SOS Amazônia joga junto com comunidades em defesa da floresta

A convite da Nike, parceira de projetos da ONG, a reportagem da ELLE Brasil conheceu iniciativas no Acre e no Amazonas, que vêm usando o engajamento do esporte para apoiar o desenvolvimento sustentável na região. Confira nosso diário de viagem!


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CONTEÚDO APRESENTADO POR NIKE

“Futebol é uma ferramenta social, é uma ferramenta que tira muita gente da rua e que alimenta sonhos”, disse Rosana dos Santos Augusto, uma das maiores jogadoras de futebol de todos os tempos, para o documentário Brasil 2002 – Os bastidores do penta. Quando ouvi a frase da jogadora, pensei em todo o trajeto e na experiência que havia acabado de viver na região amazônica. Juntamente com a querida atriz Bruna Linzmeyer, tive o prazer de participar da expedição organizada pela SOS Amazônia e pela Nike, que partiu de Cruzeiro do Sul, no interior do Acre, e foi até Guajará, no Amazonas. Durante quatro dias, conhecemos de perto o trabalho que essa ONG realiza há mais de 30 anos em prol das famílias e comunidades locais.

De volta a São Paulo, fiquei fazendo em minha mente analogias com futebol, que podem até ser meio singelas, mas que me emocionaram. Nenhum craque joga sozinho. Assim como o princípio do futebol é a coletividade, a luta pelo meio ambiente só é possível por meio da união de pessoas de diferentes áreas de atuação. Assim como o futebol vai além dos estádios e contribui para a educação e inclusão de tantos jovens, a conscientização ambiental vai além da mata e transforma a vida de milhares de famílias.

Antes de entrar no relato dessa viagem, vale contar um breve histórico da SOS Amazônia. A ONG foi criada em setembro de 1988, em Rio Branco, no Acre, por professores, estudantes e representantes do movimento social, com objetivo de defender a Floresta Amazônica e apoiar as populações tradicionais. Um desses fundadores era o sindicalista e líder seringueiro Chico Mendes. Por sua atuação em defesa da preservação ambiental, ele ficou internacionalmente conhecido e foi premiado pela ONU – e, pelo mesmo motivo, era alvo constante de ameaças de morte. Em dezembro daquele mesmo ano em que ajudou a fundar a SOS Amazônia, o ambientalista foi assassinado a tiros ao sair de sua casa, em Xapuri. O trabalho da SOS Amazônia, no entanto, continuou e continua a honrar o legado de Chico Mendes na preservação da floresta e da biodiversidade.

Uma das iniciativas mais recentes é o Faça Florescer Floresta, um dos projetos da ONG apoiados pela Nike, que visa recuperar a cobertura vegetal do solo com a implantação de sistemas agroflorestais em áreas desmatadas. Junto da marca esportiva, a organização irá restaurar 200 hectares (uma área equivalente a 200 campos de futebol) por meio do plantio de 400 mil árvores até 2025. Tudo isso com a participação ativa das comunidades locais. “Nós olhamos para as pessoas, porque seguimos o olhar de Chico Mendes. A visão dele era manter a floresta em pé, apoiando as populações que vivem lá, ou seja, sem destruí-la, mas garantindo que também as pessoas pudessem viver com dignidade na floresta”, explica Eliz Tessinari, coordenadora de comunicação na SOS Amazônia.

Essa visão é igualmente compartilhada pela Nike: “Nós queremos contribuir cada vez mais com o futuro do planeta, que também é o futuro do esporte. Nessa jornada entendemos a importância de fortalecer as comunidades locais. Afinal, assim como ocorre no esporte, as conquistas da agenda ambiental precisam se pautar em esforços coletivos e em muito comprometimento”, diz Bruno Teixeira, Gerente Sênior de Propósito da Fisia, distribuidora oficial Nike no Brasil.

Nessa expedição, pudemos acompanhar o trabalho da organização em conexão com as famílias, comunidades e cooperativas beneficiárias de projetos nos municípios de Mâncio Lima e Rodrigues Alves, no Acre, e Guajará, no Amazonas.

Foram dias inesquecíveis e cheios de aprendizado, que relato a seguir.

 

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DIA 1

São Paulo, Brasília, Rio Branco e, enfim, Cruzeiro do Sul. Já era madrugada quando chegamos ao ponto de partida da nossa jornada, depois de cerca de 10 horas, entre voos e escalas. A noite de sono foi curta, mas como o fuso horário do Acre é duas horas mais cedo em relação ao Distrito Federal, ganhamos um tempinho extra de descanso antes de começar o dia.

Logo após o café da manhã, ansiosas e cheias de expectativa, pegamos o carro com a equipe da SOS Amazônia e seguimos para a comunidade Maloca, em Mâncio Lima. Lá, a cerca de 40 km de Cruzeiro do Sul, 15 famílias estão implementando o manejo agroflorestal, transformando um solo que até então estava degradado e sem uso em terras produtivas, em harmonia com a floresta.

O sistema agroflorestal combina numa mesma área árvores nativas e cultivos agrícolas. Cleidiane Santos da Silva e seu companheiro, Amilton Abreu do Nascimento, que nos receberam na Maloca, nos apresentaram, orgulhosos, suas mudas de copaíba, cacau, mogno, ingá, café, andiroba, jatobá, banana e laranja. É o desenvolvimento sustentável na prática, como me explicaria mais tarde a engenheira florestal Elizana Araújo, que atua como assistente de projetos na SOS Amazônia. “Na bandeira do projeto vai o reflorestamento, mas, atrelado a tudo isso, tem o envolvimento das famílias e o empoderamento delas”, explicou Elizana.

O plantio de Cleidiane e Amilton ainda está em estágio inicial, mas, com o passar do tempo, eles poderão usufruir da produção e garantir a renda familiar, além de colaborar diretamente com a questão ambiental.

 

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DIA 2

A manhã já começou com uma aventura: a ida à comunidade Carlota. O local fica dentro dos limites de Cruzeiro do Sul, mas o acesso é por barco – e percorrer os rios, vendo de perto a Floresta Amazônica, é uma experiência que quero repetir muitas e muitas vezes.

Nessa comunidade, às margens do rio Juruá, a SOS Amazônia realiza o projeto Quelônios do Juruá, também apoiado pela Nike, que busca sensibilizar os moradores em relação à importância das tartarugas, tracajás e iaçás da região. Ameaçados por fatores como a caça e pesca predatórias, os quelônios são fundamentais para o equilíbrio dos rios, explicou o biólogo e doutor em Ecologia Luiz Henrique Medeiros Borges, que deu uma aula para as crianças da comunidade no dia da nossa visita. Ao aprender a identificar as espécies, cuidar dos quelônios e entender o papel deles no ecossistema, a comunidade se sente parte do processo e se engaja na proteção dos animais. “A SOS Amazônia parte do princípio de que não dá para fazer a conservação do meio ambiente e da biodiversidade sem as pessoas que moram na floresta. Sem a comunidade, o projeto não aconteceria.”

Os quelônios se alimentam de algas, de folhas de macrófitas (plantas que ficam na superfície da água) e também de matéria orgânica morta, por isso, têm um papel-chave na limpeza dos rios. Luiz diz que eles podem ser considerados os urubus da água. A analogia tem tudo a ver com os conceitos da biologia da conservação, em que ele se baseia: “Todo ser vivo tem seu valor intrínseco. Se você considera que a minha vida é importante e eu considero que a sua vida é importante, as outras espécies do meio ambiente e do ecossistema também são”.

Depois dessa aula sobre biodiversidade, fizemos uma pausa para o almoço na casa de dona Áurea, que prepara um feijão espetacular. Descansadas e muito bem alimentadas, seguimos para a visita na associação AMURALHA (Associação de Mulheres Rurais Unidas por Liberdade, Humanidade e Amor), na comunidade de Nova Cintra, município de Rodrigues Alves.

Formada por 42 mulheres (algumas delas integrantes do projeto de reflorestamento da Nike), a associação está unindo esforços, em parceria com a SOS Amazônia, para fazer decolar a produção e comercialização de sabonetes com ingredientes locais, como copaíba, açaí e andiroba. As dificuldades são muitas, contaram elas, mas a garra é maior: as mulheres da associação já pensam até na exportação dos produtos no futuro!

Para encerrar o dia, o programa não poderia ser mais inspirador: assistimos a uma partida de futebol, com jogadoras da AMURALHA tocando a bola depois de um dia inteiro de trabalho. Mais do que diversão, o esporte simboliza bem o espírito de coletividade que une essas mulheres. Como disse Nataires Ferreira, presidente da associação: “AMURALHA é o futebol em si. A confiança e a união é que fazem valer. Então, no futebol, é a mesma coisa: se eu não tiver confiança na minha parceira, eu não vou ter um bom resultado”.

 

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DIA 3

No nosso penúltimo dia de expedição, o destino era o rio Croa, uma das grandes atrações de Cruzeiro do Sul, onde a natureza exibe toda a sua exuberância. Em alguns trechos do rio, as águas ficam completamente cobertas por plantas aquáticas, que dão a impressão de que você está navegando sobre um imenso tapete verde. Nas margens, árvores centenárias impressionam por sua força e tamanho. No Croa, aliás, fomos apresentadas a um dos símbolos da região: a imensa samaúma, considerada a árvore rainha da Amazônia. Sozinha, essa espécie tropical despeja até 1.000 litros de água por dia na atmosfera. E qual seria o volume total de água produzido pela Amazônia? Pois bem, a floresta inteira lança 20 trilhões de litros de água na atmosfera diariamente – são verdadeiros rios aéreos, fundamentais para o equilíbrio do planeta.

Com esses números impressionantes na cabeça, partimos para a última etapa da expedição: a comunidade de Novo Horizonte, já fora dos limites do Acre, no Estado do Amazonas. O longo percurso incluía um trajeto de carro e mais duas horas de barco até o município de Guajará. Chegamos no final da tarde, a tempo de conferir o jogo de futebol da comunidade, no campo à beira do rio, com imagens dignas de um cartão-postal.

 

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DIA 4

Depois de um café da manhã com alimentos recém-colhidos na horta da comunidade Novo Horizonte, fomos conhecer o trabalho das famílias que vivem no local e atuam no manejo do cacau silvestre. No total, 15 famílias são responsáveis, individualmente, por recuperar um hectare com sistemas agroflorestais. A SOS Amazônia oferece assistência técnica para beneficiamento das amêndoas de cacau e construção dos viveiros para produzir mudas de qualidade para o plantio. O cacau é beneficiado pelas comunidades Novo Horizonte e Rebojo, que comercializam cerca de 1,2 tonelada de amêndoas por ano para uma empresa nacional que trabalha com chocolate de origem amazônica.

Para além do cacau, Novo Horizonte traz outros exemplos de como aproveitar de forma sustentável as riquezas amazônicas. Tivemos a oportunidade de acompanhar também as boas práticas de coleta de murumuru, semente de uma palmeira que é largamente utilizada na indústria cosmética por seus poderes hidratantes. Sem contar que pudemos tomar banho de rio, que lava a alma como nenhum outro.

E, então, já era hora de voltar para São Paulo. Mas não sem antes colocar minha assinatura em apoio à campanha Amazônia de Pé, explicada pacientemente pelo social media da SOS Amazônia Khelven Castro. Essa iniciativa da sociedade civil, apoiada por várias ONGs e instituições espalhadas pelo Brasil, visa a criação de um projeto de lei para proteger as florestas públicas na Amazônia Legal a partir da ampliação e demarcação das terras indígenas e quilombolas, territórios de pequenos produtores extrativistas e unidades de conservação. A meta da campanha é coletar 1,5 milhão de assinaturas, que vão ser anexadas ao projeto de lei a ser levado no dia 1 de janeiro para o Congresso Nacional, em Brasília. Você pode conhecer melhor o projeto neste link.

“É imprescindível unir esforços para manter a floresta em pé, buscando alternativas e novas relações com a biodiversidade. No entanto, nesse cenário de retrocesso ambiental, com altos índices de desmatamento, recuperar áreas degradadas não é suficiente. Por isso, esse caminho de conservação a partir de políticas públicas é estratégico e necessário. Só assim podemos projetar a manutenção dos serviços ecossistêmicos, como a regulação do clima, dos recursos hídricos e a oferta de alimentos e matérias-primas”, destaca Álisson Maranho, secretário técnico da SOS Amazônia.

Foi muito emocionante fazer parte dessa expedição com a SOS Amazônia e a Nike, representando a ELLE Brasil. Espero ter conseguido passar um pouco do que foi essa experiência incrível de imersão na natureza para que você também se engaje na proteção da Floresta Amazônica, pois essa é uma batalha de todos. É um jogo que precisamos jogar juntos.

Fotos: Gustavo Dantas, mavo.co

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