Tem algo significativo e, talvez Freud explique, na vontade coletiva de voltar para os anos 2000, mesmo que isso só seja possível mesmo via moda. A lembrança – ou talvez, no seu caso, que lê esta coluna agora, a história – não me deixa mentir: o começo do século 21 foi mesmo legal pra carajo, como escreveria a mídia argentina.
Explico: no Brasil, foi a época em que a moda mais esteve na moda e os desfiles eram apoteóticos, tinha todo aquele frenesi rolando na ponte aérea São Paulo Fashion Week-Fashion Rio. Foi também o período em que a economia decolou e as políticas sociais do governo Lula permitiram a ascensão da classe C – que conseguiu mostrar não só sua cara e seu potencial, como também seu corpão, com direito à barriga de fora. O apogeu das calças Gang, como relembra a repórter Rafaela Fleur, na matéria imperdível Calcinha na mão, cofrinho no chão: o retorno da cintura baixa e o que as periferias brasileiras têm a ver com isso.
Claro, tinham problemas. Mas talvez a falta de noção (ainda não éramos bombardeados para o bem e para o mal pelas mídias sociais), talvez o tesão pelo início de um novo século e a felicidade pelo mundo não ter acabado com o famigerado bug do milênio tenham contribuído para o escapismo, para a ideia de festa no apê, mundo rosa Paris Hilton.
E, em um ano (esse aqui, que tá quase, quase indo embora) que começou com uma guerra (Rússia invadindo Ucrânia), seguiu com focos de covid-19 (ainda nem foi oficialmente decretado o fim da pandemia) e recessão econômica por todos os lados, parece natural querer fugir um pouquinho dos dramas reais e mergulhar na utopia narcisista/alienada de outrora. Um escape. Um desejo de ser mais feliz.
Ninguém melhor do que Raica Oliveira, nossa capa, para representar isso. De Niterói (RJ), Raica estourou nos 2000, logo depois de conquistar o segundo lugar no Elite Models de 1999, e espalhou pelo mundo o bronzeado, a ginga, o jeito Brasil de viver, que inclui altas doses de otimismo, a despeito das dificuldades (e elas são inúmeras!). Ninguém melhor também do que Carlinhos Brown, o pai da timbalada, que completou 60 anos em 2022 com pique de carro elétrico no Carnaval – leia a entrevista que ele concedeu a Sérgio Martins em As novas batidas de Brown e prepare-se para ter vontade de pular ao som de “olha a água mineral”.
Mais: entrando oficialmente no verão, nesta edição vamos além e convidamos você a tirar a roupa (pode ser pra você mesmo!) e aprender a ser feliz com o próprio corpo. Ou a mostrá-lo em vestidos bandage e slip dresses, duas tendências das passarelas que chegam para engrossar a vibe “vai rolar bundalelê”.
Para esquentar ainda mais os tambores e os desejos de um 2023 gostoso, a editora de cultura, Bruna Bittencourt, preparou um guia relembrar é viver com os filmes mais calientes do verão. E a repórter Bárbara Rossi se incumbiu da tarefa de selecionar sex toys pra todes – já passou do tempo de tirar vibradores da categoria tabu, então, faça o teste e dê match no seu favorito.
O refresco vem com produtos de beleza feitos sob medida para os dias mais quentes do ano e com um divertido Manual de sobrevivência para um Natal sem partido, porque ninguém merece passar mais uma ceia indigesta.
Nos vemos em 2023. Obrigada pela companhia, e espero que a ELLE View tenha te ajudado pelo menos um pouquinho com bons momentos ao longo do ano que já vai embora.
um beijo, muito $$$ no bolso, saúde pra dar e vender, amor e diversão sempre que for possível. 🙂
Avante!