O despertar do slip dress começou há quase um século, na década de 1930 – pois é, a moda ama rebobinar o tempo. Encontrou na era de ouro de Hollywood as perfeitas damas de companhia. Mulheres glamourosas, como Ginger Rogers, vestiam camisolinhas de seda, com ou sem detalhes de renda, e ditavam aquela silhueta longilínea, lânguida, quase inacessível, de quem acabou de acordar cheia de joias. Quase como se tivéssemos licença apenas para espiá-las pela fechadura da porta de um quarto. Estrelas que apontavam para um céu pós-recessão de 1929.
Fred Astaire e Ginger Rogers (Foto: Getty Images)
Corte no tempo e vamos para 1990. E o ar old Hollywood evapora, abrindo caminho para novidades do momento. De um lado, o minimalismo encabeçado por Calvin Klein, com Kate Moss sendo coroada a diva do período. Apenas uma alcinha fina em uma camisola de cetim de seda lisa era bem-visto. Uma elegância purista mais purista, sem acessórios. Do outro, o grunge encabeçado por Kurt Cobain – e quem deitou e rolou aqui foi a sua então esposa, Courtney Love, que misturou slip dress com tiara de princesa e, por que não, com camisa xadrez de flanela, roubada do namorado. O maior relacionamento entre quarto e rua.
Courtney Love, em 1995 (Foto: Getty Images)
E então chegamos a 2022, ao final de 2022, para ser mais exata. E, numa época em que nada mais choca e, para ser honesta, pouca coisa faz sonhar, o slip dress e toda moda boudoir que vem na cola dele se reinventam, mostrando que a peça tem fôlego para as boas noites que nos esperam: ele ganha um antúrio em um dos seios nas mãos de JW Anderson, na Loewe, um peitinho escorregando e revelando um sutiã fininho nas passarelas de Victoria Beckham e da Givenchy e um ar mais pesado, uma camisola mais difícil de tirar, digamos assim, na Prada.
Para completar, numa vertente mais romântica, camisolas e roupas de baixo, com direito à anágua, que remetem a outros séculos vêm com o aval de marcas como Dior e Collina Strada.
Collina Strada spring/summer 2023(Foto: Getty Images)
E, se pararmos parar para pensar um pouquinho, vamos perceber que o slip dress é mais uma vertente da tendência maior que pauta essa moda num quase pós-pandemia, quase pós-recessão, quase, quase pós-governo de extrema direita, no nosso caso aqui. Mostrar o corpo (temos também o bandage e o cofrinho de fora), voltar para a pista, é dar um grito de liberdade, nem que seja metaforicamente.
A diferença entre essas vertentes todas é que a camisolinha com permissão para sair de casa é uma opção menos sexyzona do que o bandage dress ou a calça com cintura superbaixa. Mais idealizada – e voltamos lá pro começo de tudo, para os anos 1930, para aquela sensação de que tudo bem espiar, mas não é para chegar muito perto.
Ver alguém dormir, afinal, é possivelmente o ato de maior intimidade e tem toda uma mística onírica, que acaba impregnando o DNA dessas roupas de sonhar acordado.
Se você quer um lookinho de verão que revele a pele de um jeito mais glamouroso, mais old Hollywood mesmo, não durma no ponto e invista no slip dress que mais combina com o seu estilo de vida:
Rock’n’roll all night: preto e lingerie à mostra são palavras-chave
Jason Wu spring/summer 2023 (Foto: Getty Images)
Quem curte um visual mais soturno e bem glam, pode se inspirar na passarela de Jason Wu. A dica aqui é usar hot-pants e sutiã fininho, do tipo de tule, e completar com uma jaqueta de couro por cima. Nos pés, vale tanto coturno, num visual bem rocker, quanto uma sandália de tiras finas, mais sexy.
Artsy: estampas artesanais e silhueta bem reta entram em cena
Prada spring/summer 2023 (Foto: Getty Images)
Quando se trata de Prada, tudo ganha um componente artístico, e aqui não é diferente. O slip dress mais encorpado e com tingimento dip-dye é perfeito para quem quer aderir à tendência de uma forma mais comportada, bem elegante mesmo.
Campos dos sonhos: romance e delicadeza vivem aqui
Christian Dior spring/summer 2023 (Foto: Getty Images)
A inspiração do desfile da Dior dá a dica: o clima aqui é boudoir do século 16, época de Catarina de Médici, a grande homenageada. Resultado: crinolina e roupas de baixo por todos os lados. Uma alternativa para quem curte um look mais romântico e menos literal – não é um slip dress, mas entra na categoria “roupa para ninguém ver”, que ganha a rua.
Fashion spirit: cor forte, shape inusitado
Loewe spring/summer 2023 (Foto: Getty Images)
Curto e com um antúrio em um dos lados, o slip dress de JW Anderson para a Loewe é sexy e artsy ao mesmo tempo. O tipo de roupa on fire, que chama a atenção em qualquer lugar, e é perfeita para fashionistas.
Minimalismo atualizado: um pouco de sexo é bem-vindo
Givenchy Spring 2023(Foto: Getty Images) / Victoria Beckham spring/summer 2023 (Foto: Getty Images)
Tanto a versão da Givenchy quanto a de Victoria Beckham fazem honra aos anos 1990, com ajustes bem-vindos: as assimetrias que revelam de um lado a lingerie, de outro as pernas, ajudam a equilibrar o visual final entre o sexy e o cool.