Como é a nova cara da Burberry
Primeiro desfile com assinatura do diretor de criação Daniel Lee trilha caminho promissor para a marca britânica.
Depois de quase três anos, a Burberry voltou para a semana de moda de Londres com um novo diretor criativo. Daniel Lee, pupilo de Phoebe Philo, ex-Bottega Veneta (demitido por comportamento duvidoso, segundo a boca miúda), assumiu o cargo de Riccardo Tisci e Christopher Bailey antes dele. O entra e sai de estilistas anda aceleradíssimo, mas, neste caso, não é só isso. Tem a ver também com o momentinho peculiar do Reino Unido com governos populistas de direita, Brexit e outras palhaçadinhas. Em outras palavras, o cool Britannia deixou de ser cool, ficou cafona.
A nomeação de Daniel tem objetivo claramente comercial – o crescimento do negócio está engasgado faz tempo –, porém estamos falando da maior grife de luxo da região. E dada a capacidade da moda em representar a força criativa de uma sociedade, fica difícil não interpretar esse desfile como uma tentativa de reposicionamento de marca e cultural. Uma tentativa privilegiada, mas ainda assim.
É algo que já estava evidente na primeira campanha com dedo do novo diretor de criação. Apesar das roupas não terem sido desenhadas por ele, o novo logo (uma versão atualizada daquele de 1901, com o mocinho no cavalo), o casting de estrelas nacionais (Vanessa Redgrave, Liberty Ross, Skepta e Lennon Gallagher, filho de Liam Gallagher e Patsy Kensit) comunicavam um outro olhar para dentro.
Daniel Lee. Foto: Getty Image
Na passarela, a mentalidade é a mesma. Daí os dois primeiros trench coats. Mas não aquele bege com forro xadrez que todo mundo já conhece. E, sim, um verde militar bem escuro, com proporções levemente exageradas, golas de pele falsa. Nas mãos, os modelos (uma garota seguida de um garoto) carregavam uma bolsinha de água quente – e ela uma bolsa felpuda também.
É que a Burberry nunca emplacou um acessório como objeto de desejo. E a gente sabe como isso é importante no mercado de luxo, né? Por isso, o novo CEO Jonathan Akeroyd, vindo diretamente da Versace, insistiu tanto em Daniel Lee, responsável por vários hits na Bottega. Aqui, tem bolsa tote, de mão, peludinha, de couro, com rabo de raposa falso, chinelo e mocassim com pelinhos e até um gorro de pato.
Foto: Getty Image
A ave, outro símbolo nacional, aparece em estampas replicadas por todo um vestido, enquanto a rosa inglesa é trabalhada numa estética meio camiseta de banda. O tartan, o xadrez tipicamente associado à marca, agora chega com as linhas mais espaçadas, como se vistas numa lente de aumento e em tons de roxo, amarelo, vermelho e azul – lembra do verde Bottega? Então, aqui é o azul Burberry.
A padronagem lembra ainda um pouco de Vivienne Westwood, principalmente nas calças com zíperes aparentes, meio punk de butique. E a intenção era essa mesma. Em entrevista após o desfile, Daniel contou que tentou trabalhar com ícones britânicos essenciais para a formação cultural inglesa.
Foto: Getty Image
Seria fácil se perder nesse caminho de loucurinhas e excentricidades. Já teve muita gente que entrou aí e nunca mais saiu. Não é o caso, o estilista sabe bem o que está fazendo e onde quer chegar. Tanto que não foi uma estreia exatamente de impacto, não teve muita emoção. Teve, sim, muito produto – o que não significa grandes designs.
Foi tudo bem calculado, pensado para ser prático, funcional, necessário. Daí a quantidade reduzida de trench coats – quem precisa de vários? O que rolou foram peças inspiradas nele, como saias e vestidos. Como Riccardo Tisci vinha fazendo, tem para todo mundo, só que de um jeito bem focado no guarda-roupa possível, sem grandes devaneios fashionistas, apenas possíveis viralizações nas redes.
Foto: Getty Image
Se vai dar certo ou não, só vamos saber daqui a uns seis meses. O ponteira dessa bússola, pelo menos, parece indicar o caminho correto.
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