Caixa de Pandora

Slasher, giallo, gótico… No terror, existe um subgênero para todo tipo de gosto (e de medo).

Em 1896, apenas um ano após a invenção do cinematógrafo (um aparato que permitia captar e projetar imagens), Georges Méliès já havia assombrado muita gente com uma história de três minutos chamada A mansão do Diabo. Embora não tenha sido a intenção do diretor fazer um filme de terror, o curta-metragem passou a ser considerado o primeiro do gênero graças ao seu enredo macabro, em que um demônio chamado Mefistófeles invoca criaturas sobrenaturais para importunar dois cavaleiros em um castelo medieval.

Os elementos apresentados na obra, que também incluem fantasmas, efeitos especiais e tradições religiosas para exorcizar demônios, seriam posteriormente copiados e reinterpretados em milhares de outros filmes de terror.

Ao longo do tempo, certos recursos narrativos ganharam nomes e se consolidaram, como o slasher, com seus assassinos que matam jovens indiscriminadamente. O subgênero deu as caras pela primeira vez em O massacre da serra elétrica (1974), se firmou com Halloween ‒ A noite do terror (1978) e continua presente até hoje em franquias como Pânico. Já outros subgêneros passaram a ser criticados ou esquecidos, como o hagsploitation, inaugurado pelo longa O que terá acontecido a Baby Jane? (1962), de Robert Aldrich.

Estrelado por Bette Davis e Joan Crawford, duas veteranas da Era de Ouro de Hollywood, já na casa dos 50 anos de idade, o filme desencadeou uma série de produções em que atrizes mais velhas interpretam papéis de mulheres loucas e perigosas, escancarando o preconceito que sofriam da indústria.

Plural, o horror conta com mais subgêneros do que você imagina. A seguir, conheça os 12 mais famosos e seus principais representantes:

Sobrenatural

Aqui, as forças do além assumem o controle, com casas mal-assombradas, cemitérios, possessões demoníacas e espíritos que voltam para se vingar dos vivos.
Um clássico: O exorcista (1973), de William Friedkin (disponível no Prime Video).
Um exemplo atual: Fale comigo (2023), de Danny Philippou e Michael Philippou (aluguel no Prime Video).

Slasher

O subgênero conta sempre com assassinos, em sua maioria mascarados, matando jovens a torto e a direito e perseguindo mulheres, que passam de mocinhas indefesas a únicas sobreviventes da trama. Freddy Krueger (A hora do pesadelo), Jason Voorhees (Sexta-feira 13), Chucky (Brinquedo assassino) e Michael Myers (Halloween) são alguns dos vilões que estão há décadas morrendo e voltando às telas e se tornaram marcos da cultura pop.
Um clássico: Halloween: a noite do terror (1978), de John Carpenter (Paramount+).
Um exemplo atual: Pânico 6 (2023), de Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillet (Telecine).

Giallo

Facas, nudez e sangue. Popularizado na Itália nas décadas de 1960 e 70, o estilo conta com elementos de mistério, investigação policial e muitas vezes crimes sexuais, tendo os diretores Dario Argento, Lucio Fulci e Mario Bava como os principais representantes.
Um clássico: Prelúdio para matar, de Dario Argento (1975).
Um exemplo atual: Faca no coração (2018), de Yann Gonzalez (Mubi).

Gótico

É fortemente inspirado por obras literárias, principalmente pelos autores Edgar Allan Poe (1809-1849) e Mary Shelley (1797-1851), e quase sempre ambientado na Era Vitoriana e em cenários bucólicos, com casarões antigos e muitas assombrações. Tim Burton e Guillermo Del Toro são dois diretores que seguem explorando o subgênero nos dias atuais.
Um clássico: A lenda do cavaleiro sem cabeça (1999), de Tim Burton (Prime Video).
Um exemplo atual: A colina escarlate (2015), de Guillermo Del Toro (Lionsgate+).

Corporal

O abuso do grotesco, das transformações e das dores infligidas ao corpo humano são essenciais nesse subgênero, difundido pelos diretores David Cronenberg e John Carpenter. Em 2021, a francesa Julia Ducournau se tornou a segunda mulher da história a vencer a Palma de Ouro em Cannes com Titane, um longa sobre uma garota com uma placa de titânio implantada na cabeça, obcecada por carros.
Um clássico: A mosca (1986), de David Cronenberg (Star+).
Um exemplo atual: Possessor (2020), de Brandon Cronenberg (HBO Max).

Cósmico

Um horror difícil de explicar, fora do entendimento humano, com forças e seres cósmicos, desenvolvida com base nos textos do autor Howard Phillips Lovecraft (1890-1937), que passaram a ser descritas como “lovecraftianas”. Na TV, a primeira temporada da série True detective (2014, HBO Max) é um bom exemplo, assim como Lovecraft country (2020, HBO Max), que faz referência direta ao autor.
Um clássico: O enigma de outro mundo (1982), de John Carpenter (aluguel no Prime Video).
Um exemplo atual: O farol (2019), de Robert Eggers (aluguel no YouTube).

Psicológico

Esse subgênero discute o que acontece no mundo e na sociedade, gerando debates sobre os problemas mentais e emocionais que podem nos atormentar bem mais do que os monstros e o desconhecido. Vale olhar para os longas da produtora A24, que aumentou sua fama com filmes de terror que provocam no público boas doses de reflexão.
Um clássico: O silêncio dos inocentes (1991), de Jonathan Demme (Prime Video).
Um exemplo atual: Corra! (2017), de Jordan Peele (Netflix).

Monstros

Vampiros, lobisomens, zumbis e alienígenas se tornaram os principais antagonistas desse subgênero, que entre 1930 e 1950 praticamente dominou as salas de cinema. Na época, a Universal Studios lançou vários filmes sobre essas criaturas, de Frankenstein (1931) a Drácula (1931), populares até hoje.
Um clássico: A noite dos mortos vivos (1968), de George Romero (Telecine).
Um exemplo atual: Ninguém vai te salvar (2023), de Brian Duffield (Star+).

Found footage

Filmagens encontradas e imagens de câmeras de segurança com doses de terror. Supostamente inspiradas em acontecimentos reais, essas histórias ficaram populares a partir de 1999, com o filme A bruxa de Blair, sobre três estudantes que desapareceram em uma floresta e têm suas gravações recuperadas um ano depois.
Um clássico: A bruxa de Blair (1999), de Eduardo Sánchez e Daniel Myrick (HBO Max).
Um exemplo atual: Creep (2014), de Patrick Brice (Netflix).

Desktop

O terror também chegou a filmes com gravações feitas a partir de telas do computador e do celular. O subgênero, com tramas que se desenrolam em videochamadas ou em redes sociais, cresceu durante a pandemia, quando o mundo inteiro estava isolado dentro de casa e se comunicando por meio de smartphones.
Um clássico: Amizade desfeita (2014), de Levan Gabriadze (aluguel no YouTube).
Um exemplo atual: Cuidado com quem chama (2020), de Rob Savage (aluguel na Apple TV+).

Gore

Tripas à mostra e muitos litros de sangue. Esses filmes investem em efeitos de filmagem ou de computador para criar a melhor (ou a mais nojenta) representação gráfica da violência.
Um clássico: Uma noite alucinante: a morte do demônio (1981), de Sam Raimi (HBO Max).
Um exemplo atual: Jogos Mortais 10 (2023), de Kevin Greutert (em cartaz nos cinemas).

Folclórico

Comunidades isoladas do resto do mundo, religiões pagãs, forças da natureza e sacrifícios humanos dão o tom a esse subgênero. Nem sempre o mal acontece à noite ou nos centros urbanos.
Um clássico: O homem de palha (1973), de Robin Hardy (Prime Video).
Um exemplo atual: Midsommar ‒ O mal não espera a noite (2019), de Ari Aster (Telecine).