“Meu amor, não saio de casa sem eles. Um para a manhã e o outro para a noite. É babado!”, disse a atriz Claudia Raia na Casa de Verão da Eliana – programa especial do canal GNT – sobre seus cremes tópicos de estradiol e progesterona.
Por muito tempo, a reposição hormonal foi um tema polêmico. Em certa medida, na verdade, ele ainda é. No entanto, em um momento no qual a conversa sobre climatério e menopausa – especialmente na cultura pop – está deixando de ser tabu, alguns mitos criados por esse histórico obscurantista também estão começando a cair por terra. “Sou prova viva dos benefícios que a reposição hormonal pode proporcionar. Tenho 58 anos e recuperei minha qualidade de vida depois de iniciar o tratamento”, defende Adriana Ferreira, advogada, idealizadora e presidente da Associação Instituto Menopausa Feliz, de Belo Horizonte. “Luto pela implementação de políticas públicas nesse sentido. A saúde é um direito de todos que está previsto na Constituição.”
Para o começo de conversa
Como o nome já explica, a reposição hormonal é o uso de hormônios para compensar a queda na produção natural pelo corpo, o que geralmente acontece na menopausa. “Quando o ovário entra em falência, ele deixa de produzir os hormônios. Considerando que a mulher vive muito tempo depois da fase reprodutiva, isso tem vários impactos para o organismo não só de sintomas, mas de aumento de riscos e de problemas de saúde em geral. A reposição nada mais é do que uma forma artificial de suprir essa deficiência hormonal”, explica Igor Padovesi, ginecologista autor do livro Menopausa sem medo (Editora Gente, 2025), especialista em menopausa certificado pela North American Menopause Society (Nams) e membro da International Menopause Society (IMS).
“O objetivo é aliviar os sintomas da menopausa: ondas de calor, insônia, aumento de infecções urinárias, ressecamento vaginal, piora de transtornos de humor, aumento de doenças metabólicas (diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares) e perda de massa óssea”, complementa a endocrinologista Alessandra Rascovski, diretora da clínica Atma Soma, em São Paulo. “Vale lembrar que não é obrigatório restaurar os níveis hormonais de antes da menopausa. O ideal é avaliar cada paciente de acordo com os seus sintomas”, diz Caetano Silva Cardial, mastologista e cirurgião oncológico, mestre em ginecologia pela Santa Casa de São Paulo e professor de Ginecologia Oncológica da Faculdade de Medicina ABC.
Ou seja, a reposição não é mandatória, “a não ser em casos de menopausa precoce (antes dos 40 anos), quando ela é altamente recomendada”, alerta Igor – especialmente devido aos riscos de mortalidade por questões cardiovasculares provocadas pela falta prolongada dos hormônios. “Quem tem sintomas leves, por sinal, pode tentar tratamentos alternativos, como os remédios fitoterápicos. Isso sem falar na melhora que acontece ao adequar dieta, exercícios e sono ideais”, indica Alessandra. Ainda assim, mulheres que sofrem com sintomas intensos, como fogachos, insônia severa, perda de libido, ressecamento vaginal incapacitante e alterações de humor mais radicais, podem se beneficiar (e muito) da reposição.
“O ideal é começar a TRH entre os primeiros cinco e dez anos após a chegada da menopausa.”
Alessandra Rascovski
A partir dos 35 anos, quando começam a aparecer os sintomas da transição menopausal, já vale a pena fazer um check-up para entender se a terapia de reposição hormonal faz sentido no seu caso. “O ideal é começar a TRH entre os primeiros cinco e dez anos após a chegada da menopausa. Assim, você consegue aproveitar os seus benefícios sem correr os riscos que, com a idade, vão aparecendo”, sugere Alessandra. “Quanto mais atenta e mais conhecedora de si e de seus sintomas, melhor você vai conseguir lidar com essa fase”, continua. Ainda segundo ela, outro fator importante é o uso do hormônio certo na dose certa – preferindo a via transdérmica (em adesivos ou em gel) para evitar o risco de trombose em mulheres com predisposição.
Pontos de atenção
“Não devem aderir à TRH as pacientes que já apresentaram câncer de mama, principalmente as que têm receptores hormonais presentes (com tumores com crescimento estimulado por estrogênio e progesterona), tumores de endométrio (revestimento interno do útero que pode ser sensível ao estrogênio também) que estejam no estado clínico 2 – ou seja, já invadiram o colo do útero. O mesmo vale para quem tem histórico de trombose venosa profunda (formação de coágulos em veias profundas, geralmente nas pernas) ou de acidente vascular cerebral. Além disso, há alguns tipos de tumores de ovário que também tornam proibitiva a reposição hormonal”, lista Caetano. “Quem apresenta doenças clínicas descompensadas (quando uma doença crônica exige uma intervenção médica, como a doença hepática e renal) também fica de fora da TRH”, adiciona Deborah Beranger, endocrinologista, com pós-graduação em endocrinologia e metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ)
Mas e o risco de câncer de mama? “Estudos sugerem que o risco pode aumentar ligeiramente após cinco anos de uso contínuo da combinação de estrogênio e progesterona. Quando se usa apenas o estrogênio (para quem removeu o útero), ele é menor”, esclarece Alessandra. “Isso segundo estudos realizados há cerca de 20 anos. Os hormônios utilizados desde então mudaram e são mais seguros. O risco, evidentemente, ainda existe, mas depende da predisposição de cada uma. Por isso, as pacientes em uso de reposição hormonal devem fazer um acompanhamento médico e qualquer alteração deve ser avaliada”, contrapõe Caetano.
“Os cuidados são muito importantes – tanto antes quanto durante. É preciso uma avaliação médica completa para começar a TRH, incluindo exames hormonais, mamografia, avaliação de riscos cardiovasculares e de trombose. O acompanhamento regular, por sua vez, deve ocorrer a cada seis ou 12 meses. Assim conseguimos ajustar as doses e monitorar qualquer efeito colateral”, diz Alessandra. Sobre os últimos Deborah elenca: “A reposição hormonal pode causar edema, sensibilidade mamária, retenção de líquido, alterações de humor, enxaqueca, enjoo, dor de cabeça, sangramento vaginal irregular, má digestão, dor no estômago…” Ainda assim, todos os médicos entrevistados são a favor da TRH quando bem indicada. “Se pensarmos entre os riscos e benefícios, a reposição hormonal é muito benéfica para a paciente que precisa dela”, declara Caetano.
O perigo do não tratamento
“Muito se fala sobre os riscos da terapia de reposição hormonal, mas pouco se fala sobre os riscos da menopausa não tratada”, aponta Igor. “Os riscos do tratamento atualmente são extremamente baixos – diferentemente dos riscos do não-tratamento, em que ocorre o oposto. Estamos falando de maior fragilidade óssea – o que te deixa mais vulnerável a fraturas –, aumento da incidência de doenças cardiovasculares, atrofia urogenital, que pode levar à incontinência urinária, e atrofia genital, que pode chegar a impedir a paciente de manter relações sexuais. É preciso sempre manter em mente o preço do não-tratamento, caso essa seja a sua opção.”