Velho batom colorido

Será mesmo que o Snob voltou? Nosso editor de beleza reflete sobre o suposto comeback do famigerado batom da MAC, que foi hit absoluto na segunda metade dos anos 2000.

Você já deve ter visto pela internet a notícia de que o batom Snob, da MAC, está de volta. De um ponto de vista muito objetivo, sim, ele está. A marca acabou de relançar toda a sua linha de batons matte e, com isso, o tal cor-de-rosa polêmico está disponível para a compra. No entanto, será que ele é realmente uma tendência?

Quando eu joguei “batom Snob” no Google, curiosamente, em vez de cair direto nos links de e-commerce, sempre melhor ranqueados, tive que rolar a página por diferentes matérias de vários sites. Todas – algumas mais, outras menos categoricamente – afirmando o retorno do tal estilo. Achei estranho.

Fui tirar a teima nas redes sociais. Nos perfis das dezenas de influenciadores que sigo no Instagram, por exemplo, notei algumas semelhanças. Primeiro, boa parte dos vídeos que envolviam o MACximal (nome do batom reformulado) na cor Snob era patrocinada pela MAC. Ou seja: publicidade. Nesses casos, a premissa é sempre a mesma: “A internet está surtando com esse batom e eu vou mostrar pra vocês a maneira mais atual de usar o produto” – que, no caso, é contornar a boca com um lápis marrom, esfumar o Snob no centro dos lábios e finalizar com um gloss. 

O resultado, portanto, varia muito: depende do tom de pele do influenciador em questão, do marrom escolhido para fazer o contorno, do quanto se esfuma ou não o Snob no centro… Em todos eles, contudo, o rosa frio aparece meio descaracterizado, muito longe do carimbão, como era usado em seu período de glória. 

@angelic4silv4

SNOB 🩷 @maccosmetics Ib @cris wraase #SNOBsesion #SNOB #batomMAC

♬ som original – Angélica Silva

O rosa frio aparece meio descaracterizado, muito longe do carimbão, como era usado em seu período de glória. 

Ainda assim, falou em Snob nas redes, o engajamento está garantido. As publicações chegam a ter milhares de comentários. Muitos revoltados, é claro, mas engajamento é engajamento… Será?

Corta para a Semana de Moda de Nova York, estamos no desfile de verão 2025 de Sandy Liang. A estilista, conhecida por seu esforço em repensar os códigos da feminilidade, convocou Romy Soleimani para assinar a maquiagem de sua apresentação. A beauty artist, que trabalha regularmente com celebridades como Tracee Ellis Ross e Lily Aldridge, pintou a boca de todas as modelos de rosa frio.

SANDY LIANG DESFILE

Vale dizer: ela não usou exatamente o Snob, mas uma misturinha de dois lip colours da Estée Lauder e um pouco de pigmento branco. Aliás, a proporção entre os elementos variava de modelo a modelo. Ela criava, portanto, um rosa frio personalizado para cada uma das meninas e, vez ou outra, entrava em cena um acabamento metálico. “A maquiagem se combina perfeitamente com os tons de rosa suave das roupas dela e o brilho metálico de uma de suas bolsas icônicas. Esse efeito nos lábios dá um toque futurista, enquanto a pele das bochechas tem um brilho saudável e iluminado”, escreveu Romy no release da apresentação.

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Hoje em dia, o Snob gera estranhamento porque é um nude impossível – um nude que não fica nude em ninguém. Ao mesmo tempo que se aproxima do que seria uma “cor de boca”, ele é azulado demais e acaba cumprindo essa missão somente em meninas muito claras e de contraste muito baixo – leia-se brancas e loiras. Nada democrático. Já como cor-de-rosa, para dar um efeito de cor-de-rosa, boca pink, é cinza demais, “boca” demais… Complicado.

O Snob gera estranhamento porque é um nude impossível – um nude que não fica nude em ninguém.

O desfile de Sandy Liang, portanto, atesta menos o retorno do Snob e mais o talento em colorimetria de Romy, que soube criar o rosa frio ideal para cada modelo, gerando contraste e passando exatamente a mensagem de feminilidade futurista que ela desejava.

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Em resumo, a volta do Snob parece, por enquanto, ter muito mais a ver com uma campanha publicitária bem-sucedida (com a inteligência de surfar no trauma ainda não completamente superado do frisson do batom na segunda metade dos anos 2000) do que com uma tendência ipsis litteris, uma vontade coletiva, um desejo de consumo. O tal espírito do tempo. 

O louco é que em um mundo onde a economia da atenção é um dos maiores e mais valiosos mercados que existem, por causa desse arerê todo na internet, é muito possível que o Snob ganhe alguma tração. Até porque, não posso negar, as tendências para boca andam meio entediantes. A gente ainda está parado no gloss, e a novidade mais quente do momento talvez sejam esses lip combos em tons neutros. 

O fato é que existe uma dinâmica no funcionamento das tendências. Agências especializadas em pesquisas costumam dizer que a cada 20 anos a gente consegue olhar para o passado e se reapaixonar por ele. O hype do Snob ainda não completou esse ciclo, e essa volta dele nas redes sociais tem tido mais a ver com a ojeriza que ele gera (o engajamento costuma ser bem revoltado) do que com a vontade de usá-lo novamente. 

Mas, pode anotar: o Snob vai voltar. Vai voltar como a calça cargo voltou, como a Oakley virou a marca de óculos mais desejada dos últimos anos, como tanta coisa que marcou época volta. Dizer que ele já voltou, porém, me parece algo como forçar a barra.