Os 20 anos de “Os excêntricos Tenenbaums”

Curiosidades e bastidores do filme que consagrou Wes Anderson.


Foto: Divulgação



Poucas semanas depois do ataque ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001, Wes Anderson apresentou no Festival de Cinema de Nova York seu terceiro filme, Os excêntricos Tenenbaums. Na época, sair de casa e ir ao cinema era um ato de resistência encorajado pelo governo dos Estados Unidos, ainda profundamente abalado pelo atentado terrorista. Depois da primeira pré-estreia em outubro, o filme chegou ao público em dezembro, e arrecadou mais que o triplo do seu orçamento de 21 milhões de dólares.

Ainda desfrutando do sucesso de seu segundo filme, Três é demais (1998), o diretor repetiu a parceria com Owen Wilson — amigo que conheceu ainda na Universidade do Texas — para escrever a história de uma família que, após duas décadas, volta a morar sob o mesmo teto. Etheline (Anjelica Huston) era casada com Royal (Gene Hackman), com quem tem três filhos: Chas (Ben Stiller), Margot (Gwyneth Paltrow) e Richie (Luke Wilson). Eles se separaram antes das crianças chegarem à adolescência, e Royal mudou-se para o Lindenberg Palace Hotel.

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Margot, Chas e Richie Tenenbaum quando criança.Reprodução

Cada uma das crianças foi um prodígio. Chas era um gênio da matemática. Margot escreveu peças de sucesso antes de chegar à maioridade. Já Richie se tornou um tenista profissional. Todos, no entanto, se tornaram adultos fragilizados, sempre em busca do sucesso de anos atrás. Os três voltam a morar com a mãe, que acabou de ser pedida em casamento pelo seu contador, Henry Sherman (Danny Glover). Ela, no entanto, nunca se divorciou legalmente de Royal, que diante da ameaça do noivado de Etheline, tenta reconquistar a esposa — e não mede esforços para tal.

No aniversário de 20 anos de Os excêntricos Tenenbaums, relembre algumas curiosidades sobre o filme e seus bastidores:

Elenco recorrente

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Os 20 anos de “Os excêntricos Tenenbaums”: curiosidades, bastidores e Wes Anderson

elle.com.br

Anderson tem o costume de escalar o mesmo grupo de atores para seus filmes. Mesmo tendo apenas outras duas produções em sua filmografia antes de Os excêntricos Tenenbaums, alguns rostos já eram recorrentes em seu terceiro filme como Bill Murray, que havia participado de Três é demais (1998) e interpreta Raleigh St. Clair, marido de Margot Tenenbaum no filme.

Luke Wilson, irmão de Owen, esteve presente nas três produções do diretor até os Tenenbaums. Owen, além de roteirizar, atuou em dois dos três longas: Pura adrenalina (1996), no papel principal, e Tenenbaums, como Eli Cash, um personagem secundário. Sua parceria com o antigo colega de faculdade não parou por aí: ele ainda participaria de A vida marinha com Steve Zissou (2004), Viagem a Darjeeling (2007), O fantástico Sr. Raposo (2009), Moonrise kingdom (2012), O grande Hotel Budapeste (2014) e está em A crônica francesa, que estreou este ano no Festival de Cannes.

Além de Owen A vida marinha com Steve Zissou (2004) também contou com Anjelica Huston, que está em A crônica francesa.

Roteiro e referências

Luke Wilson Gwyneth Paltrow
Luke Wilson e Gwyneth Paltrow como Richie e Margot Tenenbaum.

Reprodução

Os excêntricos Tenenbaums seria, originalmente, inspirado no divórcio dos pais de Anderson: Melver e Texas Anderson. Mas conforme o cineasta e Owen Wilson transformavam a ideia em roteiro, a história tomou um rumo diferente. No final, apenas a profissão de Etheline acabou baseada na história dos Anderson: ela é arqueóloga, como a mãe do diretor.

Anderson também assumiu ter se inspirado em dois outros filmes para criar Os excêntricos Tenenbaums: Soberba (1942), de Orson Welles, e Les enfants terribles (1950), de Jean-Pierre Melville.

Em entrevista à revista Vulture, o diretor confessou que não é por acaso que a casa onde Etheline vive com os filhos seja tão semelhante à de Soberba: “Foi um golpe de sorte, mas provavelmente porque eu estava com aquele prédio na cabeça. Os excêntricos Tenenbaums foi amplamente inspirado em Soberba“, disse o diretor. “Encontrei a casa com meu amigo, George Drakoulias. Estávamos dirigindo por uma área de Nova York chamada Hamilton Heights, e ele disse: ‘Dá uma olhada, tem uma casa logo ali que você vai querer ver’. Eu desci do carro, vi que a casa era exatamente igual a de Soberba e pensei ‘esse é o lugar’.”

Já a relação entre Margot e Richie, Anderson emprestou do filme Les enfants terribles, inspirado no livro homônimo de Jean Cocteau. Na obra, Elizabeth e Paul vivem uma relação incestuosa, que se vê abalada quando a menina traz uma amiga, Agathe, para morar com eles. Apesar de Richie e Margot serem apaixonados um pelo outro, a versão estadunidense da história difere da francesa pois Margot é adotada — algo que Royal Tenenbaum faz questão de lembrar a todos os momentos.

O filme foi indicado ao Oscar de melhor roteiro original no ano seguinte à sua estreia, junto com O fabuloso destino de Amélie Poulain, A última ceia, Amnésia e Assassinato em Gosford Park, que levou o prêmio para casa.

A icônica Margot Tenenbaum

Margot Tenenbaum Gwyneth Paltrow
Gwyneth Paltrow como Margot Tenenbaum.

Reprodução

Margot ganhou destaque entre os Tenenbaums. Um dos pontos altos da carreira de Gwyneth Paltrow, a filha adotada do Etheline e Royal ganhou status de ícone fashion do cinema e é até hoje inspiração de fantasia de Halloween.

Tudo em Margot a destaca dos personagens que a cercam: seu dedo postiço de madeira, o delineado do dia anterior , o casaco de pele com buracos de traças. Em entrevista à ELLE estadunidense, a figurinista do filme, Karen Patch, que viria a trabalhar com Anderson em outras produções, contou que o diretor instruiu que o figurino de Margot deveria ser todo produzido especialmente para a personagem, nada poderia ser comprado.

“A ideia de Margot surgiu porque eu tinha visto um antigo filme de Peter Sellers, chamado O mundo de Henry Orient, em que a jovem usa um casaco de vison para correr por Nova York”, explicou a figurinista.

Karen quis que Margot usasse um tipo de uniforme desde criança: presilhas de cabelo, vestidos de mangas curtas e meias. “As pessoas pensam que a Lacoste fez os vestidos da Margot, mas a marca não fazia vestidos listrados nesse estilo na época, apenas lisos. Então pedi a eles se poderiam me mandar tecidos com listras para eu criar meu próprio modelo, e pedi a aprovação para usar o logotipo, porque o Wes queria muito que o vestido fosse da Lacoste”, relembrou ela.

A ideia era que Margot fosse uma criança rica que se tornou má, daí o casaco Fendi de sua mãe, a bolsa Hermès e todos seus vestidos elegantes e mocassins Bass. “Acho que essas contradições — o fato de ela estar usando o que parecia ser as roupas de sua mãe, algo mais conservador, com ares de country club — a deixavam (Margot) nervosa. Gosto de juntar coisas improváveis —, o que tornam as coisas mais interessantes”, explica.

Mas, afinal, quem é Tenenbaum?

Anderson emprestou o sobrenome da família de um colega de faculdade, Brian Tenenbaum, que faz uma pequena aparição no filme como um paramédico nas cenas finais do longa. Ele já havia aparecido em seus dois outros filmes em papéis similares.

Um fato inusitado aconteceu nos bastidores de Os excêntricos Tenenbaums: o falcão de Richie (Luke Wilson), batizado de Mordecai, foi levado no meio das gravações, e seus sequestradores pediram dinheiro para devolver a ave. Para não atrasar as filmagens, o animal foi substituído por outro. Richie, inclusive, menciona que Modecai está com mais penas brancas na cena final do pássaro, uma alusão à troca dos falcões.

Anderson também faz uma pequena aparição no filme — ou melhor, sua mão. Na cena de abertura, é ele quem está segurando o cartão da livraria.

O legado do filme para a carreira de Anderson

Gene Hackman Royal Tenenbaum
Gene Hackman como Royal Tenenbaum.

Reprodução

Anderson já havia feito sua estreia como diretor há cinco anos quando Os excêntricos Tenenbaums chegou aos cinemas. Contudo, embora o diretor já fosse aclamado, foi Os excêntricos Tenenbaums que estabeleceu o estilo de Anderson, da fotografia obcecada por simetrias e cores, personagens cartunescos e histórias únicas. Essas particularidades só foram acentuadas em cada uma das obras seguintes do diretor, como O fantástico Senhor Raposo (2009), e O Grande Hotel Budapeste (2014), vencedor de quatro Oscars.

Um Hotel Tenenbaum

Goodtime Hotel Os exc\u00eantricos Tenenbaums
Goodtime Hotel, de Pharell Williams, inspirado em “Os excêntricos Tenenbaums”

Divulgação

Pharrell Williams inaugurou neste ano um hotel em Miami à la Wes Anderson — ou melhor, à la Tenenbaum. A estética art déco do Goodtime Hotel, assinada pelo designer de interiores Ken Fulk e pelo paisagista Raymond Jungles, faz referência às cores, simetria e cenário da produção: “Estar lá é como estar em um filme de Wes Anderson, como Margot Tenenbaum”, definiu o produtor e empresário.

O hotel conta com uma piscina de três andares, uma sala de leitura, uma área aberta de exercícios e um estúdio de gravação. O prédio também carrega ares de outras produções do diretor, como O grande Hotel Budapeste.

Hotel Pharell Williams
Hotel de Pharell Williams inspirado nas obras de Wes Anderson.

Divulgação

Hotel Pharell Williams
Hotel de Pharell Williams inspirado nas obras de Wes Anderson.

Divulgação

Hotel Pharell Williams
Hotel de Pharell Williams inspirado nas obras de Wes Anderson.

Divulgação

Hotel Pharell Williams
Hotel de Pharell Williams inspirado nas obras de Wes Anderson.

Divulgação

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