Carta da editora

Eu sou foda, tu és foda, ela é foda também

Semana passada, eu vi um vídeo do Caetano Veloso no TikTok em que ele diz em alto e bom som que é foda. E, sim, Caetano é foda mesmo. Mas fiquei pensando como nós, mulheres, normalmente temos dificuldade em dizer esta frase: “Sou foda”.

@guivalencaoficial

@caetano_veloso é foda mesmo! É essa galera q ele citou é muito foda tb!😂 #mpb #caetanoveloso #entrevista

♬ som original – Guilherme Valença Co

Puxe o fio da memória. Quando recebemos um elogio, por exemplo, a tendência é responder um “magina” ou “foi tão baratinho”, se o elogio em questão diz respeito ao look do dia. Como se precisássemos ser o tempo todo humildes. Quietas. Brochas. O oposto de foda, não é mesmo? 

Nesta edição, porém, eu quero te convidar a dizer em alto e bom som “Eu sou foda, e não estou sozinha”. O que não falta nesta View, garanto, são mulheres fodásticas para nos fazer companhia – elas vão desde Greta Thunberg, nossa capa, que aos 15 anos, mesmo com dificuldade em se comunicar com outras pessoas que não fossem seus pais, a irmã e uma única professora, foi para a frente do Parlamento sueco com uma placa e desencadeou um movimento global, até Maria Ressa, cofundadora do Rappler, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz pelo seu trabalho e agora corre o risco de ir para a cadeia.

Temos ainda nossa Sonia Guajajara, cotada para assumir o novo Ministério dos Povos Originários, Annie Ernaux, que, aos 82 anos, também ganhou um Nobel, o de Literatura, e é a grande homenageada da Flip 2022, e outras talvez menos conhecidas (pelo menos por mim), como a foda-foda Timnit Gebru, engenheira da computação que examina as ramificações éticas da inteligência artificial, com foco específico em linhas algorítmicas que podem se manifestar como racismo. Elas e outras 95 mulheres de fato maravilha estão na matéria Change Makers, um esforço de reportagem que reuniu as ELLEs de 45 países e chegou em 100 nomes.

Mulheres foda para ouvir enquanto você lê a View de novembro? Sim, você pode. Em Elas por elas, o jornalista Sérgio Martins mostra quem são as compositoras que estão furando a bolha masculina da música sertaneja, por exemplo, e escrevendo letras para serem cantadas por outras mulheres. Prepare aí o play na sua plataforma de streaming favorita. 

Mais: na estreia da jornalista Nathália Fernandes aqui, na ELLE View, entendemos como algumas mulheres trans, vide as deputadas eleitas no pleito de 2022, estão rompendo uma bolha maior ainda, a do preconceito, além de compreendermos a importância da atuação política das travestis e pessoas trans desde o final dos anos 1970 até agora. Por inacreditáveis 14 anos, somos o país que mais mata travestis e trans no mundo.

Quer conhecer outras mulheres com F maiúsculo? Vá para a matéria O futuro é feminino – e ancestral e confira a luta de quatro mulheres indígenas mapeadas por Bell Kranz, nossa colaboradora de longa data. Com tecnologia e voz própria, elas enfrentam a guerra contra o desmatamento, o roubo de suas terras e o desrespeito/apagamento de suas culturas. Se isso não é foda, eu não sei o que seria.

Pra finalizar e inspirar mais e mais cada um/uma de vocês, temos Maju Araújo, a modelo brasileira com síndrome de Down, que cruza passarelas internacionais e brilha como embaixadora da Lancôme e da L’Oréal Paris. 

BEYONCE
Como diz Beyoncé (e essa nem precisamos dizer, mas, vai lá, é FODA!), nenhuma mulher tem que se rebaixar para o mundo. Nenhuma de nós tem que se encaixar onde disseram que era o lugar da gente – normalmente, nenhum lugar de protagonismo. 

Assumir que somos foda não é prepotência. É merecimento mesmo. 

Beijos,
Renata