Conheça os estilistas integrantes da Célula Preta

Mergulhamos na história das marcas que fazem parte do coletivo de estilistas negros da Casa de Criadores que vêm quebrando as lógicas do mercado.


origin 180



Com a intensificação dos protestos do movimento Black Lives Matter, após o assassinato de George Floyd, em maio, nos Estados Unidos, a comunidade negra de todo o planeta começou a agir com mais foco na luta antirracista. Foi como se esse absurdo, entre tantos outros que vemos diariamente, fosse finalmente a gota d’água. No Brasil, um desses movimentos é a Célula Preta, um coletivo de estilistas negros integrantes do line-up da Casa de Criadores. São eles: Jal Vieira, Gui Amorim (do Estúdio Traça), Weider Silveiro, Diego Gama, Theo Alexandre (da Thear), Fábio Costa (da NotEqual), Pedro Batalha e Hisan Silva (ambos da Dendezeiro).

“Todo mundo tem essa ideia de que a Casa é esse espaço onde todo mundo é amigo, mas a real é que as pessoas não se conhecem direito. Nós mesmos, tínhamos muito pouco contato e nos vimos com as mesmas frustrações, apesar de estar cada um em momento diferente da carreira”, conta Diego Gama, que há três anos no evento. Entre os problemas apontados por todas as marcas entrevistadas pela reportagem está a dificuldade de acesso à mídia, à maquinário e à investimento. “Começamos a perceber os mesmos problemas e as mesmas vontades”, completa o estilista.

A Célula Preta começou com uma série de reuniões entre esses estilistas com o objetivo de se conhecerem melhor e partilhar suas vivências, histórias e percepções do mercado. Em seguida, foram feitos encontros online com veículos, sites, jornalistas, publishers e players do mercado em geral para expôr e discutir os problemas do racismo na moda brasileira. Agora, o momento é de entender e criar as demandas por uma indústria mais justa, que entenda as dificuldades e se responsabilize pelos danos do passado que são tão latentes até hoje.


“Entre nossas discussões, a gente não pensa apenas em dar acesso a pessoas pretas, mas em como manter esses profissionais no mercado”, explica Jal Vieira. A diferença entre as oportunidades, os patrocínios e os apoios que esses estilistas recebem é outra questão levantada pelo grupo. “Até a maneira como você avalia o trabalho de um profissional negro é diferente. Não dá pra comparar com um estilista branco elitizado. são histórias hegemônicas comparadas com histórias de falta de acessos sociais”, completa.

Para além do trabalho em grupo para beneficiar as marcas em si, há muito sendo feito em prol desses criadores como pessoas físicas. Weider Silveiro e Fábio Costa, da NotEqual, contam que a Célula os fez ganhar essa percepção do que é ser um estilista negro no Brasil (e no mundo) e os problemas de racismo estrutural para os quais muitas vezes passaram batido. “Para a minha geração, o mais difícil é a gente se reconhecer como negro, principalmente quando temos um determinado status e uma condição melhor. A própria sociedade tenta nos embranquecer”, critica Weider.

Entre as primeiras ações já concretizadas pela Célula Preta estão um e-commerce em parceria com a 2Collab e uma arara exclusiva na Das Haus, loja de Felipe Fanaia e Rober Dognani, no bairro do Jardins, em São Paulo. “A Célula é um acontecido histórico, porque você não costuma ver coletivos de estilistas se reunindo com propósito dessa maneira. A moda é um mercado muito competitivo e, muitas vezes, as pessoas se inserem nessa lógica sem intenção”, finaliza Pedro Batalha, da Dendezeiro.

A seguir, você conhece um pouco mais do trabalho e trajetórias de cada integrante da Célula Preta.

Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes