On Running e estúdio de mindfulness Open se juntam para movimentar corpo e mente 

Marca esportiva suíça e estúdio estadunidense defendem meditação com respiração guiada para aperfeiçoar prática de exercícios


Foto: Babi Beluco
Foto: Babi Beluco



Estamos em Venice Beach, Los Angeles, e nos sentamos sobre esteiras dispostas na areia. Manoj Dias, que desde 2015 se dedica à prática de meditação com respiração guiada, diz: “Pergunte à pessoa ao lado quando foi a última vez que ela sentiu euforia.” Viro para a moça mais próxima de mim, que traz a memória de quando dançou em uma festa com amigos. Na minha vez, digo à ela que me senti assim em um show recente. “Billie Eilish esteve no Brasil há poucos dias”, explico. 

Manoj então pede para nos deitarmos, fecharmos os olhos e acompanharmos com a respiração o som de uma música. Uma batida de percussão contemporânea, que poderia ser a base de um R&B, dá o compasso. Ela quebra o silêncio, antes só interrompido pelas ondas do mar. Nos tornamos um grupo conectado pelo puxar e soltar do ar nos pulmões. Aos poucos, esquecemos a praia e prestamos atenção em nossos corpos. A voz de Manoj vem junto e pede para lembrarmos de pessoas importantes em nossas vidas. Os olhos estão fechados, mas é fácil perceber que algumas pessoas começam a chorar. 

Já de olhos abertos, depois de aproximadamente meia hora, o condutor da meditação nos faz pensar mais uma vez na palavra euforia. Curiosamente, ela parece se encaixar na sensação que sucede o tal exercício de respiração. Euforia não necessariamente precisa estar conectada à ideia de uma superfesta ou show internacional. Ela também pode ser uma rápida viagem para dentro de si. 

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Grupo reunido para meditação na praia com Manoj Dias Foto: Gisela Saback

Parênteses aqui: é bem verdade que Los Angeles é boa nesse papo de ‘wellness’ e é fácil cair na lábia de uma cidade conhecida por seus smoothies que ajudam a desintoxicar e tem uma queda pelo universo esotérico e pelas conexões espirituais. Mas não é só Manoj Dias e a minha recente experiência que comprovam os benefícios da meditação com foco na respiração. 

Sara Lazar, por exemplo, professora do Departamento de Psiquiatria da Harvard Medical School, garante que oito semanas de meditação mindfulness produzem mudanças estruturais no cérebro, especialmente nas regiões associadas ao estresse. Outros estudos indicam que a respiração profunda não só ativa funções corporais ligadas à calma e relaxamento, como também traz benefícios como o aumento de foco. 

E é aí que entra a marca esportiva On Running. A etiqueta suíça, criada pelo ex-atleta profissional Oliver Bernhard e seus amigos David Allemann e Caspar Coppett, nasceu em 2010 com o objetivo de revolucionar a sensação de correr. Dessa forma, incorporar à rotina de exercício a tal da prática de mindfulness para enriquecer a performance de corredores, fez com que a On viajasse até a Califórnia para entender melhor os efeitos dessa combinação. 

Por isso, no começo de abril, a marca reuniu diversos corredores amadores e profissionais para completar um percurso de aproximadamente 5 quilômetros após a prática de meditação. 

Para a ocasião, todos usaram o tênis Cloudsurfer (à venda desde março no Brasil), que é uma das novidades da On este ano. Com tecnologia CloudTec Phase, ele promove uma aterrissagem macia, ideal para quem gosta de correr tanto em competições como em treinos mais tranquilos. 

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Foto: Reprodução

 

Visto o meu par de Cloudsurfer, mas, uma vez que tenho pouca prática na corrida, aproveito o tempo para conhecer os responsáveis por espalhar a palavra do mindfulness na região. Além de Manoj Dias, um professor natural do Sri Lanka e que morou há mais de 30 anos na Austrália , conheço Raed Khawaja, natural de Chicago, que viveu boa parte da sua vida em São Francisco, e se mudou recentemente para Los Angeles. 

Ambos são cofundadores da Open, estúdio de mindfulness elaborado por Raed desde 2018 e que ganhou ainda mais força com a chegada de Manoj em 2020. A Open nasceu primeiro como um aplicativo via iOS ou navegador de desktop. Desde a última terça-feira (09.05), conta também com seu primeiro ponto físico, no número 57 da Market Street. A dupla afirma que não está longe de abrir novos pontos em Nova York e Miami e que há um grande desejo de chegar a São Paulo.  

Unindo tradição e tecnologia — afinal, técnicas de respiração guiada nos remontam a tradições milenares como a da Ioga — eles trabalham com uma metodologia que junta movimento, respiração e música (nesse quesito, há parcerias com artistas indicados ao Grammy, como Kaytranada, Blood Orange e Partynextdoor). Trata-se de conteúdos diários, alguns ao vivo e outros on demand, ou seja, que podem ser assistidos no horário que se quer, e que “motivam, desafiam e ampliam a jornada física e mental”. 

A ideia ficou ainda mais robusta com a chegada da pandemia. “Foi o grande start, porque já estávamos interessados em fazer com que as pessoas se sentissem no presente, ficassem mais tranquilas e conseguissem se conectar umas com as outras. E no contexto de uma pandemia, onde você não pode se relacionar com quase ninguém, a Open serviu como ótima saída”, afirma Raed. 

E, quem diria, a tecnologia ajudou. “Existe essa confusão, porque as novas tecnologias também são responsáveis por intensificar problemas como a própria ansiedade e o estresse, mas aqui ela vira uma ferramenta para coisas positivas”, explica Manoj, sobre a facilidade do app. “Não é possível nos separarmos das tecnologias, mas podemos abraçá-la de um jeito diferente, na busca de um bem-estar. Às vezes, tudo o que você tem é cinco minutos do seu dia e aí é só abrir o aplicativo e usar esse tempo para uma meditação.”

 

Agora, com o fim oficial da pandemia e com  a possibilidade de voltarmos plenamente à prática esportiva, a meditação com respiração compassada tem sido combinada a exercícios como a corrida para influenciar tanto no relaxamento quanto na performance. “Ouvimos de atletas e amadores que a meditação ajuda a explorar a si e, consequentemente, as relações interpessoais”, diz Raed. 

Em menos de 20 minutos somos interrompidos pelo batalhão de corredores que voltam. Eles estão, sem dúvida, eufóricos e se preparam para uma nova sessão de alongamento com breve meditação no final. “A vida é algo tão bonito. O mundo muitas vezes nos distrai do quanto ela é incrível. E essa prática de parar, fechar os olhos e respirar em conjunto, nos lembra que a vida é um presente”, continua Raed. Lembra também que um exercício pode ir além de um corpo definido. Ele é a possibilidade de um espírito mais tranquilo também.

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