A data era 2 de setembro de 2022, Festival de Veneza. Timothée Chalamet fez uma aparição no tapete vermelho da première de Até os ossos vestindo um look total bordô, com calça sequinha e frente única na parte de cima – costas totalmente à mostra –, arrematado por um lenço do mesmo tecido enrolado no pescoço. O visual assinado por Haider Ackermann foi descrito como o mais ousado de Chalamet até então – foco em “até o momento”, um indicativo importante de que o ator, já considerado o presidente do clube dos fashionistas, poderia vir a atacar novamente.
Naquele mesmo ano, outro ator, Glen Powell, lançava Top Gun: Maverick. No papel coadjuvante de Hangman, ele chamou a atenção do público e da crítica e viu a sua vida profissional mudar: engatou o papel principal na comédia romântica Todos menos você e no sucesso Twister. Fez a festa nos programas de entrevista engraçadinhos, assim como nos tapetes vermelhos, e hoje está em toda a imprensa, principalmente a estadunidense, com seus itens essenciais, seu cachorro, seu treino, seu estilo de vida.
Loirinho, branco, sorridente e com o olhar amigável, o ator, nascido em Austin, capital do Texas, vem construindo uma persona que lembra a dos astros do tempo em que tudo era mais ou menos igual no mundo das celebridades. Aquele em que os homens faziam o tipo másculo, de beleza facilmente reconhecível e porte atlético, e que costumam ser escalados para papéis heroicos (caso de Top Gun: Maverick e Twister) e par romântico que fisga ou é fisgado no fim do filme (caso de Todos menos você).
Recentemente, Powell foi o tema de um artigo do Business of Fashion, veículo que é leitura obrigatória para o mercado de moda e marketing. Segundo a publicação, o protagonista do momento tem um rosto curiosamente familiar. Em tempo: nos Estados Unidos, “por que Glen Powell parece tão familiar?” é uma tendência de busca real no Google.
Não é só uma questão de tipo físico. No que diz respeito ao modo de se vestir, ele realmente é o oposto da turma que tem, além de Chalamet, Jacob Elordi (Euphoria), Donald Glover (Atlanta), Paul Mescal (Aftersun) e Austin Butler (Elvis) entre os integrantes. Seu uniforme é um par de jeans Levi’s vintage de boca reta e com vinco, botas de couro tipo Chelsea, camisa e paletó. Um peito à mostra, de vez em quando, pode até acontecer, mas é só.
“Por que Glen Powell parece tão familiar?” é uma tendência de busca real no Google.
Assim, enquanto Chalamet estrela o filme pra lá de cool da campanha do perfume Bleu de Chanel e Butler veste camisa transparente no anúncio de MYSLF, fragrância da YSL, Powell segue a linha clássica, como garoto-propaganda dos ternos da marca italiana Brioni. “É uma tática simples: uma roupa comum – um terno – usada por uma celebridade que tem poder de persuasão”, aponta a stylist Renata Correa. Ela não enxerga um movimento de “novos velhos galãs” acontecendo – pelo menos, ainda não. “Estados Unidos, Itália e Brasil podem ser mais caretas quando o assunto é moda masculina, mas os ingleses, dinamarqueses e japoneses, por exemplo, não são.”
É verdade. Mas em meio a tantos tipos que poderiam chamar muito mais a atenção, por que um cara como Glen Powell sobressai? Para a pesquisadora de tendências Iza Dezon, duas situações podem explicar o fenômeno. Uma delas é a estética Y2K, que trata da volta do início dos anos 2000 e algo do fim dos anos 1990. Se Powell tivesse feito sucesso nesse período, teria potencial para rivalizar em fama e fortuna com belos como Tom Cruise e Brad Pitt. Outro aspecto a considerar é que essa não é uma “volta”, mas uma aposta no caminho do meio, uma forma de “limpar o paladar”. Enquanto as ousadias de moda agradam os progressistas e a hipervirilidade os conservadores, o tipo de Powell seria uma escolha de marketing certeira. “Ele expressa uma masculinidade fácil de alcançar e manter. O que não acontece com um Harry Styles ou um The Rock”, explica a consultora. O stylist Thiago Ferraz concorda. “Se Timothée Chalamet assusta, Glen Powell equilibra. O mercado precisa dele.”
Quem também entra na lista do tipo tradicional é Jeremy Allen White, protagonista da série O urso. Nada de brilhos e decotes. Ele prefere usar um terno bem cortado nas cerimônias de premiação. E veste uma camiseta como ninguém. Não à toa, já foi escolhido para duas campanhas da Calvin Klein. Com tanquinho e bíceps em dia, o ator aparece no topo de prédios nova-iorquinos exibindo cueca, jeans e t-shirts à moda da casa.
“Se Timothée Chalamet assusta, Glen Powell equilibra. O mercado precisa dele.”
Thiago Ferraz
Apesar de básicas, vale notar que as peças usadas pelos novos queridinhos de Hollywood não são triviais. Eles ostentam grifes e se vestem com a ajuda de stylists famosos. No caso de Powell, quem assina o look é Warren Alfie Baker, responsável por garimpar os jeans vintage com vinco. “São peças fáceis de vestir, porém usadas de forma a criar desejo”, aponta Ferraz. Na imprensa de moda masculina dos EUA, os jeans de Powell foram alçados ao posto de peça-chave. E o vinco se tornou dica de estilo, do tipo “faça você mesmo o vinco nos modelos 501 ou 527 da marca”.
Agora, dito tudo isso, convém considerar que um belo terno, clássico e bem cortado, já não rende mais notícia. Na árdua busca para agradar o algoritmo, as escolhas de moda mais arrojadas serão devidamente entregues e viralizadas nas redes sociais, assim como se tornarão manchete na imprensa. “Ninguém quer ver um carrossel de dez ou mais imagens de homens vestindo apenas ternos bem cortados”, encerra Iza. Nesse ponto, a escola Chalamet de moda & styling é imbatível.