Discurso e beleza se unem no segundo dia de Casa de Criadores

Mônica Anjos e Guilherme Dutra, do Desafio Sou de Algodão, são os destaques do segundo dia de evento.


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O segundo dia de desfiles da Casa de Criadores foi marcado pela apresentação dos oito finalistas do 2º Desafio Sou de Algodão. Com propostas completamente diferentes, Christian Sato, Esron Candeia, Gabe do Vale, Guilherme Dutra, Joyce Campos, Thayna Marques, Thays Veronez e Wender Neves, estudantes de moda de todos os cantos do país, apresentaram sua moda jovem nas passarelas do evento. Foram 400 inscritos e apenas três ganhadores.

Christian Sato ficou em terceiro lugar com seu patchwork e estampas de pespontos, enquanto Wender Neves abocanhou o segundo lugar com seus volumes e técnicas de superfície em tons terrosos. Já o prêmio principal foi para Guilherme Dutra, que uniu discurso e beleza em uma só coleção. Em suas pesquisas, o estilista descobriu que o xadrez é, na verdade, de origem africana. Por muitos anos, a padronagem foi associada à uma estética eurocentrada, mas, nesta coleção, a ideia é voltar às raízes. Nessa busca por uma nova identidade que misture referências africanas com o que já conhecemos do xadrez, o designer lança mão de volumes extremos na lateral de blazers, mangas bufantes e toda uma sorte de distorções de silhueta que caem muito bem acompanhadas de sua alfaiataria.

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Sônia Guajajara desfila para Mônica Anjos.Foto: Marcelo Soubhia/@agfotosite

Outra estilista que seguiu o mesmo rumo foi Mônica Anjos, soteropolitana que criou sua etiqueta dentro dos movimentos sociais. “A marca nasce na militância e carrega esse manifesto em cada coleção. Agora, principalmente. Por isso, escolhemos falar do momento político que estamos vivendo”, explica. A apresentação começa e termina com um discurso de Bia Ferreira, mais conhecida como @igrejalesbiteriana, clamando por justiça em casos de assassinato da população negra e por democracia racial.

Casacos, blazers e conjuntinhos jeans ganham tratamento brilhante e silhuetas assimétricas, enquanto a parte mais festiva da coleção é bordada e decorada com fitas que formam vestidos e blusas. Em algumas peças, lê-se “todo poder ao povo preto” e “Brasil terra indígena” – a ativista Sônia Guajajara desfilou com um casaco todo de patchwork –, frases pintadas à mão pelo artista plástico Fagner Bispo. Mônica Anjos não acredita em uma moda que milita só por militar. Em cima do seu discurso, há uma preocupação em entregar uma roupa luxuosa e bem feita. “Gosto de trazer luxo para o meu trabalho. Minha marca não é só sobre dores, mas também sobre conquista”, completa.

Experiência pessoal

Há também quem trouxe muito de suas vivências e sentimentos mais pessoais para a passarela do segundo dia de Casa de Criadores. É o caso de Gui Amorim, do Estúdio Traça, que relembra o começo da sua marca em Santos, dez anos atrás, e ressignifica sua relação com a praia. Nesse movimento de novas descobertas, ele trabalha com tricô, camisaria e moletom para criar vestidinhos curtos, peças listradas com babados e croppeds perfeitos para um dia sob o sol. O jeans de upcycling, matéria-prima preferida do estilista, ganha lavagens a laser para diminuir o desperdício de água, enquanto os novos materiais explorados pelo designer também vêm com essa preocupação por sustentabilidade e manufaturas responsáveis.

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Estúdio Traça.Foto: Marcelo Soubhia/@agfotosite

A mesma autoreferenciação aparece no desfile da NotEqual. Fábio Costa decidiu celebrar os quase dez anos da marca reinterpretando peças que fazem parte da sua história e, em alguns casos, trazendo de volta itens que foram apresentados online e mereciam ser vistos nas passarelas presenciais. Para esse desfile em específico, o estilista também trabalha algumas estampas digitais, que aparecem pontualmente entre sua alfaiataria utilitária.

Nesta temporada de retorno pós-pandemia, Costa preferiu reafirmar os códigos já estabelecidos da marca, em uma coleção coesa e cheia de boas peças para agradar seu público. Quem também foi por esse caminho foi Jorge Feitosa. Em uma coleção dividida em três blocos, um vermelho, um azul e um estampado colorido em base escura, ele trabalha plissados, matelassados e peças modulares que se transformam e complementam através de zíperes.

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NotEqual.Foto: Marcelo Soubhia/@agfotosite

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