Dizem que a cozinha é a verdadeira linguagem universal. A gente acredita. Cozinheiros experientes e amadores também! E, para propagá-la, encontraram no TikTok e no Instagram um espaço confortável, onde exibem suas experiências mais mirabolantes – com ou sem dancinhas.

Do macarrão com tomatinhos-cerejas assados com queijo feta ao dalgona coffee, aquele café solúvel batido com afinco até virar uma espuma (que serviu de atividade física para muita gente durante a pandemia), vídeos são vistos, compartilhados e testados enlouquecidamente.

Esses dois exemplos, com mais ou menos esforço, dão certo. Mas será que todo viral faz sentido? Alguns são incríveis, outros, verdade seja dita, são um tanto questionáveis. Para que as suas tentativas não sejam em vão, convidamos chefs reconhecidos e midiáticos para avaliarem alguns dos hits da parada culinária das redes sociais.

Picolé de Oreo

A promessa é boa: um picolé tão prático que não precisa nem de forminha. Renata Vanzetto, a chef por trás do Ema e de mais sete restaurantes, um bar e um bufê bem-sucedidos, bota fé: “Dá certo com certeza. Fiz muito isso de congelar leite condensado com leite em pó na infância. Só não faria para os meus filhos, porque eles não têm uma alimentação cheia de açúcar. Para eles, faço picolés naturebas, só com suco de fruta”, diz ela, mãe de Ziggy, 4 anos, de Max, 1, e grávida de seis meses de Suri. E confessa: “Mas me deu vontade, porque estou uma grávida muito açucarenta”.

Batata Ratatouille

A versão colorida da batata hasselback encheu os olhos do cozinheiro mais famoso da Amazônia brasileira, Thiago Castanho, do Remanso do Peixe. No ar com o Iron Chef Brasil, na Netflix, Castanho também faz sucesso com as receitas em seu canal no YouTube. Até por isso, reconhece de cara quando vê uma boa nas redes sociais. “Essa batata é massa, hein?! Eu costumava fazer a batata cortada dessa forma, mas sem o recheio, apenas besuntada com azeite, mel e alecrim. Esse cara aí potencializou o sabor e brincou com a ideia do ratatouille de uma forma divertida”, analisa o chef.

Ovos de bandeja

Uma ou outra gema se quebra no processo, a quantidade de manteiga é de arrepiar os cardiologistas e o ponto de cozimento é discutível. Ainda assim, Tsuyoshi Murakami vê aspectos positivos nos ovos assados por atacado: “Nossa, isso vai dar certo. Vai dar certo, né? Uau! É prático, é gostoso. Num pão francês fresquinho, de manhã, é perfeito”. E, educadamente, sugere algumas melhorias na receita. “Imagine se você distribuísse tudo uniformemente na fôrma, depois cortasse com precisão e jogasse um pouco de ikura (ovas de salmão) por cima? Ou se fizesse uma salada com algas, ervas. A receita é fácil, mas deixa muitas possibilidades a serem exploradas e isso é muito legal”, diz o chef do restaurante Murakami, nascido em Hokkaido, criado no Rio e consagrado em São Paulo.

Já Kátia Barbosa, santa criadora do bolinho de feijoada, do Aconchego Carioca, e jurada mais afetiva do reality global Mestre do Sabor, hesitou diante dos ovos na assadeira. Mas concluiu: “Para fazer para dez pessoas, fica bem mais fácil. É engraçado e é prático”.

Pasta Burger

Esse foi de cortar o coração dos guardiões da cozinha italiana. Conhecido por seu estilo provocante, tanto na pele de jurado do reality The Taste (GNT) quanto na sua cozinha no Donna, em São Paulo, André Mifano até que pegou leve, no início: “Fiquei na dúvida se é um hambúrguer de massa ou massa com carne. Entendo que a galera tem feito criações inusitadas em troca de likes, mas isso vai contra tudo o que acredito sobre comida: um cozinheiro de verdade cozinha para fazer comida boa”. Mas não se segurou: “Não foram feitas boas escolhas: o molho de tomate pronto, os legumes mal cortados, queijo processado e, além de tudo, o meio do macarrão dificilmente foi cozido por estar envolto na carne, deve ter ficado crocante, o que não é nada bom”.

Italiano da Sardenha, Salvatore Loi ficou horrorizado: “Isso mostra a falta total de conhecimento da matéria-prima e de respeito pela alimentação. Por mais simples e conhecido que seja, por que não cozinhar o espaguete, fazer um ragu e ter uma supermassa?”, questiona o chef do Modern Mamma Osteria.

Renata Vanzetto foi direto ao ponto: “Tá meio modinha, né? Mas não vejo o porquê disso. É uma comida muito feia e esquisita”.

Cloud bread

Ok, banana bread é bolo de banana. Porém será que cloud bread é uma nuvem de pão? “Para mim é um suspiro. Ou estou enganada?”, contesta Kátia Barbosa. Renata Vanzetto já experimentou e dá seu testemunho: “Tenho um funcionário que faz umas coisas asiáticas e uma vez ele fez esse pão. Assim, fica com uma texturinha diferente, mas tem gosto zero, de verdade. Sabor de nada e consistência legal”.

Biscoito (ou pãozinho) de tapioca

Com apenas cinco ingredientes, o pãozinho de tapioca prova que simplicidade é o segredo do negócio. Foi só aplausos. “Essa receita faz total sentido. Principalmente pra quem mora fora da Amazônia e não encontra farinha de tapioca, que é a cara da região. Secando ou torrando a tapioca hidratada, ou a goma, como ele faz no início do vídeo, ela vira uma farinha, que serve para esse pãozinho, mas também funciona para fazer os famosos dadinhos de tapioca do meu ‘bro’ Rodrigo Oliveira ou para empanar camarão, como faço no Remanso do Peixe, por exemplo”, ensina Thiago Castanho. E Kátia Barbosa dá mais uma dica: “Se acrescentar um queijo bom, vira um pão de queijo perfeito!”

Costelinha de milho

A receita, em si, não desagradou, mas a desaprovação do nome – costelinha de milho – foi consenso entre os cozinheiros profissionais: “De costelinha, não tem nada, mas achei a ideia de um milho com manteiga e salsinha ótima”, diz André Mifano. Apesar disso, ele preferiria que a receita fosse feita no fogão, no lugar da airfryer. “Entendo que um vídeo de TikTok tem a necessidade de ser um preparo rápido, fácil, colorido e com muito estímulo. Ainda assim, eu teria tido um cuidado maior com os ingredientes. De repente, usado mais temperos.”

Já Kátia Barbosa e Thiago Castanho não viram a menor vantagem em “filetar” a espiga: “O milho é maravilhoso, mas por que eu teria o trabalho de cortar em quatro? Eu também usaria ali um cream cheese, que ficaria bem gostosão”, comenta Kátia. Castanho concorda: “Pra que chamar de costelinha? Pega o milho inteiro, passa essa manteiga temperada e chama de milho temperado na airfryer”.

Nutella frita

Embora suje bastante louça, mande ver nos ultraprocessados e seja uma bomba calórica, essa larica quase pornográfica pegou mamma Vanzetto num momento vulnerável: “PQP, eu comeria agora! Essas coisas gororobentas não têm jeito, me dão muita vontade. Eu sou muito junkie. Melhor nem arriscar imitar”.