K-style: o novo hit da Coreia do Sul

Expert em exportar entretenimento, o país agora chama a atenção pelo estilo elegante, mas descolado, que quase todo habitante parece ter.

Quase um piscar de olhos. Levou uma quantidade similar de tempo para esgotar nos Estados Unidos a coleção-cápsula de Jennie, integrante do Blackpink, com a Calvin Klein. Poucos segundos depois de ir ao ar, em maio deste ano, a página da collab colapsou, retornando em seguida com todos os produtos esgotados. 

Sim, o quarteto de k-pop é um sucesso mundial inegável, com uma base de fãs bastante engajada e reconhecida, aliás, por bater recordes. Jennie, Jisoo, Lisa e Rosé compõem o grupo feminino mais ouvido no mundo atualmente, com o maior número de reproduções no Spotify. Mas existe um segundo fenômeno que talvez ajude a explicar o esgotamento imediato da coleção de roupas assinada por Jennie: o aumento do interesse global pelo jeito de se vestir dos sul-coreanos. 

No TikTok, vídeos com a hashtag #modacoreana contabilizam mais de 100 milhões de visualizações, número que aumenta para 157 milhões quando pesquisado em sua versão abreviada em inglês, o tal da k-style. Em redes de fast fashion asiáticas, como a Shein e a Cider, o termo já virou uma categoria, englobando peças amplamente usadas nas ruas do país. 

Exemplos típicos? A calças sociais de corte reto e as blusas com babados e golas proeminentes. Quer dizer, isso de acordo com os k-dramas, como são chamadas internacionalmente as séries televisivas de lá – hoje, a segunda maior porta de entrada, depois da música, para o guarda-roupa sul-coreano. 

“Às vezes, você vai ao mercado e as pessoas estão lá, fazendo as compras de blazer e camisa.”
Thaís Genaro

“Acho que os k-dramas fazem uma boa representação de como nos vestimos”, afirma a stylist e influencer Nara Kim. Nascida e criada no interior do país, ela vive há alguns anos em Seul. “Eu diria que a maior parte dos sul-coreanos tem um estilo casual, mas arrumado. Não gostamos de extrapolar e nos destacar”, explica.

Para Thaís Genaro, brasileira que também reside na capital da Coreia do Sul, esse último tópico fica explícito na paleta de cores coletiva. “Em geral, eles são muito monocromáticos e não exploram tanto as cores. Ficam mais no preto, branco, cinza e bege, principalmente nas estações frias. No verão, vemos um pouco mais de cor, mas sempre em tons pastel. É difícil ver algo vibrante”, relata.

@nataliaschmitzhau

Lookinho inspirado no mundo do KPOP com a nova coleção de outono da YOUCOM! ✨ Confira as peças de jeans e tendências no site e APP da @lojayoucom #youcom #publi #kpop

♬ som original – nataliaschmitzhaus

Essa permanência no clássico também se traduz na preferência por roupas atemporais, que acabam virando escolhas rotineiras, servindo para qualquer ocasião – mesmo. “Às vezes, você vai ao mercado e as pessoas estão lá, fazendo as compras de blazer e camisa”, comenta Thaís. “Sim, você também vê pessoas de moletom, é claro. Mas normalmente eles são muito elegantes. E acho que esse é o grande apelo.”

O segredo dessa sofisticação quase inerente, que parece ocorrer de forma natural, acontece principalmente pela construção de camadas. “Eles podem estar simples, mas jogam um casacão lindo e diferente por cima. E aí tudo muda”, comenta Natália Schmitizhaus, tiktoker especializada em recriar produções vestidas por personagens de séries sul-coreanas. “Às vezes, debaixo do casaco ainda vai um blazer”, diz ela.

Peças-chave de um k-drama:

1. Colete

colete

2. Sobretudo e casaco

casaco

3. Camisa social oversized

camisa

4. Babados

babado

5. Sobreposição

sobreposicao

No inverno, as (amadas) camisas sociais são complementadas com blusas de gola alta. No verão, roupas com alças finas quase sempre são usadas com uma camiseta cropped por baixo.

Acontece que, para além de estilo e gosto pessoal, mostrar a região dos ombros e do busto não é muito bem aceito por lá, sendo considerado vulgar sobretudo pelas gerações mais velhas. Silhuetas justas raramente são vistas dos pés à cabeça e perdem espaço para as peças oversized. “É comum vermos nas ruas jovens usando camisas largas com jeans largos”, diz o fotógrafo Daniel Luna. Originário da Califórnia, ele vive há dez anos na Coreia do Sul, onde registra o street style da região de Hong-Dae, considerada mais experimental, no perfil Luna Street.

Seja pela preferência às peças “seguras”, que ultrapassam tendências, seja pela preocupação com não enfatizar o corpo, fica nítida a presença de uma aura tradicional – ou até conservadora – no estilo diário dos sul-coreanos. Mas essa característica é muito bem driblada por uma geração cada vez mais atenta e dedicada às novidades da moda. “Aqui, as pessoas fazem fila para comprar um lançamento de tênis. Eles dormem e viram a noite se precisar”, conta Thaís Genaro.  

Hoje, eles são os maiores consumidores de artigos de luxo no mundo.

De acordo com um relatório da CNBC, os gastos dos sul-coreanos com itens de luxo em 2022 totalizaram 16,8 bilhões de dólares, um crescimento de 24% se comparado com o ano anterior. Hoje, eles são os maiores consumidores de artigos do setor no mundo. O gasto anual médio por pessoa é de 365 dólares. Isso é 45 dólares a mais que o consumido por cada estadunidense, o segundo maior público de luxo mundial. Não à toa, a Gucci e a Louis Vuitton sediaram seus desfiles de cruise 2024 em Seul.

Ver essa foto no Instagram

Uma publicação compartilhada por ELLE Brasil (@ellebrasil)

A influência ocidental, nesse sentido, é latente na forma como eles consomem moda e, portanto, se vestem. “Não existem marcas de luxo históricas e antigas da Coreia do Sul. Apesar da expansão da cultura sul-coreana e do alcance de nossos artistas, as celebridades estrangeiras também são grandes referências”, reflete Nara.

Sendo assim, o estilo dos jovens “se expande conforme as tendências globais”. O ballet core e o Y2K, por exemplo, estão entre os movimentos que atualmente fazem sucesso no país.

“Embora se inspirem na moda ocidental, eles não se limitam a uma estética específica. Isso dá origem a perspectivas inovadoras e únicas”, complementa o fotógrafo Daniel Luna. Essa estética visual, resultante da simbiose entre a cultura do país e as referências ocidentais, é percebida no design de marcas menores e mais recentes. “Se você observá-las, logo percebe como elas pautam os desejos e os hábitos do público sul-coreano”, comenta Nara.

Entre os nomes em que vale ficar de olho, Nara e Daniel citam Post Archive Faction, Hyein Seo, WooYoungMi, ADER Error e Cost Per Kilo. Se você, como eu, também é fã do k-style, vale a pena dar um follow agora.