo patamar, mas por que e para quê?

De Gucci e Balenciaga a Fendi e Versace, uma nova era das parcerias foi instaurada. Aqui investigamos o que de fato mudou nesse jogo.

“Isso não é uma collab”, afirmava o comunicado divulgado à imprensa sobre a parceria entre Fendi e Versace. Segundo a nota, a coleção conjunta era mais como “dois designers tendo um diálogo criativo a partir do respeito e da amizade”. Algo similar aconteceu em abril passado, quando a Gucci insistiu que não estava colaborando com a Balenciaga, mas sim hackeando seus códigos, e vice-versa. Alguns meses depois, Valentino e Craig Green intitularam a sua parceria como uma “interpretação”, assim como Jean Paul Gaultier e Sacai.

Apesar das nomenclaturas variadas, o fato é que, no fundo, ainda se trata de uma colaboração. Contudo, a tentativa de redefinir o termo não é completamente infundada. É que, ao longo dos últimos anos, esse tipo de ação atingiu um nível de saturação máximo.

Explicamos: foi em meados dos anos 2010 que as parcerias entre marcas tiveram seu grande momento. Balmain e H&M, Louis Vuitton e Supreme, Prada e Adidas são apenas alguns exemplos de sucesso. Uma boa colaboração podia tirar uma marca de sua zona de conforto, levar um produto a uma nova abordagem e clientela ou ainda garantir algum agito midiático. Poderia conceder ao designer a chance de aprimorar um segmento pouco trabalhado ou fornecer acesso a materiais e meios de produção que de outra forma ele não teria. Como consequência, o esperado retorno comercial era quase garantido.

Não é de surpreender, então, que as parcerias se tornassem uma fonte vital para a imagem, publicidade e receita de uma empresa.

Miuccia Prada abra\u00e7ada por Raf Simons.
Miuccia Prada e Raf Simons.Foto: Getty Images

Saint Veneta? Diovuitton? Valenprada? Elas podem existir um dia, desde que seja para preencher e não contribuir com o vazio cultural. Miuccia Prada e Raf Simons parecem entender isso. Em fevereiro de 2020, quando a parceria da dupla foi anunciada, a italiana afirmou: “Nós gostamos um do outro, nós respeitamos um ao outro. Vamos ver onde isso nos leva”.

A ideia de um designer como gênio isolado já não faz sentido há tempos. Um estilista verdadeiramente contemporâneo deve ser identificável e acessível, um comunicador social e o centro de uma comunidade de criativos, artistas, musas e amigos. Ninguém mais está nesse posto sozinho. A noção de lealdade implacável a uma única etiqueta também morreu. Se nos anos 1990 falava-se da “mulher Margiela”, em 2021 fala-se da mulher Margiela com um tênis Air Jordan sujo nos pés e uma bolsa Baguette no ombro.

Collabs, hackings ou interpretações, chame como quiser, são a ferramenta ideal para promover um encontro emocionante entre as visões dissonantes de cada estilista, enquanto comunica a complexidade visual e cultural desse consumidor. Essa complexidade, porém, é maior do que a simples junção de dois monogramas.