Conheça os estreantes da SPFW N54

A nova edição do evento conta com os desfiles de Heloisa Faria, Greg Joey, de Lucas Danuello, Maurício Duarte, e Buzina, de Vera Fernandes.


Estreantes SPFW



A 54ª edição da São Paulo Fashion Week começa na próxima quarta-feira, 16.11, e se estende até domingo, 20.11. Além dos nomes já conhecidos, quatro novos integrantes estreiam no line-up do evento. São eles: Maurício Duarte, Greg Joey, de Lucas Danuello, Heloisa Faria e Buzina, de Vera Fernandes. 

Buzina

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Foto: Divulgação

Portugal estará presente no calendário da moda brasileira com a marca Buzina, de Vera Fernandes. Por influência de sua avó materna, “uma modelista de mão cheia”, como diz a estilista, a criação de roupas é algo que Vera faz desde menina. “Passava as tardes a fazer saias para mim mesma”, relembra. A atividade só virou carreira mais tarde, quando se tornou mãe e começou a Meninamanel, etiqueta destinada às crianças. O projeto acendeu as chamas para fazer algo que seria ainda maior. “Percebi que as minhas clientes também se identificavam com a minha forma de vestir, e pensei: ‘por que não criar a minha própria marca?’”. Assim, em 2016, ela lançou a Buzina.

“Determinei que queria entrar no mercado da moda para fazer diferença, para fazer muito ruído, tal como uma buzina”, diz, sobre o nome de sua grife, que veste mulheres seguras e com atitude. Vera acredita que é preciso um certo tipo de atrevimento para bancar suas produções.

Na coleção que será desfilada, essa irreverência aparece por meio do brilho, do exagero e da feminilidade exacerbada. A inspiração são mulheres da década de 1950 que romperam com as normais sociais, embora se enquadrassem no estereótipo de mulher perfeita. “Um pouco como o novo filme da Barbie, nossas ‘bonecas’ começam a perceber que não têm de se ser todas iguais umas às outras”, fala.

O empoderamento não é apenas um tema, ele também é refletido no processo de produção artesanal. Cada costureira é responsável por uma peça, realizando-a do início ao fim. “Só assim conseguimos que a roupa seja emblemática, com o envolvimento e consciencialização por inteiro de cada pessoa”, comenta, sobre sua equipe, que é formada por mulheres entre 20 e 70 anos – da costura ao escritório. 

A sustentabilidade, além de social, também aparece em outras estruturas da marca: para reduzir o uso de energia, tudo que produz acontece num raio de 11 quilômetros, do fornecimento de tecido à confecção. A recuperação de matéria-prima parada em fábricas parceiras, visando reduzir o desperdício, é uma outra estratégia. “Tudo é olhado ao pormenor”, finaliza Vera, que se apresenta na quinta-feira, 17.11.

Greg Joey

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Foto: Lucas Affonso

Greg Joey é o nome da marca encabeçada por Lucas Danuello, de Bauru, interior de São Paulo. Mas é também o nome de dois personagens de uma sex tape que viralizou na cena gay underground na década de 1990. “As fitas eram recebidas pelos Correios – não existia Instagram ou Tik Tok na época – e pouco se sabe sobre a origem ou os personagens delas, gerando uma curiosidade sobre quem são até hoje”, conta o estilista, que os levou como inspiração para nomear sua marca, lançada em 2019. 

O teor cult daquele vídeo, e também de outras referências, é uma grande base para suas criações. “No cult, existe um fator de estranheza. Às vezes, até um certo tabu envolvido, como no caso do sex tape. Eu tento tirar alguma coisa desse lugar”, reflete. Tal estranheza é traduzida em roupas amplas e volumosas que provocam os “limites” entre masculino e feminino. O vestuário genderless não é somente uma adaptação ao zeitgeist deste milênio, mas um valor que Lucas vive de forma prática desde a infância. “Isso veio muito dos meus pais, porque cresci os observando emprestando roupa um para o outro. Eu também usava a roupa dela e dele. Então, nunca tive muito essa percepção do gênero em uma roupa”, explica. 

A modelagem oversized das peças também é um reflexo de um comportamento pessoal que Danuello incorpora na Greg Joey. “Ela permite que você brinque com a forma do seu corpo, permitindo diferentes amarrações. Acho que acolhe um público maior – o gordo, o magro, o alto, o baixo”, diz, adiantando que essa versatilidade das formas poderá ser observada no casting diversificado de seu desfile. 

Inspirada em filmes de terror, a coleção é uma discussão sobre o conceito do feio e do grotesco, e como esses contrapontos participam da concepção do que achamos belo e gracioso. “É um novo momento para a marca, com um novo jeito de propôr o que eu já faço”, finaliza. Seu desfile será apresentado na quarta-feira, 16. 11.

Heloisa Faria Ateliê

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Foto: Thais Vandanezi

A paulista Heloisa Faria começou sua trajetória na moda com o coletivo P’tit, fundado com amigos, no qual apresentava coleções elaboradas a partir do upcycling de roupas antigas. “Foi um laboratório maravilhoso, mas chegou uma hora em que cada um quis seguir seu caminho”, conta a estilista. Em 2010, ela lançou seu ateliê homônimo, que, mais tarde, passou a integrar o line-up da Casa dos Criadores, assim como seu antigo coletivo. “Voltei a fazer desfile, e sempre com essa pegada da moulage para poder explorar volumes diferentes e também o upcycling, fazendo garimpo de tecido, de aviamento, de roupas”, detalha sobre as principais características de suas criações. 

“Também trabalho com tecidos novos, mas o vintage sempre participa desse desejo de criar uma atmosfera, um mood (a cada coleção). Além disso, a pesquisa começa no garimpo. Busco referência tanto em roupa quanto em tecido antigo”, comenta Heloisa. O interesse pelo retrô é algo que aconteceu naturalmente em sua adolescência. “Sempre comprei em brechó e gostei de história da moda.” E isso aparece não só em suas matérias-primas e influências, mas também nas formas e estampas de suas roupas. 

Para a coleção que será apresentada na sexta-feira, 18.11, ela desenvolveu um desenho que respira épocas distantes e que decora vestidos azuis de seda, uma colaboração realizada com o artista Matheus Baz e a estamparia Salete. “Vão ter também alguns achadinhos vintage, como tecidos listrados que eu plissei”, adianta. “É parte do DNA da marca, não tem como.”

O desfile acontecerá digitalmente por meio de um fashion filme que narra o encontro de uma pessoa com uma máquina de sonhos, e que parte para várias viagens a partir dessa descoberta. “Vai ser algo bem livre e bem colorido”, diz animada. Outro ponto que a deixa feliz é o da gravação ter acontecido no Parque Caminhos do Mar. “É uma estrada antiga, da época de Dom Pedro II, com caminhos de pedra e construções lindas.”Mais uma vez, o passado aparece para fazer história em sua carreira.

Mauricio Duarte

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Foto: Cortesia | Mauricia Duarte + MURACA

“As manualidades estão presentes na minha vida desde a infância”, comenta Maurício Duarte, que é filho de artesãos. Nascido em Manaus, o designer de 27 anos é indígena Kaixana e encontra em suas origens a força e a inspiração para trilhar seus passos na moda nacional. 

“Estudei em escola pública de período integral, e tínhamos um tempo maior para as artes. A primeira camiseta que pintei foi em uma aula de arte”, revela. Contudo, a moda não veio como primeira opção profissional. Após o ensino médio, emendou a Faculdade de Educação Física, percebendo de imediato que gostaria de seguir por outros rumos. A descoberta do vestuário aconteceu por meio de cursos e oficinas realizados com apoio do Estado. “Depois de um tempo, entrei no SENAI e participei de uma competição chamada Olimpíada do Conhecimento, que me fez conhecer um pouco mais sobre o vitrinismo, primeira área em que atuei na moda. Em 2014, fiquei em primeiro lugar e representei o Amazonas, e, em 2015, representei o Brasil na etapa mundial. Em 2016, ganhei a bolsa na Faculdade Santa Marcelina.”

A mudança para São Paulo veio acompanhada do desafio pessoal de furar a bolha de privilégios existente no mercado. “O Norte continua em um lugar de invisibilidade. Não só o Norte, como também o artesanato e nós, povos indígenas. Entramos muitas vezes nesse lugar de cota e percebo uma certa resistência geral”, argumenta. “Meu trabalho sempre trouxe características como escamas de peixes, plumagem, texturas de árvores e folhas. Percebia que era difícil para as pessoas entenderem (as referências) quando elas não são tão curiosas para entender a nossa realidade no Amazonas. Porém, isso me desafiou a trazer cada vez mais rios, canoas e xilogravuras às criações. Falar do meu lugar de origem não só agregou ao meu trabalho, como me trouxe mais pertencimento”. 

Por isso, para sua apresentação na SPFW, que acontece em formato de fashion film, no domingo, 20.11, Maurício retorna a sua casa e grava em comunidades sustentáveis, como o Tumbira, e na vila Inhaã-bé, com o povo Kambeba, Tikuna, Sateré Mawé e Kokama, introduzindo também a participação de vozes ativas da luta indígena e ribeirinha. “Fiz questão de trabalhar com uma equipe com pelo menos 95% de pessoas Manauara, indígenas, racializadas e LGBTQIA+. Porque quem melhor que nós para falar de nós?”, defende. “Conseguimos amarrar muito bem a forte herança da energia e da cultura indígena com um requinte de moda mesmo. Está um desfile muito lindo.”

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