Preparar, apontar, reservar!
Não importa por quais caminhos você vá, a reserva de emergência deve ser sempre o ponto de partida.
O avanço foi tímido, mas confirmou a tendência. Mulheres estão decididas a mudar suas relações com dinheiro, mesmo depois de um ano como 2020. A participação delas entre os investidores na bolsa e no Tesouro Direto cresceu – em ambas as plataformas, a proporção de investidoras nunca foi tão grande, embora ainda seja bem menor que a de homens. Não é possível precisar como elas estão chegando. Podem ser muitos e variados os caminhos que levam para a jornada investidora. Contudo, o ponto de partida quase sempre é o mesmo (ou deveria ser, conforme aponta quem entende do assunto): a reserva de emergência.
“O ideal é começar por ela, que funcionará como o pilar do processo de investimento”, diz Patrícia Goulart, diretora associada de renda fixa do BTG Pactual Digital, que explica o conceito como um montante de capital guardado para que, num momento de necessidade inesperada ou perda de emprego, seja possível manter as contas essenciais em dia por um período de seis a 12 meses. “É literalmente uma reserva que pode dar um conforto numa emergência, sem que seja necessário pedir crédito no banco ou usar o rotativo do cartão, por exemplo”, diz.
Ter uma visão completa e transparente dos gastos é fundamental para definir quanto da renda recorrente será destinada a essa reserva. O passo seguinte é calcular quanto dos provimentos são comprometidos por essas contas e, então, cravar o percentual que será guardado todo mês. “Considero que se sobra de 5% a 10% para reservar já se tem um valor considerável”, aponta Patrícia. “Mas é preciso ser honesta consigo mesma e analisar friamente o que pode ser cortado sem radicalismo.”
O que te motiva?
As despesas rotineiras não precisam e nem sempre são a única motivação para iniciar a reserva. Taciana Fortunati, diretora de filmes e terapeuta cíclica, percebeu a necessidade de se resguardar financeiramente ao se deparar com gastos de saúde imprevistos com seus animais de estimação. Já até pensava em investir, mas carregava algumas crenças comuns a muitas mulheres: “Detestava lidar com números, achava que era coisa de quem já tinha dinheiro, o que considero de certa forma até um resíduo geracional. Afinal, o patrimônio feminino das gerações anteriores era composto basicamente por joias”, reflete.
A visão mudou depois de conversar com duas amigas que já tinham dinheiro em fundos. E o que era um flerte começou a virar caso sério em novembro do ano passado. Apesar de ser autônoma, Taciana conseguiu se manter firme à meta estabelecida. No entanto, mais uma dica de Patricia Goulart é que as metas, mesmo para quem está na fase de acumular a reserva de emergência, sejam revistas eventualmente. “A vida muda, os gastos também. E é fundamental que os objetivos estabelecidos sejam alcançáveis”, analisa a executiva. “Portanto, ainda que seja indicado definir bem as metas e o horizonte de investimentos, é preciso cuidado para não se desmotivar”.
Tentação não é emergência!
Mas e quando surge aquela promoção junto com a vontade incontrolável de usar a grana para uma aquisição que parece oportunidade única? Patrícia afirma que, idealmente, não se deve mexer na reserva a não ser para revisão. Especialista em neurociências e economia comportamental, Ligia Greche Gonçalves alerta: grande parte das boas intenções e mudanças de hábito sobrevivem por pouco tempo. “Por trás desta realidade tão humana, está o fato de nosso cérebro primitivo ser programado para maximizar o prazer imediato, valorizando isso muito mais do que as recompensas futuras”, explica.
Daí a importância de, junto a realismo e equilíbrio, adicionar uma boa dose de disciplina na receita. “Digo que o investimento é meu primeiro boleto a pagar no mês. Porque para outras coisas posso dar um jeito, já minha reserva de futuro preciso garantir agora”, ensina Taciana. Em resumo, a equação que resulta no pontapé inicial deve somar prazo e valor factíveis com renda e estilo de vida para, não importa o que aconteça, você perseverar no objetivo com motivação. “Guardar dinheiro é algo desafiador e é preciso pensar num prazo em que você não se esqueça do porquê e como começou”, orienta Patrícia.
E só então, tendo construído essa base, é hora de estabelecer novos objetivos. A executiva sugere que, por ser um valor que precisa estar disponível numa emergência – a de verdade, não para consumo pontual ou tentação! – melhor que seja aplicada em produtos com liquidez, que permitem o resgate quando necessário. “Vale considerar ainda aqueles fundos que tenham um retorno que cubra ao menos a inflação para ter um ganho real.”, sugere. O que significa também fugir da poupança e começar a se familiarizar com uma quase sopa de letrinhas: o LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e o LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), isentos de imposto de renda, e o CDB (Certificado de Depósito Bancário), por exemplo, são tipos de investimentos em renda fixa considerados ideais para começar.
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