A invisibilidade da mulher madura
Camila Faus e Fernanda Guerreiro falam sobre envelhecer em uma sociedade que tem dificuldade de entender que mulheres não são eternamente jovens. Nesta coluna, elas abordarão o assunto com humor e a seriedade que ele merece.
Se esconder atrás de uma máscara.
Mudar de humor várias vezes ao dia.
Procurar trabalho sabendo que vai ser difícil encontrar.
Querer ir a uma festa e não ter mais festas para ir.
Sentar sozinha em algum lugar sem ser julgada.
Ter a sensação de invisibilidade na maior parte do tempo.
Não conseguir dormir direito.
Questionar-se sobre estar em um casamento.
Questionar-se sobre não estar em um casamento.
Ter vontade de ter mais filhos.
Ter vontade de esganar os filhos.
Sentir a memória falhando.
Esquecer que a memória falhou.
Achar que é só uma fase.
Saber que não é mais uma fase.
Entender que ninguém é uma ilha.
Sentir que você está ilhada.
Procurar beleza em lugares que não via antes.
Se olhar no espelho e não se reconhecer.
Querer voltar no tempo.
Descobrir que o único tempo que você tem é agora.
Não, não estamos falando da quarentena. Estamos falando da quarentona. E também da cinquentona e da sessentona. Faixa de idade em que, geralmente, as mulheres são colocadas em uma espécie de limbo porque não se enquadram mais na categoria mocinha, nem podem ser consideradas da terceira idade. Infelizmente, a sociedade machista, que associa beleza à juventude, faz a mulher madura se sentir invisível, levando ao isolamento social e, muitas vezes, à depressão.
E isso porque um vírus bastante conhecido chamado preconceito tem se espalhado há gerações fazendo com que muitas pessoas confundam menopausa com o fim da vida. Inúmeras mulheres já morreram sem saber que era isso que as estava matando. Uma pandemia emocional.
Mas nem tudo é desespero. Diferentemente de nossas avós que não podiam contar com uma terapia hormonal segura, nem sabiam dos benefícios de uma alimentação saudável e de uma atividade física regular, hoje, com os avanços da medicina estamos vivendo mais e infinitamente melhor. É verdade que ainda não há uma vacina contra o preconceito, mas a boa notícia é que pode haver cura. Basta eu, você e todas as mulheres de nossa idade tomarmos posse do que é nosso: sonhos, desejos, medos e amores como qualquer outra pessoa.
Quem sabe agora, com todo mundo se sentindo “preso”, talvez seja um bom momento para uma reflexão: liberdade deveria ser o único padrão. Sem regras, sem preconceito e sem tabu.
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