No café da produtora

– Parece que chamaram um diretor novo pros realities.

– E é? Presta?

– Disse que vai fazer todos os programas virarem moda. Sei não se presta. 

– E tão trabalhando no quê? Título novo, é?

– Nada. A encomenda é inovar os que já tem. 

– Inovar em reality? Sei lá…

– Inovar e colocar na boca do povo. Na boca do povo cool, parece que ele disse assim na reunião de apresentação. Já pensou no Casamento às Cegas versão povo cool?

– Minha nossa senhora, o cara quer piorar o que já não presta.

– E dá pra ficar pior do que o que já é? – riram de cabeça pra trás, concordando que não, não dá.

Sabe o quê? Dá. Sempre dá.

Casamento às Cegas Celebridades 

Aquilo lá, encontros rápidos em cabininhas, cada um na sua, ninguém se vê. Às vezes um gosta de duas, dois gostam de uma, tem que decidir. Até que a dupla se apaixona e alguém pede alguém em casamento. Trocam alianças e se veem pela primeira vez, aí passam a semana de lua de mel viajando, moram juntos por três semanas e depois se encontram no altar para responder à pergunta: o amor é mesmo cego? Na versão famosos, tem só duas coisinhas diferentes, alteração de voz e a proibição de dizer o que se faz da vida.

Foi Christian Dunker o primeiro a receber mensagem da produção de elenco. Fez uma exigenciazinha aqui outra ali quanto ao figurino, tem gostado de camisa estampada aberta com camiseta dentro, sabe? Uma coisa assim meio descontraída. “Mas não pode falar nada de Lacan mesmo? Nadinha?” O produtor que nunca ouviu um episódio do podcast da Tati Bernardi – meio entediado, meio preocupado com o programa – fez que se interessava minimamente por Lacan. “Eu sei que é difícil, mas, sim, nadinha”. Tati Bernardi também foi convidada, mas negou. No lugar chamaram a Natália Pasternak. Mas ela não é casada? E a Márcia Sensitiva? O nome mais discutido foi o do Marlene Mattos. Preferiram não. Mas fecharam outros maiorezinhos também, Ana Maria Braga, Marcio Canuto, Milton Cunha, o carnavalesco, sabe? O primeiro triângulo amoroso foi formado por Temer, Sula Miranda e Andréa Sorvetão. Ambas amam poesia, mas nenhuma das duas curtiu o Carpinejar. 

Big Brother TikTokers

Os 20 maiores TikTokers do Brasil são confinados em uma casa por três meses, sem música, sem internet e, o melhor, zero câmeras. Não precisa de paredão nem de líder, não passa em canal nenhum, eles ficam só quietinhos lá, lavando roupa, cozinhando e deixando a galera aqui fora descansar. “Gosta?” “Mais ou menos.”

E O Aprendiz Coaches Empreendedores?

Contratados em regime CLT, coaches empreendedores trabalham oito horas por dia, batendo ponto de segunda a sexta. Quem pensar fora da caixa ou vestir a camisa da empresa é eliminado. O último que ficar ganha férias remuneradas a serem negociadas com o gestor. Nem pensar em 30 dias corridos. “Opa, agora!”

A Fazenda Pets de apartamento 

Passando a água, ração seca de supermercado e uma bolinha só pra 15, buldogues ingleses e franceses, chihuahuas, samoiedas e lulus-da-pomerânia ostentam o figurino da rede Record de televisão, enquanto são testados em tarefas típicas do meio rural. É. Carrapato e patinha na lama, sim, senhor. Sem banho no pet shop, isolados do mundo exterior, dos meios de comunicação de massa, das massagens, das caminhas e lençóis de fios egípcios, dos tutores e dos biscoitos orgânicos, são seguidos pelas câmeras 24 horas por dia. Abrem mão da privacidade por três meses e precisam se provar estratégicos o bastante para aguentar as armadilhas de um confinamento. Bobeou, é roça. Punk.

De Férias com o Ex Brasília

Aldo Rebelo escuta de cabeça baixa os amigos que insistem em consolá-lo. Chegou ontem à ilha e não foi bem recebido por nenhum dos seus ex. Tem que ser forte pra aguentar isso aqui, Jair repete enquanto jura não ser imaturo caso a produção mande para ele uma figura do passado. O grupo tenta impedir as lágrimas de molharem ainda mais o bigode de Aldo. O chorão, Jair, uns outros dois tronchos, todo mundo de drinque na mão e bucho quebrando na sunga. Mas sabe, Aldinho, o programa é isso mesmo – ele continua -, deixa eu ler o que eles explicaram pra gente, vê: solteiros de férias desfrutam do verão numa casa de luxo à procura de amor. A paz é interrompida quando o ex de um dos participantes aparece inesperadamente a cada episódio. Foi ele terminar de dar o texto e a câmera aponta pra praia. Uma lancha se aproxima devagarzinho, salta um moço de peito nu da lancha, nada até a praia. A câmera filma as pernas, a sunga branca, o peito, ele joga o cabelo pro lado, deixa pingar água salgada no corpo, arruma os óculos. Aparece a legenda no canto inferior da tela. Alexandre Frota, PDT. 

Roberta D’Albuquerque é psicanalista e coautora do livro Quem manda aqui sou eu (HarperCollins). Atende no seu consultório em São Paulo e escreve mensalmente neste espaço. Acompanhe em @robertadalbuquerque.