Saiba tudo que rolou na Metaverse Fashion Week

A primeira semana de moda virtual da plataforma Decentraland contou com desfiles de grandes grifes e apontou possíveis caminhos para o mercado wearable.


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Dolce & Gabbana | Foto: Divulgação



A primeira Metaverse Fashion Week, aconteceu entre os dias 24 e 27 de março, reunindo virtualmente cerca de 108 mil pessoas que participaram da primeira edição por meio da Decentraland, plataforma pioneira entre os usuários do metaverso com interação em blockchain (ferramenta essencial para garantir a autenticidade no meio digital).

De acordo com o diretor criativo do site, Sam Hamilton, a Decentraland recebe cerca de 500 mil usuários mensais desde o início do ano. Voltada para socialização e venda de tokens não fungíveis (NFTs), o jogo é uma plataforma 3D administrada em uma organização autônoma descentralizada (DAO), ou seja, por um grupo de usuários, e não uma empresa.

Nela, o espaço virtual é dividido em 90 mil unidades de land – equivalente a terrenos sujeitos à exploração e especulação digital. Para a semana de moda, algumas dessas “terras” foram selecionadas para a construção de lojas e pavilhões onde se concentram as apresentações de 60 marcas, artistas e designers.

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Dundas.Foto Reprodução | Gabriel Fusari

Parte considerável dos participantes optou por expor suas criações em galerias, como as do Luxury Fashion District. Inspirado na Avenue Montaigne, de Paris, o novo distrito comercial (vendido por cerca de 13 milhões de reais) acolheu as lojas da Dolce & Gabbana, Elie Saab, Imitation of Christ, Guo Pei e a joalheria Jacob & Co. Cada marca mostrou seus produtos de forma diferente. Elie Saab escolheu organizar seu espaço como um museu para exibir a versão virtual da sua coleção de alta-costura de verão de 2022. Já a Dolce & Gabbana realizou um desfile de 20 looks feitos digitalmente para serem leiloados como NFT.

Essa não é a primeira vez que a grife italiana investe no metaverso. Entre as primeiras do luxo a investir no meio, a marca leiloou uma coleção de wearables (roupas que só existem online) arrecadando cerca de 6 milhões de dólares, em agosto de 2021.

Etro, Placebo, Vogu & Hype, Dundas e The Fabricant são outros nomes de moda que estiveram presentes no evento. Diferentemente da Dolce & Gabbana, que apostou em criações mais fantasiosas, os nomes acima optaram por apresentar peças mais simples e próximas do que se encontra em desfiles e lojas físicas – um mundo de distância dos looks da plateia, que contava com usuários com asas, vestidos de dinossauro ou até de Jesus do Streetwear.

E dá para comprar?

Dá, e dá para usar tanto virtualmente como na vida real. Em parceria com a empresa de tecnologia Boson Protocol, a Tommy Hilfiger apresentou jaquetas bomber, conjunto de moletom e camisa xadrez da coleção de verão 2022, só que em formato digital. Quem quisesse comprar alguma peça podia optar por ter a sua apenas virtualmente ou receber um modelo real em casa. A compra acontecia num site próprio da marca.

Outras etiquetas optaram por vender suas criações diretamente ao usuário por meio da criptomoeda usada na plataforma, a Ethereum. Anna Gamer, uma das principais criadoras de conteúdo sobre metaverso em português, diz que as grifes estão dando atenção dobrada aos tokens não fungíveis. “Antes do festival, tiveram marcas que investiram pesado em airdrops, que são pré-saves de NFT”. De acordo com ela, isso é uma forma de prospectar público no mundo digital, por meio da criação de expectativa.

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Selfridges x Paco Rabanne.Foto Reprodução | Gabriel Fusari

Um bom exemplo são as peças virtuais disponíveis na Selfridges. A famosa loja de departamentos do Reino Unido tem um prédio de escada espiral onde deixa NFTs e wearables disponíveis em exibição até que fiquem disponíveis para compra, no dia 12 de abril. As roupas, no caso, são da primeira coleção de Paco Rabanne, lançada originalmente em 1966. Elas compartilham espaço com 12 obras exclusivas e digitais do pintor Victor Vasarely.

As peças que fazem parte do figurino dos avatares podem ser utilizadas em outros universos de metaverso (não só na Decentraland) por ficarem registradas em uma carteira digital, junto com os dados do portador da conta. Rita Wu, designer e pesquisadora de wearables, explica que os participantes têm facilidade para se expressar por meio de roupas digitais devido a ferramentas em comum para produzir os visuais. “Todos têm a mesma documentação e irão usar os mesmos controles e softwares. Os limites de polígonos saem de uma base em comum”, comenta.

E com essa NFT na carteira, o usuário tem um certificado de propriedade que permite que ele venda a peça. O lucro pode ser significativo a depender da história de compra, como um lançamento ou evento especial, a assinatura de um artista ou um produto limitado.

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Rita Wu com wearable de Fernanda Yamamoto.Selfie | Rita Wu

O mercado de wearables prevê movimentar 50 bilhões de dólares até 2030, segundo a instituição financeira Morgan Stanley. De acordo com o wearable designer Alberto Brant Ottis, a maioria dos wearables são NFTs e, por isso, podem ser impactados pela especulação financeira. “Pode ser algo exclusivo e, no final, ter uma especulação pela sua história. Como você tem posse, pode vender, emprestar e presentear”, diz ele, que aponta os avatares digitais como principal fator de movimentação do segmento.

Rita, que compareceu ao evento com uma skin de um vestido de Fernanda Yamamoto, vê a moda no metaverso como uma ferramenta identitária. Ao contrário das semanas de moda físicas, a diversidade das apresentações e plateias do evento virtual era consideravelmente mais expressiva. “Quando você se coloca como avatar, tem a possibilidade de ser qualquer coisa. É muito louco como as pessoas escolhem se apresentar”, fala ela. A pesquisadora também diz acreditar que as tendências do metaverso, que hoje mimetizam a vida real, podem se aperfeiçoar com a forma de se vestir de cada um, gerando movimentos segmentados em cada plataforma desse universo digital.

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