Casa de Criadores termina com militância, homenagem e caricatura

Releitura de Rober Dognani, deboche da Ken-gá, crochês de David Lee e Amazônia sob a lente de Gefferson Vila Nova marcaram último dia do evento.


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Rober Dognani / Foto: Marcelo Soubhia / @agfotosite



Não tem como falar de Casa de Criadores sem falar de Rober Dognani. O estilista, que já desfila há 19 anos no evento, aproveitou o aniversário de 25 anos da CdC para homenagear as imagens mais icônicas que já viu passar por aquelas passarelas. Para isso, ele elegeu 21 estilistas. No backstage, Dognani contou que não houve pesquisa de looks em arquivos históricos, ele tirou tudo da memória, além de ter imprimido sua estética em cada uma das entradas.

O estilo era facilmente reconhecível. Havia o macacão de lycra listrado cheio de volumes de Fernando Cozendey, o vestido com babados e laço vermelho de veludo, criado por Marcelo Sommer, o marinheiro quadriculado de Igor Dadona, o tule enorme e dramático de Walério Araújo e a jaquetinha perfecto com body transparente e calcinha de Ale Brito.

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Fernando Cozendey por Rober Dognani. Foto: Marcelo Soubhia / @agfotosite

Em outros momentos, víamos gêmeas de camisetinha do filme Christiane F. e os babados floridos das irmãs Carolina e Isadora Fóes Krieger, também a alfaiataria brocada de João Pimenta, os soldadinhos de trench coat envernizado de Karlla Girotto e o slogan “Acredite no Seu Axé”, popularizado por Isaac Silva, com várias camisetas recortadas e transformadas em um longo. A lista continua. Vale muito a pena ver o vídeo.

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As Gêmeas por Rober Dognani. Foto: Marcelo Soubhia / @agfotosite

Rober remontou, por meio de looks inspirados nos nomes mais importantes que já passaram pela Casa de Criadores, a história da moda brasileira. E o faz com muito estilo, sem perder seu DNA e sem se render a um saudosismo barato, lembrando que sempre podemos contar com ele para uma dose extra de drama.

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Ken-gá Foto: Marcelo Soubhia / @agfotosite

Quem também é afeita a um bom drama é a Ken-gá. A marca de Lívia Barros e Janaina Azevedo explicou que a ideia de fazer uma coleção inspirada no Brás veio a partir de um comentário que recebeu em uma publicação da Elle, anos atrás, que falava que sua moda parecia com aquela vendida no polo de varejo da cidade de São Paulo. “E qual é o problema de parecer com o Brás?”, perguntou Janaína, nos bastidores da Casa.

Lançando mão dos códigos camp, como a sensualidade levada às últimas consequências, as estampas debochadas de notas de 200 reais com uma bunda, as amarrações laterais, os babados feitos com fios de pesca na barra de vestidinhos curtíssimos e os tops em formato da letra K, as estilistas querem ressignificar essa estética, tirando a pecha de cafona que o bairro tem.

O desfile começou com a influenciadora Dandara Pagu vendendo os já famosos brincos com escritos da marca para os convidados da fila A – neles, lia-se “Kenga”, “Lula 2022”, “Ele Não” e “Feminista” – e terminou com Juliana Andrade, carregando uma faixa de Princesa do Brás. Após quase três anos sem desfilar presencialmente, a energia da dupla e dos remixes de hits do pop em ritmo de forró animou a plateia no último dia de evento.

Moda pela moda

Já falamos no primeiro dia de cobertura que a Casa de Criadores é um lugar que aceita diversas manifestações de moda, desde desfiles luxuosos até uma imagem mais crua, cheia de força criativa, militância e performance. O último dia de evento também teve seu momento mais fashion, com os crochês e a alfaiataria de David Lee ganhando intervenção do artista Narcélio Grud em estampas e aplicações emborrachadas, na coleção inspirada no sol, e a Amazônia revista pelos olhos de Gefferson Vila Nova, que levou peças utilitárias perfeitas para o dia dia. Ele também homenageou a ativista Greta Thunberg em camisetas com estampa de silk.

A ala mais loucurinha da noite ficou a cargo da apresentação de Felipe Caprestano, que brisou sobre as silhuetas e volumes para criar peças que tinham uma ideia de restrição, com braços presos e corte bem justo. Priscilla Silva, que já desfila na Casa há quase três anos, mostrou sua coleção mais madura até o momento, feita toda em jeans branco, cânhamo e crochê, este produzido em parceria com sua mãe. No desfile do coletivo PIM (Periferia Inventando Moda), as marcas X Brand, Dellum, Couto Store e Volat mostraram suas ideias, mas quem mais chamou a atenção foi a última, com uma roupa bem resolvida decorada com macramês.

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