Um dos vídeos com maior número de visualizações da influenciadora digital Ana Lídia Lopes, no YouTube, traz o título “DIY: 5 Máscaras caseiras para cuidar da pele”. Com mais de 4 milhões de views, ele é a prova de que as pessoas estão cada vez mais interessadas em tornar o seu ritual de skincare mais natural. Não à toa, receitas para a pele que, muitas vezes, herdamos de nossas avós, estão voltando a ter seu lugar ao sol. “São alimentos que as pessoas associam ao bem-estar, como leite, aveia, mel… É natural que pensem que também trarão benefícios à pele”, avalia Vânia Leite, presidente da Associação Brasileira de Cosmetologia (ABC).
Na contramão de uma busca incessante por alta tecnologia e de ativos sintéticos de alta eficácia, esse novo boom de ingredientes da nossa cozinha fez com que as marcas dessem alguns passos para trás em termos de inovação e voltassem a olhar para o básico.
É por isso que diversas delas trazem ingredientes da gastronomia nos rótulos de seus cosméticos. A L’Occitanne au Brésil, por exemplo, lançou uma linha completa de itens com água de coco, um fruto famoso por suas benesses nutritivas. Romã, graviola, limão e carambola são outros exemplos presentes nos rótulos da marca brasileira. Outras gigantes do mercado, como Natura e O Boticário, também apostam com força nos poderes da natureza para compor suas linhas de cuidados corporais e capilares. Há anos os cremes compostos de castanhas, avelãs e frutos da Amazônia estão entre os best-sellers da Natura. Recentemente, a O Boticário encontrou na quinoa um potente ativo nutritivo e restaurador para pele e cabelo.
Ter ativos de origem natural na formulação dos produtos é diferente, no entanto, de fazer as próprias receitas e aplicar diretamente os alimentos na pele. “Não é tudo que ingerimos que podemos usar na rotina de beleza. Há um enorme risco na manipulação, na contaminação biológica, na exposição ao sol. Os ativos podem até ter inúmeras propriedades positivas, mas para agir corretamente na pele precisam estar em um veículo apropriado, em formulações testadas e aprovadas para determinado propósito”, alerta Vânia Leite.
Junto com os ingredientes naturais há uma forte (e muito positiva) onda de fórmulas mais “amigáveis” tanto para a nossa pele quanto para o meio ambiente. É o que prometem as marcas de cosmética natural, que chegam com força por aqui. Care Natural Beauty, Almanati, Santapele e Bioart são alguns exemplos de uma longa lista de marcas que se focam na origem natural, mas não deixam a desejar em tecnologia, segurança e eficácia.
“A biotecnologia veio para contribuir muito com a indústria cosmética e permitir cada vez mais performance nos produtos”, Patrícia Camargo, cofundadora da Care Natural Beauty
“Estudando a fundo o movimento do Clean Beauty (beleza limpa), para mim fica claro que nunca antes tivemos tanta tecnologia à disposição do mercado de beleza e isso resulta na possibilidade de formulações mais saudáveis, com conservantes e preservativos de origem natural, que quando trabalhados em laboratório têm a mesma performance de alguns preservativos tóxicos (como parabenos, petrolatos, ftalatos) sem causar nenhum malefício à saúde”, conta Patrícia Camargo de Divitiis, cofundadora da Care Natural Beauty.
Tecnologia e natureza podem, então, andar juntos? Essa talvez seja a verdadeira chave do sucesso e o futuro das marcas de beleza. “Não há como negar o trunfo de diversas inovações cosméticas que hoje podem atuar a nível genético, em células-tronco, peptídeos sinalizadores ou mesmo concentrar de maneira segura altas porcentagens de vitamina C, que seria impossível obter em receitas caseiras. Isso tudo sem falar nas micropartículas e nanomoléculas de ácido hialurônico, por exemplo, que não se pode conseguir em casa”, afirma o farmacêutico e professor de cosmetologia Maurízio Pupo, de Campinas (SP). Encontrar o ponto de equilíbrio entre sustentabilidade, eficácia e saúde é, portanto, o novo desafio da indústria para atender um público cada vez mais exigente e atento aos rótulos.
Como isso vem acontecendo na prática? “A biotecnologia veio para contribuir muito com a indústria cosmética e permitir cada vez mais performance nos produtos. Recentemente lançamos os primeiros preenchedores sem agulhas 100% naturais com biotecnologia e performance comprovada com 28 dias de uso e formulação altamente tecnológica, livre de toxinas”, exemplifica Patrícia Camargo.
Para Vânia Leite, mais importante do que os ingredientes serem naturais, é haver a preocupação com toda a cadeia de produção. Esse creme é feito com babosa, mas como ela foi colhida? Tiveram danos ambientais? Houve exploração de mão de obra? Foi usado pesticida? Essas são algumas entre tantas outras perguntas que devemos fazer independentemente do tipo de cosmético escolhido. Basta aguardarmos os próximos capítulos para desfrutar do que a natureza e a tecnologia – juntas – têm a nos oferecer.