Carta da editora

Afinal, o que querem os homens?

Renata Piza 1

 

Esta é a primeira ELLE View masculina. E, falando assim, soa até engraçado, porque a gente espera o dia em que questões de gênero não sejam mais questões. Mas eis que em 2024, a gente ainda divide o mundo, ainda tenta entender as pessoas assim: pelo gênero. Portanto, nesta edição paramos para refletir sobre o “avesso” da pergunta que Sigmund Freud, o pai da psicanálise, fez lá atrás, no século 19: “Afinal, o que querem as mulheres?” E, longe da pretensão de dar respostas, levantamos algumas questões na tentativa de elucidar um pouquinho que seja o mundo masculino contemporâneo. Um mundo complexo, onde alguns homens estão se desconstruindo, se redescobrindo, outros já nascendo com um pensamento menos binário, enquanto alguns andam mesmo de marcha-ré, retrocedendo. Tudo agora e ao mesmo tempo.

O que pude aprender com o timaço de jornalistas e colunistas que fez esta revista é o seguinte: tem homens como L7nnon, nossa capa, rapper autodeclarado homem em desconstrução, tentando sair da armadilha da construção social feita a partir de uma visão eurocentrista e patriarcal. Um homem que aprendeu a ver beleza em si mesmo, a entender que dá pra fazer música de amor e circular pelo underground, e que tudo bem ir ao terapeuta. “Eu achava bobeira ir ao psicólogo. Hoje, sei a importância que esse profissional tem na vida das pessoas”, diz ele em Livre de rótulos, diferente dos demais.

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L7nnon Foto: Bob Wolfenson

Tem homens-vanguarda, “quero vê-la sorrir, quero vê-la cantar”, como Sidney Magal, O último romântico. Eternamente rebolando e sabendo que isso não tem nada a ver com sexualidade. E, se tiver também, quem se importa?

Tem homens se descobrindo e se expandindo pelo mundo via maquiagem – oi, Cris Wrasse, que vrá a sua trajetória! Homens aprendendo a dar risada da calvície, aprendendo a usar rosa sem fazer piadinha (inspire-se no report feito pela editora Chantal Sordi), percebendo que os emos (e sua sensibilidade) nunca erraram. E, claro, tem homem empacado em uma mentalidade difícil de explicar, impossível de entender.

Em O machismo está on, por exemplo, mostramos como a mesma internet, que proporciona debates enriquecedores, conteúdos e revistas digitais (<3), pode ser também terra de red pill e ódio. E numa reportagem interessantíssima (e preocupante), a jornalista Carol Vasone conta que tem muito jovem GenZ andando pra trás, menino de 20 com alma da face mais repressora do século passado. Credo!

 

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Zegna, inverno 2024. Foto: Getty Images

Aproveito esta edição para agradecer aos homens com os quais convivo e me enchem de esperança de que tudo isso um dia vai passar, tipo na música do Chico! Começando pelos da nossa redação: Gabi, obrigada por ser esse potinho de delicadeza e talento (vai lá ouvir ele no podcast do Clodovil, vai), Pedro, obrigada, por sinalizar quando erro (sim, ele faz caras e bocas, deixa às caras mesmo!), Luigi, obrigada por me brindar com textos de moda que contêm filosofia, Lucas, obrigada por ser sempre tão gentil, tão querido, tão “quero te levar pra casa”, Gus, obrigada por duplar comigo, ser meu parça, além de diretor de arte incrível, Fê, obrigada por transformar ideia em ação, página estática em html e ter o tom de voz mais tranquilo, apaziguador, Paulo, obrigada por não nos deixar matar a língua mãe e passar vergonha, Thi e Di, obrigada por todos os corres e risadas. E muito obrigada, Bernardo, meu filho, por fazer bolo e pão, tentar me ensinar matemática e física e, principalmente, por acreditar que que todo mundo tem que ser o que quiser, desde que seja ético.

Um beijo e até a próxima!
Re Piza