Conheça o trabalho do estilista Tomo Koizumi, em exposição na Japan House SP

Aos 32 anos, o japonês tem uma história que mais parece um conto de fadas e está exibindo as suas principais criações em uma mostra gratuita em São Paulo (aberta do dia 20/10/20 ao dia 10/01/2021).


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  • Antes de se aprofundar na moda, ainda na adolescência, Tomo Koizumi se apaixonou especialmente pelo trabalho de John Galliano na Dior.
  • A partir daí, a moda como fantasia e sonho se tornou uma de suas maiores vontades. Porém, formado em artes plásticas, foi em 2011 que passou a concentrar os seus esforços neste trabalho.
  • A sua marca homônima nasceu depois que uma amiga postou uma foto usando uma de suas criações, que chegou até o dono de uma multimarcas, que acabou se encantando pela peça e quis revendê-la.
  • Paralelamente a isso, o designer trabalhou ainda como assistente antes de virar um figurinista, que vestiu de artistas pop do Japão a Lady Gaga.
  • Apesar disso, ele ainda estava longe de ter o seu nome reconhecido globalmente, mas tudo mudou quando recebeu uma mensagem da stylist e jornalista Katie Grand.
  • Acompanhe a sua trajetória abaixo.

Era uma vez…

Nascido no Japão, em 1988, Tomo Koizumi cresceu e passou a maior parte de sua vida em uma cidade do interior chamada Chiba. Desde a infância, não escondia a sua paixão pelas artes e, quando ainda criança, sua mente criativa já chamava atenção, não é à toa que, mais tarde, optou pela formação em artes plásticas. A sua relação com a moda, entretanto, se deu na adolescência de uma forma bem específica. Para sermos mais exatos, Tomo não se encantou pela moda em geral, mas sim, especialmente, pelo trabalho de John Galliano na Dior.

Tomo lembra que, aos 14 anos, se deparou com uma foto de uma criação do estilista britânico e, naquele instante, sentiu algo que nunca havia experimentado antes. O choque e o deslumbre do momento, pelas palavras do próprio, mudaram a sua vida, e a sua vontade passou a ser transmitir essa mesma sensação para mais e mais pessoas. Na esfera profissional, essa ambição acabou se mantendo adormecida, já que logo ingressou na universidade e não sobrava tanto tempo para dedicar-se como gostaria ao que ainda via como hobbie. Mas, entre uma aula e outra, costumava conseguir um tempinho para produzir alguns looks.

A sua história ganhou outro rumo quando uma dessas criações foi usada por uma amiga. Ela postou despretensiosamente uma foto vestindo o look em uma rede social e a publicação acabou chegando ao proprietário de uma multimarcas de Tóquio que, rapidamente, entrou em contato com Tomo dizendo que queria aquelas peças em sua loja. A partir daí, lançou a sua marca homônima em 2011, vendendo inicialmente apenas para esse cliente, e também passou a trabalhar como assistente de um figurinista japonês, e depois como figurinista.

Os figurinos se tornaram uma grande paixão de Tomo. Eram o que mais fazia com que ele se ficasse mais perto do fascínio que sentiu ao conhecer o trabalho de John Galliano. Ver artistas em palcos se apresentando ao vivo com o público vibrando trazia para o estilista um senso de realização que, de uma certa forma, o colocava dentro da performance. E, para ele, obcecado pela grandiosidade que aquilo tomava, essa era sempre a grande magia. Tomo vestiu grandes cantoras pop do Japão e até mesmo globais, como Lady Gaga, mas, apesar disso, o seu nome ainda estava longe de ser internacionalmente reconhecido.

A fada madrinha

E como em um conto de fadas, digno de seus figurinos, tudo mudou do dia para a noite. Em um belo dia, Tomo recebeu uma mensagem de Katie Grand perguntando “vamos fazer um desfile?”. A jornalista e stylist havia acabado de cair acidentalmente no Instagram do designer japonês, que na época tinha apenas dois mil seguidores, e se apaixonado pelo seu trabalho. Louca para lançá-lo na indústria, sem ainda nem mesmo de fato o conhecer, Katie não perdeu tempo, entrou em contato com ele enquanto mentalmente já pensava como poderia armar esse desfile. Tomo, claro, não pensou duas vezes.

Faltando três semanas para a New York Fashion Week, Katie achava que a semana de moda seria a oportunidade perfeita para alcançar a repercussão necessária. O tempo era apertado, mas, rapidamente, articulou os seus contatos e conseguiu orquestrar tudo. A locação? A loja de Marc Jacobs, seu amigo pessoal, na Madison Avenue. Quem comandaria a beleza? Pat McGrath topou e ainda convocou Guido Palau para o cabelo e Jin Soon para as unhas. O casting? Com a ajuda de Anita Bitton, Katie já tinha nomes como Bella Hadid, Rowan Blanchard e Joan Smalls confirmados.

Quase tudo pronto. Mas, o mais importante: e os looks? Tomo selecionou peças de uma coleção anterior e, em tempo recorde, com a ajuda de apenas um único assistente, criou mais alguns novos. Usando a sua bagagem nas artes plásticas, o estilista se inspirou em pinturas abstratas e também nas cores que vemos ao olhar o céu, explorando a fundo toda a sua técnica com organza em vestidos volumosos que mais pareciam um sonho.

Por causa da pandemia, neste ano, a premiação não pôde seguir em frente, entretanto, os benefícios foram divididos entre os oito finalistas ー e o estilista japonês foi um deles. Com o prêmio, Tomo contou que iria investir em coleções mais comerciais já que, até então, só fazia peças sob encomenda.

Alguns meses depois, em setembro, Tomo anunciou uma colaboração com Emilio Pucci. Desde a saída de Massimo Giorgetti, em 2017, a marca italiana tem apostado em coleções cápsulas assinadas por diferentes designers e, para o Verão 2021, o japonês foi o convidado. A colaboração, composta por 11 looks de organza, camisetas, sandálias e uma bolsa, mistura tons de laranja, amarelo e branco. “Sempre sonhei em trabalhar com uma casa que tivesse grandes arquivos e colaborações são muito importantes. Essa experiência com a Pucci me ensinou muito, é como um diálogo entre os nossos dois mundos”, afirmou em comunicado divulgado.

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Por trás da magia

Mas, mesmo vestindo grandes personalidades e estando entre colaborações e prêmios, Tomo não é a pessoa mais atualizada quanto ao que acontece na moda. Em entrevista ao WWD, o estilista contou que prefere confiar em sua própria imaginação e criatividade: “Eu verifico um pouco o que está acontecendo, mas não muito. O meu trabalho não é por aí”. Isso se dá pelo seu histórico autodidata e por ele ter outros motivadores para o seu fascínio por roupas. O Origami é um deles.

Ainda na infância, Tomo já era apaixonado por Origamis e sempre viu nessa tradição um ótimo recurso estético. As infinitas formas e possibilidades permitidas por essa arte secular japonesa, que, basicamente, consiste em dobraduras de papéis, eram como seus grandes despertares criativos e, posteriormente, foram uma de suas maiores influências para a construção do seu DNA como designer. Estátuas budistas e esculturas de flores japonesas também estão entre suas referências.

A sua forte ligação com o seu país natal fica evidente em seu trabalho. Na última coleção, por exemplo, apresentada por meio de um lookbook fotografado no Japão, Tomo fez questão de criar um ponto de encontro entre a sua exuberância e os elementos da cultura tradicional local para a construção imagética.

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E a imagem de seu design, já tão reconhecível, nasceu de uma necessidade. Com um orçamento limitado, Tomo buscava uma maneira de fazer algo interessante sem ter que investir mais do que poderia, até que, em uma viagem à cidade têxtil de Nippori, se deparou com uma organza em poliéster que era a opção perfeita para atender o que desejava. Hoje, já com a possibilidade de maior investimentos, o estilista segue usando o mesmo material já que, além de ter desenvolvido habilidades para maximizar o uso desse tecido, ele conta também com uma cartela de cores muito maior do que a oferecida pelo tule.

As peças entendidas por ele como simples demoram cerca de cinco horas para ficarem prontas, o que o estilista considera pouco, mas as mais complexas podem demorar muito mais. Cada uma delas pode usar até 200 metros de tecido e as suas coleções consistem basicamente em vestidos e conjuntos de saia, já que a sua técnica ainda não permite a criação de peças como calças e jaquetas e, pelo menos por enquanto, ele não tem essa pretensão.

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A exposição no Brasil

A mais nova notícia envolvendo o estilista japonês é a melhor para os fãs brasileiros. A Japan House São Paulo acaba de abrir “O fabuloso universo de Tomo Koizumi”, mostra gratuita que está em cartaz entre os dias 20 de outubro de 2020 e 10 de janeiro de 2021. Foram selecionadas dez de suas mais significativas criações e ainda foram feitas mais três exclusivamente para a exposição.

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Exposição de Tomo Koizumi na Japan House SP Alisson Louback

“Tomo Koizumi é extravagante, surpreendente, criativo, vibrante. Suas peças são o perfeito encontro da intimidade do trabalho manual ao glamour, sofisticação e teatralidade. Para criar peças de grande impacto, bebe e mescla fontes tradicionais e populares do Japão”, comenta Natasha Barzaghi Geenen, diretora cultural da Japan House São Paulo. A mostra ainda promete cativar os amantes da moda e o público em geral com um panorama contemporâneo pelo olhar do artista.

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