Se você mora no Brasil, de alguma maneira conhece Adriane Galisteu. Pode ser de longa data, da sua época de infância, já que ela despontou na televisão aos 9 anos de idade. Pode ser do seu período ao lado de Ayrton Senna, até hoje um dos maiores ídolos esportivos do mundo. Pode ser de uma novela. Das redes sociais. Ou, pra ficar numa referência atual, da Fazenda, reality show da Record que apresenta desde o ano passado e que repercute a valer. Mas provavelmente você ainda não conhece Galis (@iamgalis).
Criada em parceria com o fotógrafo de moda e artista digital Jacques Dequeker, o avatar de Galisteu acaba de nascer e aparece pela primeira vez aqui, na ELLE.
Garota da capa com asas prontas pra bater, Galis carrega de Galisteu, entre outras coisas, o amor pelas borboletas – em 1994 ela lançou o livro Caminho das borboletas, que narra seus dias ao lado de Senna, e desde então considera o inseto uma representação da própria vida, dos ciclos que vivemos. “Você olha para um casulo e não acha aquilo bonito, aí de repente nasce uma coisa maravilhosa, mas que não dura, ela não vive mais que 24 horas. Mas são milhares… Elas têm o poder de transformar um ambiente.”
E promete dar voz a minorias, se engajar, circular pelos mais diferentes metaversos e, claro, esbanjar looks fashion – coisa que já fez ao lado de Ellen, nossa avatar, em Como sobreviver a um apocalipse.
Confira o bate-papo com a apresentadora:
O que a motivou a criar um avatar?
Eu e o Alexandre (Iódice), que é meu marido e também empresário, já estávamos tateando o metaverso havia bastante tempo. Tivemos muitas reuniões, procuramos vários designers, até que cheguei ao Jacques, que sempre teve essa relação com a moda, uma relação que também faz parte da minha vida. Queria que a Galis fosse realista, mas, mais do que isso, que pudesse ser o que quiser nesse universo, próxima a mim, mas não igual a mim. Pode ter vários cabelos ou ser careca, não tem idade definida, pode mudar de corpo, dar voz a outras pessoas que não têm o espaço que tenho. Ela é tão livre e tão plural, que ela voa, daí veio a ideia de ter asas.
O que ela traz da Galisteu?
O público. Tenho um público consolidado e mesmo nas redes sociais ainda agrego pessoas novas, então, posso ajudá-la nesse meio caminho andado. As pessoas sabem quem eu sou, que não surgi do nada. Também acho que trago a coisa do relacionamento e ela vai ter isso ainda mais forte, vai ser um papel importante dela dentro do metaverso. Tenho vontade de fazer um metamatch com a Galis!
Você tem uma carreira bem pop. Acha que a Galis pode ajudar a chegar em uma galera ainda mais jovem?
Não tenho dúvidas! Ela tem asas para isso, pode estar em tudo que é lugar.
Você está na Fazenda, um programa com repercussão nacional, especialmente nas redes. É difícil?
Eu vejo mais prazer do que dificuldade, é o que sei fazer, amo meu ofício, sempre gostei de reality show e estar à frente da Fazenda é um prazer enorme, porque me divirto muito, vivo aquilo. Tem um lado difícil porque as pessoas amam o programa como se fosse um jogo de futebol, as torcidas ficam divididas, ficam com ânimos exaltados – curiosamente, vivemos isso no mundo atual também. Mas quando acaba a partida, acaba a polêmica. Acho que o legal da Galis é poder fugir um pouco disso, não reproduzir no metaverso as mesmas angústias, as mesmas confusões que vivemos aqui.
Sua vida não deixa de ser quase um reality, né?
Não deixa de ser, mas, quando fiquei famosa, quando o Brasil inteiro me conheceu, não tinha redes sociais, não tinha nem internet. Vivi isso com a imprensa, com os paparazzi, tinha que desmentir coisas na matéria seguinte. Era muito difícil, mas fico imaginando se tudo o que aconteceu comigo em 1994 tivesse acontecido hoje…
Você se posiciona nas redes, fala, por exemplo, sobre política?
Nunca me posicionei politicamente, engraçado… E hoje mais do que nunca prefiro não me posicionar mesmo. Primeiro porque só traz confusão pra sua vida. Infelizmente, vivemos um momento de rachadura e isso tá muito claro. Você só ganha inimigo. Tem gente que nem quer ouvir a sua resposta, só quer ver o circo pegar fogo. Em segundo lugar, porque não acredito que uma hashtag contra esse ou aquele é efetiva de fato. Tem muita gente que posta muito nas redes e no dia da eleição, por exemplo, não vota, viaja. Por isso, embora não me posicione, não deixo de falar sobre a importância do voto. É o que digo sempre no reality show quando os fãs começam a reclamar: quem tem a chance de tirar é quem tá em casa.
Como é sua relação com os fãs?
Você acaba carregando essas pessoas, vai agregando. Hoje, tava almoçando e um monte de gente veio falar comigo sobre a Fazenda, mas é gente que já me seguia lá de trás. Tem gente que é da época do Ayrton, tem gente que eu conquistei agora, tem os amigos do Vittorio (filho dela, de 12 anos), que acham que eu sou uma youtuber, uma influencer… E Galis nesse novo universo vai somar ainda mais gente.
Nesta edição, falamos sobre medo reais e imaginários e você já passou por momentos difíceis, por perdas fortes. O que dá medo em você hoje?
Acho que nos dias de hoje ter medo é sinal de responsabilidade, mas não pode ser aquele medo que te paralisa, claro. Eu não saio por aí de peitão aberto, não dá pra não ter medo, principalmente depois da maternidade. Mas, se for pra falar de um medo específico, tenho medo das puxadas de tapete que a vida nos dá. Você pode estar fazendo tudo certo, ter uma vida saudável, de repente, vem a vida… O Ayrton, por exemplo, morreu muito cedo, meu irmão morreu aos 28 anos e eu tinha 15 quando meu pai morreu, aos 54. São puxadas de tapete que fazem um buraco na alma que você nunca mais conserta. Esse é um medo que tenho. Para as outras coisas, ainda que não seja destemida, eu não deixo de fazer algo porque tenha medo.
O metaverso tem essa coisa da imortalidade…
Que é uma coisa que nos enche de prazer, né? A Galis não tem nem relação com a idade, nem com corpo, com nada que prenda a gente. Você é livre da dor. É um mundo utópico, mas, se não for pra ser assim, qual é o ponto? A coisa com a qual mais temos que ter cuidado é não levar para o metaverso o que é ruim aqui. O legal é poder viver tudo aquilo que você sempre sonhou na vida real. Que seja um escape que nos ensine inclusive a viver melhor aqui. Eu espero sinceramente aprender muito mais com a Galis do que ensinar.
Em 2023, você vai fazer 50 anos. Se sente totalmente realizada?
Você vai me encontrar algumas coisas na vida e eu nunca vou dizer que estou realizada. Estou sempre inventando, criando e me abrindo pra novas possibilidades, nunca acho que está bom. Isso não significa que eu seja uma eterna insatisfeita, pelo contrário. Tenho o maior orgulho de aonde eu cheguei, olhando para trás a chance de eu estar onde estou era pequena. Mas acho que a gente sempre pode mais, deve querer mais, não sentar no berço esplêndido do conforto. É uma delícia esse lugar, mas não acontece nada, acaba sendo um vazio tremendo.
Quais são seus planos pós-Fazenda?
Vou viajar! Vou levar a Galis comigo para a Suíça, ela já nasce com duas parcerias muito bem-sucedidas, uma delas é o Mercado Bitcoin, a outra, o turismo da Suíça. Então, esse é o primeiro país que ela vai conhecer. Tá bem ela, hein?. Mas a primeira coisa que quero fazer é puxar o freio, porque meu trabalho é delicioso e, ao mesmo tempo, insano. Chego em casa às 3 da manhã todos os dias, tem uma pressão muito grande dentro e fora da casa. Então, é importante parar, tirar umas férias de um, dois meses. Viajar é um grande prazer que eu tenho. Trabalho pra ganhar dinheiro pra viajar. (risos)
A Galis vai entender de finanças, então?
Sim! Hoje, qualquer passo que você tenha que dar, tem que estar calçado. Eu não sou a pessoa da matemática, mas, principalmente depois que eu me casei, comecei a dar mais importância para a estabilidade, a pensar mais no futuro. E qualquer movimento que você faça no metaverso custa uma fortuna. Se você não tiver apoiadores e parceiros, a coisa não anda. A Galis vai atuar em várias frentes, falar de educação, de finanças, de minorias…
Estamos aqui falando de metaverso, mas queria saber: você tem vontade de uma coisa bem analógica, que é escrever outro livro?
Sempre tenho, escrevi um aos 19 anos, sobre uma história muito sofrida, muito doída, embora linda. Estou comemorando agora 40 anos de carreira, aos 9 estava cantando no programa do Silvio Santos. Tenho muita história e sempre na mesma área, e nunca desisti de mim, mesmo com todos os tropeços. Penso agora em um livro mais comemorativo, que contasse minha história por meio de fotografias.
Falando em fotos, pra gente terminar: o que você mais gosta na moda?
Mesmo criança, eu já gostava de looks diferentes, usava umas meias rasgadas, calça larga, paletó do meu pai numa época em que isso era muito esquisito. Acho que o papel da moda é fazer você pensar um pouco fora da caixa. Não é só o jeans e a camiseta, não é só a vitrine, mas, sim, o que você pode fazer com o que você tem, brincar, não ter medo de ousar. E hoje tá tudo na moda, até a pochete, coitada, tão amarrotada lá atrás! Então, é fácil. Para a Galis, confesso que olhei muito para o Thierry Mugler. Quase cai da cadeira na exposição dele em Paris. As coisas já eram meio metaverso, meio mosca, meio bicho. Fui muito influenciada. Minha vontade, no início, era fazê-la nua, mas ainda exigem que a gente cubra as partes íntimas. (risos)