Moda Em Quarentena: relatos de uma indústria em crise

Ao longo de quase dois meses, ELLE Brasil conversou com mais de 40 profissionais diretamente afetados pela crise da covid-19. O resultado é uma série de reportagens com relatos profundos de uma indústria desesperada por esforços coletivos.


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É mais fácil falar sobre a pandemia da covid-19 estatisticamente. Números são importantes para o entendimento da realidade e para medição dos impactos de gravidade sem precedentes. Mas números às vezes silenciam. Ao longo de quase dois meses de conversas e entrevistas com mais de 40 profissionais, ficou clara a necessidade de falar e, mais ainda, de ouvir.

O setor da moda é um dos mais impactados pela crise desencadeada pelo novo coronavírus. Desde meados de março, boa parte das lojas, ateliês, oficinas de costura e fábricas nacionais fecharam suas portas, interromperam produções e reduziram atividades e quadro de funcionários. Consumidores, apreensivos com a profundidade e duração da baixa econômica, fecharam suas carteiras e estão revisando todo e qualquer consumo não essencial. Com isso, só nas primeiras semanas de distanciamento social, as vendas no varejo de moda caíram 74%, segundo pesquisa do Sebrae. É uma perda de milhões de reais nos caixas das 1,1 milhão de lojas de vestuário e acessórios registradas no país.

Acontece que moda não existe sem trabalho humano. A queda vertiginosa nas vendas deixou toda uma rede de profissionais desamparada. Só no Brasil, são mais de 8 milhões de pessoas impactadas direta e indiretamente por essa indústria. É o terceiro setor que mais emprega. Ainda assim, é um mercado extremamente informal e complexo, carente de políticas públicas, fiscalização, transparência, responsabilidade e assistência social, comprometimento ambiental e colaboração entre seus agentes internos. Não surpreende que as bolas de cristais de gurus do mercado e bureaus de tendência tenham esquecido desse pequeno detalhe. Afinal, são anos de superindividualismo, competição não-estratégica. Muitas vezes, a coletividade fica restrita a meras ações de marketing e os projetos de integração mal saem do papel. Tudo isso tem consequências que agora se tornam mais explícitas.

De maneira teimosa e agarrada a uma estrutura de privilégios, foi necessária uma crise de natureza e magnitude inéditas para que indústria e mercado acordassem para as barbaridades de algumas de suas práticas. Os relatos compilados nesta série de reportagens ajudam a entender como e por quê o sistema já gritava por socorro bem antes da pandemia. Porém, quem gritava eram aqueles na base da cadeia de produção ou os elos mais vulneráveis. Agora, a tsunami afetou a todos.

Durante as muitas horas de entrevistas por telefone, Zoom, FaceTime e chamadas de WhatsApp, ficou evidente que inexiste receita, fórmula ou cálculo para solucionar esta crise. Existe, sim, modelos de negócios, formas de produção, meios de comunicação, posturas e valores que podem – e estão – ajudando muita gente. A seguir você poderá ler os relatos e experiências de produtores têxteis, costureiras, modelistas, estilistas, diretores de criação, CEOs, ativistas, varejistas, fotógrafos, maquiadores, stylists e modelos. Um esforço de reportagem que levanta questões e traz talvez uma única certeza: serão necessárias mais do que palavras bonitas e ações tímidas para reconstruir a cadeia de moda brasileira.

Leia todas as matérias da série abaixo:

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