Mestres do terror

Nomes por trás de filmes como Hereditário, MaXXXine e Boas maneiras, eles remodelaram o gênero nos últimos anos. Conheça o trabalho de Ari Aster, Ti West e Juliana Rojas, entre outros experts em provocar medo.

Muitos fecham os olhos nos filmes de horror. E não apenas no escurinho do cinema. Por causa do preconceito em torno do gênero, algumas pessoas acreditam que longas assustadores são uma forma de arte menor e sem méritos. Ledo engano. Cineastas consagrados e respeitados, como Francis Ford Coppola, Kathryn Bigelow, Oliver Stone, James Cameron, Peter Jackson e tantos outros, começaram a carreira trabalhando em produções de terror. Como esses longas são baratos e com poucas amarras criativas, servem de incubadores suculentos para jovens diretores ambiciosos e talentosos. E isso não mudou.

Nos últimos dez anos, vários novos diretores e diretoras surgiram, deixando suas marcas no gênero. Separamos alguns que chamaram a atenção recentemente, seja nos corredores milionários de Hollywood, seja na difícil cena brasileira.

juliana rojas


Juliana Rojas

A cineasta paulista, de 43 anos, entrou no horror com uma voz original, sensível e ousada. Não foi fácil. Quando lançou Trabalhar cansa (2011), ao lado do parceiro Marco Dutra, o cinema brasileiro desse gênero era visto com desconfiança, ainda mais em um cenário dominado por homens. Não mudou muito. Mas Rojas se manteve firme, com sua mistura de drama social e pitadas de sobrenatural. Na verdade, ela dobrou a aposta no premiado As boas maneiras (2017), ao fazer com Dutra um filme de monstros para tratar da complexa relação trabalhista entre mulheres de elite e suas babás. Marjorie Estiano brilha como uma grávida com um segredo sinistro que afeta a enfermeira, interpretada por Isabél Zuaa, de uma maneira fantástica. Voando solo, a diretora e roteirista continua sendo uma das vozes mais originais da arte no Brasil com o recente Cidade; campo (2024), longa com Bruna Linzmeyer que traz duas histórias interligadas, que tratam sobre capitalismo extremo, natureza e fantasmas que rondam certos traumas. O filme deu a Rojas o prêmio de melhor direção na mostra Encounters, do Festival de Berlim.

James Wan


James Wan

Apesar de ter apenas 47 anos, o cineasta, nascido na Malásia e criado na Austrália (o único, além de Rojas, a furar o domínio de diretores estadunidenses dessa lista), já possui quatro franquias hollywoodianas nas costas. A primeira delas foi Jogos mortais, na qual  transformou um filme de cerca de 2 milhões de dólares em sucesso global, com mais de 100 milhões de dólares de bilheteria – e que gerou mais dez filmes, série de TV e quadrinhos em duas décadas. Após se reafirmar com Sobrenatural (2010), uma saga de terror demoníaca que se expandiu para mais quatro longas, Wan revolucionou novamente o terror moderno com Invocação do mal (2013). O filme, baseado nas histórias dos investigadores reais de eventos paranormais Ed e Lorraine Warren, vividos por Patrick Wilson e Vera Farmiga, se tornou um fenômeno estrondoso tanto entre críticos quanto nas bilheterias, dando início à franquia mais rentável de terror da história do cinema. O poder de Wan ficou tão grande que a Warner lhe confiou a adaptação de Aquaman (2018). Considerado por muitos como uma piada dos quadrinhos, o personagem aquático foi para os cinemas com Jason Momoa no papel-título e faturou inesperadamente 1,1 bilhão de dólares. O próximo desafio do diretor é convencer o estúdio a investir no terror celestial O chamado de Cthulhu, baseado na obra clássica de H. P. Lovecraft.

Robert Eggers


Robert Eggers

O cineasta, de 41 anos, é um dos principais representantes do chamado “pós-horror”, um subgênero que não se interessa simplesmente pelo susto, mas pelo pavor das suas entrelinhas intelectuais. Foi assim na sua estreia, com A bruxa (2015), um filme intenso, produzido pela brasileira RT Features, que revelou Anya Taylor-Joy para Hollywood. Com uma recriação mais do que fiel do modo de vida, costumes e jeito de falar dos EUA do século 17, o longa acompanha uma família banida da sua comunidade que perde um filho por causa de uma suposta bruxa que vive na floresta ao redor da sua fazenda. Interessado em atmosfera, antigas lendas e paranoias, Eggers bebeu em Edgar Allan Poe para compor o seu O farol (2019), com Willem Dafoe e Robert Pattinson, filmado em preto e branco. Apesar de ter dado um tempo no terror com o violento O homem do norte (2022), o diretor está prestes a lançar sua versão de Nosferatu, um dos grandes clássicos do terror vampiresco, com um elenco que inclui Dafoe, Nicholas Hoult, Emma Corrin e Lily-Rose Depp.

Jordan Peele


Jordan Peele

Famoso pelo seu trabalho como comediante em programas humorísticos, como Mad TV e Key & Peele, o diretor, de 45 anos, transformou o cinema de horror moderno com Corra! (2017), sua estreia à frente de um longa-metragem. A história sobre um homem negro (Daniel Kaluuya) que descobre um segredo sinistro ao viajar para conhecer os pais da sua namorada branca (Allison Williams) mostrou um novo caminho para o terror social. Peel provou que misturar trama antirracista e fantasia pode ser um sucesso de bilheteria (o filme rendeu mais de 250 milhões de dólares) e de prêmios (o diretor venceu o Oscar de melhor roteiro). Ele continuou brincando com a gramática do horror no intenso Nós (2019) e Não! Não olhe (2022) e fundou sua produtora, a Monkeypaw, bancando longas como A lenda de Candyman (2021) e Wendell & Wild (2002), uma animação que mistura terror e comédia – Wild tem a voz do próprio Peele. Em menos de uma década, seu nome virou uma referência para produções inteligentes, estranhas e tensas.

Ari Aster copy


Ari Aster

Apesar de ter aparecido para o mundo somente há seis anos, Aster se tornou extremamente influente no cinema. Em Hereditário (2018), ele mostrou que a obsessão por detalhes de rituais reais combinava perfeitamente com a fome do espectador por um horror mais cerebral, com bases folclóricas e repleto de camadas. Depois de faturar 80 milhões de dólares nas bilheterias, contra um orçamento de apenas 10 milhões, o cineasta, de 38 anos, foi ainda mais radical em Midsommar – O mal não espera a noite (2019), transformando Florence Pugh numa estrela e alimentando memes nas redes sociais com uma mistura de horror e drama sobre perdas.
 

Ti West

Ti West

Entre os novos nomes, o diretor, de 43 anos, é o mais fiel às raízes sanguinolentas do terror. Apesar de seguir a cartilha de mensagens mais profundas nos seus longas, West não se intimida ao banhar suas tramas com tripas, cabeças decepadas, sangue e psicose. Seu estilo, extremamente visual, alcançou o auge com a trilogia X, estrelada por Mia Goth, inglesa neta da atriz brasileira Maria Gladys. Esse trio de longas, formado por X (2022), Pearl (2022) e MaXXXine (2024), conta a história de Maxine Minx e Pearl (ambas vividas por Goth), duas mulheres em diferentes épocas que fazem de tudo para alcançar a fama, inclusive matar quem cruzar seu caminho. Os filmes ajudaram a transformar Goth numa das novas rainhas do terror: após atuar na trilogia e reescrever Pearl, ela já emplacou Infinity pool (2023), de Brandon Cronenberg (filho do cineasta de A mosca), o novo Frankenstein, de Guillermo Del Toro, e o vampiresco Blade, sua entrada no universo Marvel, com estreias previstas para 2025.