Colecionadores de fragrâncias

Obcecados por perfumes constroem verdadeiros baús de tesouros olfativos.

A maioria de nós possui uma ou duas fragrâncias, que são usadas alternadamente. Mas os supercolecionadores – aqueles que têm dúzias ou até centenas de blends – levam seu amor pela perfumaria para outro nível. O incentivo para acumular tantos frascos geralmente vem do desejo de “reviver aquele primeiro momento em que você se apaixona por um perfume”, diz Dawn Goldworm, especialista olfativa que ajudou a desenvolver fragrâncias para Valentino, Lady Gaga e Nike, entre outros. Cada novo perfume representa a possibilidade de um relacionamento mais completo e gratificante. Com o tempo, o gosto evolui e as escolhas também crescem, o que significa que “você continua a aumentar a sua coleção”, diz Dawn. A nosso pedido, quatro colecionadoras especiais compartilham seus acervos pessoais e as histórias que os frascos guardam.

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A MULHER INDEPENDENTE

Aimee Majoros

Fundadora da Aimee Is Beauty, agência de relações públicas e marketing voltada para o mercado de beleza.

Foco das fragrâncias: de nicho (geralmente criadas por perfumistas independentes, diferentemente daquelas de casas de moda, marcas de beleza ou celebridades).

Quantidade de frascos atualmente: cerca de 120 e em crescimento.

Achado favorito: um vintage Guerlain Mitsouko. “Eu encontrei em um mercado de pulgas há quatro anos. O frasco parece com as torres de pagode (um templo com múltiplas beiradas, comum em países asiáticos).”

Procurando por: qualquer coisa vintage da Guerlain. “As embalagens antigas eram muito elegantes.”

Local de armazenamento: “Mantenho minha coleção em um móvel antigo, para que esteja protegida, mas ainda assim exposta. No meu quarto, eu tenho 15 fragrâncias em cima de uma bandeja, que eu troco a cada duas semanas, para que todas recebam o amor que merecem”.

O que gerou a obsessão: “Minha avó amava perfumaria. Era a única coisa com a qual ela gastava dinheiro”, diz Aimee. “Eu costumava roubá-los dela, especialmente o Shalimar. Ele tinha um cheiro antigo e suave. É uma das minhas primeiras memórias olfativas.” Depois, no colegial, Aimee começou a trabalhar espirrando fragrâncias da Aramis em uma loja, o que reforçou seu amor pelo assunto.

Na coleção: “Elas representam diferentes partes da minha vida. Calyx, da Prescriptives, era meu tempo de colégio. Meus 30 foram sobre perfumes vintage dos anos 1930 e 40, como Guerlain e Laura Tonatto, que eu geralmente encontrava em brechós e mercados de pulga. Aos 40, comecei a me interessar por perfumaria de nicho, como Carthusia, Dawn Spencer Hurwitz e Tiziana Terenzi”. Aimee diz que se interessou por essa categoria porque ela oferece a oportunidade de conhecer fragrâncias incríveis, mas que não são tão famosas no mundo. Ela também possui criações de grandes perfumistas, incluindo Jean-Claude Ellena, colaborador frequente da Hermès. “Ter o perfume de alguém como ele é como possuir uma obra de arte.”

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A AMANTE DE ROSAS

Lisa Price

Fundadora da marca de beleza Carol’s Daughter.

Foco das fragrâncias: florais, especialmente rosas.

Quantidade de frascos atualmente: mais de 150 e aumentando.

Achado favorito: “Portrait of a Lady, de Frédéric Malle. Um perfume intenso que é ao mesmo tempo floral e esfumaçado”.

Procurando por: “Um óleo de jasmim de Marrocos, da Kiehl’’s, que foi lançado há mais de 30 anos. Eu tinha, mas usei tudo. Ele não existe mais, e eu não encontrei outro para substituí-lo”.

Local de armazenamento: “Mantenho a maioria deles em uma pequena geladeira no meu armário, e o resto no meu quarto e em banheiros”.

O que gerou a obsessão: “Eu comecei a colecionar em 2009, quando trabalhava com a Mary J. Blige para criar um perfume para ela”, lembra. O projeto levou Lisa aos laboratórios de uma perfumaria, onde ela teve acesso às matérias-primas usadas para criar os blends. “Essa experiência me despertou o respeito pela perfumaria artesanal”, diz, e isso a inspirou a comprar alguns frascos e iniciar sua própria coleção. Uma década depois, Lisa diz que se tornou como Carrie Bradshaw – “Mas, em vez de sapatos, eu tenho muitos perfumes”.

Na coleção: “Não consigo deixar de lado minha paixão por blends com rosas. Algumas são cremosas e leitosas, outras molhadas e refrescantes, e existem as esfumaçadas. Havia rosas no quintal da minha avó, e eu costumava enfiar meu rosto entre elas para sentir o aroma. Conseguir capturar isso em um frasco é incrível. Alguns dos meus favoritos são Frédéric Malle e Tom Ford, porque suas fragrâncias costumam ter um cheiro mais sujo e terroso”, conta Lisa. Mas ela não só coleciona como também consome no dia a dia! “Os que eu tenho mais usado recentemente são Repitile, da Celine, Michael Kors, da Michael Kors, In Love Again, da Yves Saint Laurent, e o Portrait of a Lady. Para ocasiões especiais, Carnal Flower, de Frédéric Malle, Beige, da Chanel, e Tuxedo, da Yves Saint Laurent.” Lisa descobriu em um artigo que Prince gostava de misturar seus perfumes e, claro, logo começou a fazer o mesmo. “Às vezes, gosto de realizar combinações que as pessoas não vão reconhecer. Talvez eu confesse o que está por trás delas, talvez eu só sorria para mim mesma e não diga nada.”

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BOND GIRL

Elizabeth Jurenovich

Fundadora e diretora executiva da Abrazo Adoption Associates, organização não governamental dedicada à adoção.

Foco das fragrâncias: Bond N० 9, uma casa de fragrância de luxo em Manhattan que faz homenagens aos bairros de Nova York (a linha também inclui edições limitadas inspiradas em outras cidades icônicas, como Londres e Dubai).

Quantidade de frascos atualmente: 44 e crescendo.

Achado favorito: “Bond N० 9 Saks Fifth Avenue Texas. É o estado onde eu nasci e o meu único frasco Harrods feito com cristais Swarovski”.

Procurando por: Bond N० 9 Harrods Jubilee. “Esse foi o único vendido na Harrods, em Londres, para o jubileu da rainha. Nunca senti o cheiro, mas as notas parecem divinas”.

Local de armazenamento: “Os frascos estão na minha cômoda, no quarto, assim eu as vejo quando acordo. Eu mudo de posição de acordo com o meu humor. Os que não estou usando, coloco para trás, e os meus favoritos do momento vão para a frente”.

O que gerou a obsessão: “Comecei a colecionar em dezembro de 2008, quando meu pai faleceu. Estava passando pela Saks Fifth Avenue quando vi as fragrâncias da Bond N० 9 e achei que pareciam obras de arte. Os cheiros eram únicos, e amei conseguir senti-los na minha pele no dia seguinte. Eles tinham um poder de permanecer quando tudo parecia fugaz”, lembra.

Na coleção: “Minha primeira compra foi um Bond N० 9 Cooper Street, que eu achei online. Acabei gostando mais do frasco do que da fragrância. Mas fui conquistada. Fui à Sacks na semana seguinte e experimentei todos eles. Isso se tornou um vício. Por eles serem caros, meu ex-marido compra e dá para os meus filhos me presentearem no aniversário ou no Natal”, conta. “Meu uso diário dos perfumes da Bond N० 9 se tornou um ato de autocuidado, especialmente quando minha vida estava numa transição muito grande. Os frascos, em formato de estrela, me lembram, de maneira visceral, de que eu tenho um lugar na vida.

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AFICIONADA POR HISTÓRIA

Barbara Herman


Autora de
Scent & subversion: Decoding a century of provocative perfume (2013, ed. Lyons Press).

Foco das fragrâncias: vintage.

Quantidade de frascos atualmente: Cerca de 150 e crescendo (além de mais de 400 minifrascos e amostras).

Achado favorito: Rumeur, da Lanvin (dos anos 1930). “É uma das fragrâncias animalescas mais bonitas. Ela traz uma sensação de cremosidade”.

Procurando por: Djedi, da Guerlain, de 1926. “É um perfume incrível e muito raro. Batizado com o nome de um mágico egípcio conhecido por conseguir ressuscitar os mortos”, explica.

Local de armazenamento: “Nunca fui de deixar a coleção à mostra. Por anos, eu a mantive no meu armário porque era seco e escuro, então as fragrâncias eram bem preservadas. Para mim, é sobre guardar artefatos que têm significado”, reflete.

O que gerou a obsessão: “Em 2009, quando eu tinha um blog e estava na frente do computador das 8 da manhã às 9 da noite, os perfumes me conectavam com o meu corpo e meus sentidos, num momento em que eu me sentia à parte do mundo”, lembra. “Baghari, de Robert Piguet, era minha droga de escape, e o eBay era o principal impulsionador. Perfumes vintage se tornaram minha paixão porque eu sabia que eles eventualmente entrariam em extinção. O desejo de sentir algo que poderia literalmente evaporar, se tornou uma necessidade urgente.”

Na coleção: “Eu sou especialmente obcecada por fragrâncias dos anos 1930 e 40, porque elas são as mais ousadas e originais da perfumaria do século 20”, explica. “Algumas incluem ingredientes que não são mais utilizados (por boas razões), como civeta, musk, castóreo, âmbar cinza, todos derivados de animais, especificamente da região das glândulas sexuais.” Barbara diz que continua adicionando novos itens à sua coleção por causa do poder que eles têm de transportá-la a diferentes lugares. “Qualquer coisa de Germaine Cellier me deixa mais sonhadora. Vent Vert, de Pierre Balmain, melhora o meu humor. E a bomba sexy que é o Poison original de 1980, da Dior, faz com que eu me sinta glamourosa. Olhando minhas fragrâncias juntas, elas parecem artefatos mágicos do passado. Apesar de muitas notas terem se dissipado, eu posso abrir algo de 1935 e sentir que estou viajando”, finaliza.

Tradução: Bárbara Rossi