Quando ouvi pela primeira vez sobre o Ephemeral Tattoo – um estúdio de tatuagens que usa uma tinta que desbota da pele entre 9 a 15 meses –, tirei sarro dele. Fazer uma tatuagem envolve todo um processo profundamente pessoal, que carrega muitos significados. Ter um desenho feito para desaparecer parecia banalizar essa forma de arte. Mas então percebi que minha reação inicial foi um tanto hipócrita.
Tenho cerca de 20 tatuagens, e nem todas são resultado de uma reflexão profunda. Na verdade, eu nem sequer escolhi a arte floral que hoje é a minha favorita, que fiz quando trabalhava em uma revista e deixei os leitores escolherem o que eu tatuaria. Então, finalmente admiti para mim mesma que talvez houvesse espaço na minha pele para algo semipermanente.
As pessoas fazem tatuagens por motivos tão variados quanto as próprias artes escolhidas. A gente marca nossa pele para fazer valer a nossa identidade, para honrar nossas heranças culturais ou para celebrar um ente querido, entre tantos outros motivos possíveis. Muitos também acabam se tatuando por impulso – e uma parcela significativa (28%, de acordo com uma pesquisa de mercado da Latana) diz que se arrepende.
Os arrependimentos pós-tatuagem foram, na verdade, o ponto de partida para o surgimento do Ephemeral, que atualmente tem estúdios no Brooklyn, bairro de Nova York, e em Los Angeles, com mais unidades em breve. “Com a tinta tradicional, as partículas de pigmento são grandes demais para o corpo quebrar”, diz Dhaval Bhanusali, dermatologista de Manhattan que ajudou a desenvolver a fórmula da tinta temporária do Ephemeral. “Os macrófagos (glóbulos brancos que digerem partículas estranhas) simplesmente não conseguem entrar lá.” Mas as partículas de pigmento presentes na tinta semipermanente são menores e envoltas em um complexo de polímero que se desfaz com o tempo, fazendo com que a cor desbote.
Cientificamente, faz sentido. Mas dá para chamar algo temporário de tatuagem? Ou seria mais como uma maquiagem? E como se escolhe uma arte sabendo que ela não será para sempre? Para responder a essas perguntas, decidi fazer uma tatuagem semipermanente no estúdio da Ephemeral do Brooklyn, que parece um salão de beleza chique, com aves-do-paraíso, água de caixinha e tapete peludo.
Quando cheguei, um atendente me explicou que as tatuagens semipermanentes são feitas somente na cor preta, por enquanto – as outras cores ainda estão sendo desenvolvidas. E que os desenhos têm que ter dimensões máximas de 40 x 40 cm, para que possam caber sob um adesivo hidrocoloide de tamanho-padrão, que acelera a cicatrização. Desenhos semipermanentes também custam mais caro que a maioria das tatuagens tradicionais, com preços a partir de 195 dólares. Em comparação, você faz uma tatuagem pequena e básica por cerca de 80 dólares em Nova York.
Dá para chamar algo temporário de tatuagem? Ou seria mais como uma maquiagem? E como se escolhe uma arte sabendo que ela não será para sempre?
Depois que conheci minha tatuadora, Anastasia, o procedimento foi padrão. Discutimos o tamanho e a localização de um desenho de mandala que escolhi, porque assim como as tatuagens semipermanentes, as mandalas de areia também são efêmeras.
Em seguida, Anastasia limpou minha pele, transferiu o estêncil para o meu tornozelo e sacou o mesmo tipo de maquininha que é usada para fazer tatuagens tradicionais. Fiquei observando enquanto mergulhava a agulha na tinta preta e, quando tocou minha pele, senti arrepios que já conhecia – aquela sensação de tomar várias picadas seguidas, que foi se dissipando assim que a adrenalina bateu.
Enquanto alguns tatuadores recusariam usar uma tinta que desbota, Anastasia propõe um ponto: ela disse que gosta de como as tatuagens semipermanentes reduzem as barreiras para que pessoas entrem nesse mundo. Ela também contou que teve clientes que experimentaram desenhos antes de torná-los permanentes de fato, e outros que queriam celebrar um momento, mas não marcá-lo em sua pele para sempre. Como Bhanusali colocou: “A pessoa que você é hoje não é a pessoa que você era há dois anos, ou a pessoa que você será amanhã”.
Quando minha tatuagem ficou pronta, cerca de uma hora depois, já sabia que tinha curtido o Ephemeral. Entendi que, se as pessoas podem evoluir, a arte da tatuagem também pode.