PIM fura bolha da moda e prova potência das periferias
Periferia Inventando Moda levou cinco marcas à Casa de Criadores e, à ELLE, fundador Alex Santos adianta preparar intercâmbio de grifes com Portugal.
Se hoje o debate sobre a inclusão de marcas e a estética gerada pelas periferias está presente nas engrenagens da indústria da moda, é porque um estilista levantou a voz sete anos atrás. Alex Santos ouviu muitos nãos – e ainda escuta – até conseguir levantar o projeto Periferia Inventando Moda. Nascido na comunidade paulistana de Paraisópolis, o PIM apresentou nesta edição da Casa de Criadores o trabalho de cinco marcas.
Seu fashion filme dividiu cada uma em blocos, nos quais foram exibidos cápsulas criadas por Dellum, de Brunno Dellum, Volat, de Leticia Cortez, Couto Store, de Mateus Couto, X Brand, do próprio Alex Santos, e Riddim, de Monica Barboza.
Todas essas cinco etiquetas mostraram, à sua maneira, representações do caldeirão criativo que existe nas periferias de São Paulo. E não só por meio das roupas, mas também de parte dos profissionais nos bastidores e modelos, todos eles moradores de regiões periféricas e que recebem aulas dentro da programação anual do projeto.
A busca por autossuficiência não é fácil. Com pouco ou nenhum dinheiro para botar em prática as ideias, o PIM estimula o empreendedorismo e reivindica espaços que, segundo Santos, “não podem ser apenas abertos em sistema de cotas”. Nesta edição da Casa, tiveram apoio de indústrias como Dalila Têxtil, Vicunha e Santista.
“Não é porque a moda periférica está em evidência que só devemos ocupar as passarelas por causa disso. Queremos provar que merecemos ocupar grandes eventos de moda, elitizados por muito tempo, porque temos o que mostrar”, afirma.
E têm mesmo. Ainda que as coleções sejam pequenas e não explorem tanto os tecidos fora das bases de algodão – caractrística compreensível, tendo em vista os preços altíssimos que a indústria vem praticando com a alta de preço dos insumos –, as marcas usaram a criatividade para explorar variações de roupa streetwear, como a Volat fez, modelagens, a exemplo da Dellum, e uma moda sem contornos de gênero como a que mostrou a X Brand.
Os planos de Alex, agora, devem cruzar o Atlântico. Ele conta à ELLE que o PIM acaba de fechar parceria com o Fashion Day Portugal, uma plataforma lusitana de moda independente, para fazer um troca-troca de marcas, no próximo ano, quando a pandemia arrefecer.
“Vamos levar algumas daqui para desfilar lá, e outras vêm para cá. Faço uma primeira participação virtual neste ano, em outubro, com a apresentação da minha marca. Mas todo o projeto fará esse intercâmbio”, comemora o estilista. Reconhecimento mais que merecido.
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