Com o apagar das luzes do Big Brother, a ideia de uma nova casa já entra em cena. Tudo começa com um tema definido pela direção e um conceito que deverá avançar sobre paredes, mobiliário e objetos. A estética – sempre divertida – precisa acomodar marcas parceiras ao lado de dezenas de câmeras.
Quem abraça o desafio, a cada ano, é a equipe de cenografia e de produção, que “mora” no imóvel durante sua construção. Celulares são proibidos entre funcionários e fornecedores (rola até um scanner corporal, como em aeroportos) e todos devem assinar um compromisso de confidencialidade. A regra é clara: nada pode vazar ao público até a estreia da edição.
Um ritual que tem sido acompanhado por mais de 20 anos pela cenógrafa Camila Costa e pelo produtor de arte Luis Fernando Cardoso. Com formação em arquitetura, Camila entrou no BBB em 2003 como assistente e, em 2014, assumiu a titularidade. Luis Fernando veio logo depois: ingressou no programa em 2004, com diplomas de publicidade e ilustração, além de experiência em departamentos de arte.
A dupla presenciou e coordenou as principais viradas de chave na decoração do reality. Nas primeiras edições, a casa tinha a aparência de uma residência de classe média alta, com paleta de cores de tons terrosos e certa sobriedade. Na quarta temporada, os quartos ganharam papéis de paredes coloridos, quase infantis. Nessa época, explica Camila, o programa já estava mais consolidado e era importante que o público reconhecesse o cômodo da casa com apenas um olhar. “Cada ambiente precisava ser muito distinto do outro”, explica Luis Fernando. “Criávamos temas aleatórios para os ambientes, um podia ser um parque de diversões, o outro, uma festa no interior.”
Na 15ª edição, outra mudança. “Surgiu a ideia de ter um tema central, que conduzisse todo o projeto”, relembra Camila. “Começamos a conceituar a casa com esse macrotema, que se desdobra em todos os ambientes.”
“Nunca recebemos uma orientação clara da direção, do tipo ‘vamos fazer a casa bem colorida para irritar bem os brothers.’”
Camila Costa
Ela cita como exemplo o BBB16, com um estilo industrial. Quem se lembra dessa tendência? No BBB, ela foi expressa ao máximo. Foram instaladas tubulações aparentes, os ambientes receberam revestimentos com textura que lembrava contêineres, caixotes funcionavam como gavetas na cozinha e o confessionário – onde participantes fazem votações e desabafos – parecia uma casa de máquinas.
Desde então, a decoração nunca mais passou despercebida e, curiosamente, os brothers passaram também a se envolver com essas temáticas. “Com a Juliette, isso foi muito forte”, lembra Luis Fernando. O quarto Cordel, do BBB21, tinha desenhos com traços de xilogravura e pequenas flores e borboletas feitas de barro, do Vale do Jequitinhonha, penduradas na parede. “Esse quarto era o ambiente com que ela se identificava.”
Ele lembra ainda do BBB11, quando Daniel Rolim cismou com uma das plantas na área externa. Tratava-se de uma palmeira-fênix, que o participante chamava de “coqueiro”. “Ele tinha um apego muito grande, e a gente também, porque aquilo acabou produzindo sequências inacreditáveis no programa.”
Em um desses registros, Daniel agarra as folhagens e começa a dançar. Chovia e ele cantava versos da música O amor e o poder (Como uma deusa/ Você me mantém/ E as coisas que você me diz/ Me levam além).
Décor psicológico?
Afinal, existe alguma intenção maquiavélica por trás do décor? Os dois negam. “Nunca recebemos uma orientação clara da direção, do tipo ‘vamos fazer a casa bem colorida para irritar bem os brothers, para causar isso ou aquilo’”, garante Camila. “O que acaba acontecendo, depois que os participantes começam a se apropriar do tema da casa, é pensarmos num antagonismo, como fizemos no BBB23, com os quartos fundo do mar e deserto.”
E quanto à bagunça nos quartos, sem armários grandes o suficiente para guardar todos os pertences? “A gente vem tentando resolver isso sempre”, diz Luis Fernando. “Esse ano melhorou muito”, prossegue Camila. O caminho foi implementar camas capazes de comportar malas e roupas, uma ideia ventilada há algumas edições, mas deixada de lado devido ao receio de prejudicar a captação de imagens. “Ficamos uns bons dois ou três anos tentando convencer a direção de que as camas baú eram uma solução para a bagunça toda”, afirma a cenografista.
Um momento de preocupação rolou na última edição quando a criadora de conteúdo e então participante Vanessa Lopes mudou de comportamento, parecia ansiosa e chegou a questionar detalhes da decoração. Ela acreditava em mensagens subliminares. Por fim, pediu para deixar o programa. Em entrevista ao Fantástico, a jovem atribuiu a situação a um quadro psicótico agudo, diagnosticado pelo seu psiquiatra. Luis Fernando e Camila confirmam que nunca houve nenhum tipo de mensagem ou charada no décor do BBB. “Precisamos ser muito neutros em tudo que colocamos”, reforça o produtor.
Sobre o BBB25, está tudo em segredo, é claro. Mas, para quebrar o silêncio, Camila responde: “O Big Brother é sobre inovação. É um programa moderno, descontraído e divertido. Sempre buscamos atingir esses objetivos e eu sempre falo que a casa mais bonita é sempre a do ano que está por vir.”