Carta da editora

Renata Piza 1

 

Mulher, substantivo feminino. Ser humano do sexo ou do gênero feminino. Se você der um google, é mais ou menos essa a definição que vai encontrar. Acontece que ser mulher vai bem além do que os dicionários são capazes de sintetizar. E, olha, nem estou me referindo exatamente ao “a gente não nasce mulher, torna-se mulher”, de Simone de Beauvoir, embora ele caiba perfeitamente aqui. O caso é que ser mulher é tão vasto, atlântico, que fica difícil resumir em poucas linhas. Somos filhas, mães, irmãs, amigas, amantes, profissionais, empresárias, corpos sociais e políticos. Somos as gestoras do mundo, incubadoras naturais da vida. Somos multidão, parafraseando Saramago.

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Valentina Sampaio veste look Fernanda Yamamoto. Foto: Henrique Gendre

E neste março, que relembra a luta das que vieram antes de nós (8 de março não nos foi dado de presente), a gente faz uma ELLE View especial, dedicada a mulheres que, além de tudo isso, fazem a roda da moda brasileira girar – historicamente, março também é mês de virada de estação, de revistas incumbidas de contar o que vai nos esperar pelos próximos meses.

Bom, se depender de mulheres como Isa Silva, Mônica Sampaio e Marina Dalgalarrondo, algumas das estilistas representadas no editorial Mulheres s/a, estrelado por Valentina Sampaio, nossa capa, pode dar adeus ao luxo quietinho, que até então vinha dominando as passarelas internacionais, e ser feliz no volume máximo de cores fortes, texturas marcantes, formas esculturais. É um inverno pra chegar chegando, sem pedir licença ou querer se camuflar. 

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A modelo Shirley Mallmann com look Francesca. Foto: Divulgação

Chegar, aliás, como vêm chegando as jovens empresárias mapeadas pela jornalista Rafaela Fleur. Com um recorte de cinco anos para cá, tempo que marca o início da pandemia e também do retorno da ELLE Brasil, Rafa conversou com mulheres que, a despeito das dificuldades, se jogaram na moda quando o mundo fechava as portas, e que começam a colher agora os frutos de tamanha ousadia. “Foi a lágrima mais recente dessa capricorniana”, diz, brincando, Francesca Monfrinatti sobre o fato de Anitta ter usado uma camiseta da sua marca em plena série da Netflix. “Ela usou porque gosta, no documentário dela, para centenas de milhares de pessoas que nem sabem que a gente existe verem”, diz na matéria O futuro é feminino. Ao seu lado, Mica Rocha, Loo Nascimento, Mayara Jungues, Daniela Munira, Marina Patú e Luiza Rosas dividem suas histórias e contam como foi e é abrir uma marca própria, ser dona do próprio nariz. “O conselho que eu daria a qualquer pessoa começando a empreender é o famoso e incansável: esteja preparado para trabalhar todos os dias”, afirma Mica. “Entenda seu público e se foque no seu produto. Produto sempre na frente.” Vale lembrar que 75% dos trabalhadores da indústria têxtil e de confecção são, adivinha só, mulheres.

Moda para ouvir

Outro destaque desta edição vem no formato de podcasts, de que eu, particularmente, sou fã. Ouvir criativos, entender o setor, descobrir fatos que nos trouxeram até aqui são alguns dos motivos que fazem esses programas serem tão especiais. De Fashion neurosis, comandado por Bella Freud, um dos meus favoritos no momento, ao nosso Clodovil do avesso, Carolina Vasone elenca shows e episódios imperdíveis para quem gosta de moda além do closet.

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Kate Moss, em Fashion Neurosis, de Bella Freud. Foto: Divulgação

O que nos leva a outra indagação, elaborada aqui pelo diretor de moda, Luigi Torre: Será que estamos nos vestindo todos iguais?E, se sim, por que exatamente? “O problema não é que estamos vestidos todos iguais. É que estamos sendo alimentados por uma ração sem gosto e nada nutritiva”, dispara ele, antes, claro, de elaborar uma solução. Leia e descubra.

Para terminar, não deixe de conferir as matérias de beleza, que vão além do espelho, como é tradicão por aqui. Da tendência Bombshell, que carrega vieses políticos no mínimo questionáveis, à reposição hormonal, que pode ser fundamental para uma boa qualidade de vida pós-menopausa, passando pelo boom do sex wellness, capitaneado por mulheres, há muita coisa para refletir e, se você assim sentir, colocar em prática.

Um beijo e até a próxima edição,

Rê Piza