Carta da editora

“Music makes people come together”

Carta da Editora Avatar Renata

A música reúne a galera, como bem coloca Madonna, a maior popstar da terra. (Não é que rimou?) E nesta edição, dedicada às mulheres na música, uma tradição na ELLE View, desde 2020, resolvemos levar a ideia ao pé da letra e criar uma capa conjunta, um pôster, que reúne três vozes potentes e ascendentes do rap feminino brasileiro: Duquesa, Julia Costa e Ebony.

Além da profissão e do sucesso que veem alcançando, elas comungam um altíssimo senso estético – Julia tem até marca de moda, Duquesa cursou faculdade de publicidade e Ebony foi capaz de fazer garotos feios parecerem uma ótima ideia, com direito a baby tee e tudo – e a vontade de mudar a cena do rap nacional, predominantemente masculina ainda.

Pra isso, soltam o verbo, desafiam. “Indico sair da frente ou você vai ser amassado/ eu acabei de fazer 20 e o meu show já tá lotado/ a sua irmã me ama, a sua mina me escuta /não indico cutucar a onça com essa vara curta”, canta Ebony numa diss em que cita vários rappers e que ganhou o coração da internet. “A gente não está no rolê de ‘preciso fazer rap para agradar os homens do rap’. A gente está no rolê de ‘estou no rap agradando ao meu público feminino, que é tão forte quanto o dos caras’”, diz Duquesa em entrevista a Marina Santa Clara, nossa colaboradora que entende tudo de música e assina nesta View também os perfis de Julia Costa e Fernanda Abreu.

Com fotos de Ivan Erick, styling de Sam Tavares, beleza de Helder Rodrigues e direção de arte de Gustavo Balducci, Julia, Ebony e Duquesa encarnam Gangstars (sim, a mistura da estética gângster e de superstars), em um editorial que remete ao Brooklyn dos anos 1980/90, quando o rap começou a inundar as ruas nova-iorquinas e transformar não só a trilha dos rádios, como também o nosso guarda-roupa, o nosso make, as nossas vidas. (Impossível não pensar no quanto o rap e o hip-hop influenciaram até as marcas de luxo.)

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Ebony, Duquesa e Julia Costa. Foto: Ivan Erick

“A sua irmã me ama, a sua mina me escuta, não indico cutucar a onça com essa vara curta.”

Música é mesmo o tipo de coisa que extrapola (e muito) palcos e vai criando tribos, comportamentos, gírias, desejos, estilos de vida. Em Som (no) nécessaire, a repórter Chames Oliveira mostra como diferentes ritmos, por exemplo, desaguaram em diferentes tendências de beauté: os maxicílios de boneca devem muito ao country atual, capitaneado por Beyoncé, a pele inteiramente iluminada é mérito  do K-pop, as sombras escuras e manchadas derivam do hyperpop, por onde trafegam algumas das garotas mais legais do momento, vide Charli XCX – clique em O retorno das party girls e entenda de vez o fenômeno Brat, se é que você conseguiu passar incólume por ele.

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Viva o rock

E o rock, hein? Será que ele envelheceu? Gênero que aflorou com a própria ideia de juventude, nas décadas de 1950/60, e que por muito tempo foi atrelado à transgressão e rebeldia, o rock’n’roll parece ter perdido a forma – ou, pelo menos, o topo das paradas nas plataformas de áudio. “Para quem espera que o rock seja música feita com guitarra, baixo, bateria e vocal, talvez não haja muitas coisas novas e interessantes para ouvir”, sentencia o jornalista Thiago Ney. Mas, antes de decretar sua aposentadoria, leia a matéria, uma das pautas mais debatidas por aqui – prova de que divide opiniões acaloradas.

Do rock pro pop, porém, não resta dúvida: há efervescência de sobra. E quem tá mandando nessa seara, que delícia, são as mulheres. Não só. São mulheres lésbicas e bissexuais, como explica a repórter Lelê Santhana em Ser uma mulher sáfica sempre foi legal. Agora a cultura entendeu isso. Obrigada, Billie, Chapell Roan e cia. ❤️

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Chapell Roan. Foto: Reprodução Instagram

E mais: nesta edição som e fúria, Tati Quebra Barraco e Marisa Monte, você se diverte com os contos de Roberta D’Albuquerque, regados, claro, à música, descobre como funciona uma fanbase e entende com Claudia Assef, cocuradora do Women’s Music Event, como anda a presença feminina no mercado. Spoiler: é preciso ouvir mais mulheres, bem mais. Atualmente, só 10% do dinheiro arrecadado com direitos autorais no país vai para elas. 

Que a gente ajude a mudar essa história.
Toca, Duquesa!  

Um beijo e até mês que vem,
Renata Piza