Oficialmente, são 32 as modalidades em disputa nos Jogos de Paris. Mas, a julgar pelo histórico do torneio, dentro da Vila Olímpica, outra atividade que não rende medalhas deve estar em alta durante todos os dias da competição: o sexo.
Não é difícil imaginar o porquê da libido lá em cima: este ano, por exemplo, vão circular pelo local cerca de 10,5 mil atletas de elite de vários países, no auge de seu preparo físico e excitados. Primeiro, com a competição e com a oportunidade de estar entre os melhores do mundo e, ao final dela, com motivos para festejar ou afogar as mágoas. Isso sem contar as equipes que os acompanham nas delegações.
Não à toa, já virou tradição a divulgação do número de preservativos distribuídos a cada edição. Em 2024, serão 300 mil, segundo Laurent Michaud, diretor da Vila Olímpica de Paris. Em 2021, em Tóquio, em meio à pandemia de coronavírus, o número foi reduzido para 150 mil.
No Japão, geraram polêmica as chamadas camas “antisexo” encomendadas para os atletas. Feitas de papelão, teoricamente não suportariam o peso de mais de uma pessoa, desencorajando, assim, contatos mais próximos, embora o fabricante afirmasse que as camas podiam aguentar até 200 kg. Vale o parêntese: a fama que os Jogos Olímpicos carregam é de que muitos encontros nos quartos costumam reunir mais de duas pessoas.
“Tudo que você imagina tem ali dentro. A Vila Olímpica é a perdição do atleta.”
Hortência
O ginasta irlandês Rhys Mcclenaghan, na época, fez um vídeo pulando na cama para provar que a cama suportava o peso. No X (até então, Twitter), o perfil oficial dos Jogos Olímpicos o retuitou, reforçando que as camas são resistentes, em tom bem-humorado. Assim, testadas e aprovadas inclusive em manobras mais ousadas, devem dar conta de quem chegar à Vila Olímpica de Paris no clima de “saudade do que a gente não viveu” em Tóquio – onde o contato físico era desencorajado por causa da pandemia –, já que a mesma fabricante foi encarregada de fornecer os 16 mil leitos recicláveis que estarão nos alojamentos.
Questionado pela ELLE sobre eventuais recomendações específicas aos atletas brasileiros sobre o sexo durante a competição e sua influência no desempenho dos esportistas, além da distribuição de preservativos pelo COI (Comitê Olímpico Internacional), o COB (Comitê Olímpico do Brasil) diz se focar apenas na performance esportiva deles.
Recorde de match
Se oficialmente não há um protocolo sobre o tema, não faltam relatos de ex-atletas ao redor do mundo contando as próprias experiências ou as alheias. Além, é claro, dos depoimentos de quem trabalhou na organização de edições anteriores do evento. “O clima é de pegação geral, embora alguns façam as coisas mais na surdina, porque também tem muita gente que não é atleta e está trabalhando no evento”, contou à ELLE uma pessoa que trabalhou na organização dos Jogos do Rio, em 2016.
Já é tradição também, desde o surgimento dos aplicativos de paquera, que durante o período olímpico seja comum dar match a quem está circulando na região da Vila Olímpica, o que inclui atletas. Em 2012, o Grindr, uma ferramenta voltada para homossexuais, chegou a travar quando as equipes começaram a chegar para a Olimpíada de Londres. Em 2016, o Tinder anunciou que os matches subiram 129% no raio dos alojamentos e divulgou até um ranking das modalidades esportivas que mais fizeram sucesso no app. Animados, mas disciplinados: segundo os relatos, os atletas, em geral, não participam de festinhas com álcool nas vésperas das competições e costumam esperar para liberar a endorfina depois de encerrar suas provas.
Clima de Carnaval
Os Jogos do Rio, em 2016, bateram o recorde em distribuição de preservativos – 450 mil – e, segundo a ELLE apurou, foram medalha de ouro também no quesito farra. “O Parque Olímpico inteiro era uma festa, meio Carnaval. E tinha a hospitalidade do brasileiro. Então, é a Olimpíada que as pessoas que trabalharam em várias edições contam ter sido a mais animada, sim, inclusive no aspecto do sexo e das festinhas”, revelou outra pessoa que esteve na produção. “Os preservativos ficavam no posto médico. As pessoas pegavam de mão cheia, zero constrangimento.” O COI não fornece álcool na Vila Olímpica, mas há relatos de que bebidas eventualmente chegam aos dormitórios. Na edição carioca, patrocinada por uma marca de cerveja, um atleta jamaicano deixou para trás em seu alojamento quatro garrafas de uísque lacradas e seis vazias. Boatos dão conta também de que o excesso de preservativos acabou por entupir o encanamento na Vila.
Virou notícia, na época, a briga entre Ingrid Oliveira e Giovanna Pedroso, dupla brasileira do salto ornamental. A primeira levou Pepê Gonçalves, da canoagem slalom, para o dormitório que dividia com a segunda, que se incomodou. O episódio provocou o fim da parceria, hoje retomada, e a fofoca levou o nome de Ingrid às manchetes dos jornais. Oito anos após a tormenta, que incluiu ofensas e reportagens machistas, em que só a mulher (e não o homem) é criticada, a atleta está classificada para Paris na plataforma individual.
Se na Vila Olímpica as festinhas precisam ocorrer de maneira mais discreta e íntima, sob o risco de serem encerradas pelo COI, os eventos organizados pelos atletas em outros espaços não deixam a desejar na pegação, como o que contou com várias equipes de natação em um famoso hotel do Rio. Na mesma edição, ficou conhecida a mentira que o nadador Ryan Lochte contou. O atleta, que havia deixado a namorada nos Estados Unidos, foi a uma festa na Casa França-Brasil, no Centro Histórico do Rio de Janeiro, com quatro colegas da equipe. Bebeu, ficou com uma garota e, no trajeto de volta para o alojamento, arrumou confusão em um posto de gasolina, mas disse à mãe que havia sido roubado por falsos policiais. Ela vazou a história para a imprensa estadunidense, e o nadador até tentou sustentar a farsa do assalto, mas ele e os colegas logo caíram em contradição. Na época, a Polícia Civil chegou a entrar na Vila Olímpica para apreender os passaportes dos esportistas até que se apurasse melhor o caso, mas não os encontrou. Alguns dias depois, ele se retratou pela história em suas redes sociais. Em 2020, ao lançar um documentário, referiu-se ao episódio: “Fui idiota”.
Maratona de sexo
A fama que os Jogos Olímpicos têm de ambiente de pegação não é recente. Em 2008, o ex-tenista Matthew Syed revelou ao The New York Times ter feito mais sexo nas Olimpíadas de Barcelona, em 1992, quando tinha 21 anos, do que em toda a sua vida até então. “Muitas vezes, me perguntam se a Vila Olímpica é o festival de sexo que dizem ser. Minha resposta é sempre a mesma: está muito certo”, disse ele na ocasião.
Medalha de ouro com a seleção estadunidense de futebol em 2008 (Pequim) e 2012 (Londres), a goleira Hope Solo contou à ESPN dos EUA que “rola muito sexo” no evento e que chegou a ver gente transando ao ar livre. Londres teria sido também o cenário de uma festinha, largamente noticiada pela imprensa mundo afora, do velocista jamaicano Usain Bolt com três jogadoras da seleção de handebol sueca, em seu quarto, para comemorar a medalha de ouro nos 100 m. Ficou conhecida também a história que Josh Lakatos, da equipe de tiro ao alvo dos EUA, contou à mesma ESPN sobre a sua passagem pela Olimpíada de Sidney (2000). Ao final da competição, ele se recusou a sair da casa que estava ocupando na Vila, sabendo por sua experiência anterior, em Atlanta (1996), que nos dias seguintes o clima de festa tomaria conta do local. Com as chaves da casa em mãos, ele viu atletas se revezando nos quartos. “Me senti administrando um bordel. Nunca vi tanta devassidão na minha vida”, contou.
Entre os brasileiros, Paulo André, do atletismo, que esteve em Tóquio, disse durante sua passagem pelo Big Brother Brasil, em 2022, sem entrar em muitos detalhes, que “rola zoeira” quando os atletas param de competir. A ex-jogadora de basquete Hortência já havia confirmado, em 2015, em entrevista ao Fantástico, que, apesar de estar casada em suas duas passagens pelas Olimpíadas, sabia de muitas histórias de aventuras sexuais. “Tudo que você imagina tem ali dentro. A Vila Olímpica é a perdição do atleta.” Com cada competidor tendo à sua disposição mais de 28 camisinhas por dia em Paris, novas histórias de estripulias olímpicas não devem faltar.