Dover Street Market Paris: o belo caos de Rei Kawabubo

O novo templo da moda em Paris mistura jovens designers e alto luxo, arte e gastronomia, do jeitinho que a estilista japonesa gosta.


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Dover Street Market Paris, no Marais.



Desde maio de 2024, quem passa em frente aos números 35-37 da rue des Francs-Bourgeois, uma das mais badaladas do Marais, não consegue imaginar que ali dentro, no prédio onde viveu Madame de Sevigné, se abriga um dos mais novos templos de luxo da cidade.

O edifício conhecido como Hotel de Coulanges, construído entre 1627 e 1634, abriu suas portas ao público pela primeira vez para receber a versão parisiense da icônica Dover Street Market, a boutique multimarcas criada por Rei Kawakubo, a influente designer japonesa da marca Comme des Garçons.

Inaugurado em 2004 por Rei e seu marido, Adrian Joffe, o projeto das lojas-templos nasceu em Londres (vem daí o seu nome, uma referência a uma rua londrina) e possui filiais em Nova York, Tóquio, Singapura, Los Angeles e Pequim. Agora, chega ao seu oitavo endereço no mundo e ao segundo em Paris, já que nas proximidades existe a Dover Street Parfums Market.

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E tudo é discreto nesse universo que mescla arte, luxo, streetwear e gastronomia – não há sequer nome nas fachadas.

No primeiro piso, encontra-se o Rose Bakery, famoso salão de chá parisiense, de propriedade de Rose Carrarini, irmã de Joffe, e as peças mais icônicas da Comme des Garçons, apresentadas com o intuito de permitir uma apreciação cuidadosa, uma vez que as coleções se revelam ao longo do caminho.

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Reconhecida por sua estética radical e singular, a estilista mais uma vez desafia os códigos do gênero. Longe dos espaços lineares das boutiques tradicionais, ela concebe uma loja que mistura suas criações com peças de luxo e de jovens designers. É um labirinto cuidadosamente elaborado, que promove um “belo caos”, como Rei costuma falar.

Dover Street Market: de Vaquera e Hodakova à Phoebe Philo

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Chaveiro da Vaquera, uma das marcas que fazem parte do mix da DSMP e também do grupo de criadores no qual a empresa de Rei Kawabubo investe.

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Top da Hodakova à venda na DSMP.

Além das dez linhas da Comme des Garçons, incluindo a popular PLAY, com seu icônico coração vermelho, a Dover Street Market Paris oferece seleções especiais de peças da Bottega Veneta, Balenciaga, Miu Miu, Sacai, Prada e da récem-ganhadora do LVMH Prize 2024, Hodakova, uma marca sueca que foca pesado na reutilização de materiais.

Mas a grande novidade é o anúncio entusiasmado de que começará a vender também a disputadíssima Phoebe Philo – a terceira coleção da estilista inglesa, ex-Celine, chegou às lojas dia 10 de setembro.

Fora isso, a Dover tem uma divisão de desenvolvimento de marca e apoio a criadores emergentes na produção e marketing, como a nova-iorquina Vaquera e o artista visual americano Westfall.

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Nada permanece no mesmo lugar de uma temporada para a outra.

A cada temporada, tudo na loja é completamente redesenhado segundo o princípio do tachiagari, que significa “começo” em japonês. Diferentemente de outras filiais, onde algumas marcas dominam visualmente o espaço, em Paris, tudo carrega o toque de Rei, refletindo seu conceito de caos.

Essa abordagem coloca as marcas em pé de igualdade, descentralizando o foco das peças de luxo e permitindo que o consumidor explore livremente o ambiente até encontrar o que mais lhe agrada.

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Na DSMP, os vendedores se confundem com os compradores.

A lógica de “caos” se estende à seleção dos vendedores – não há padronização de uniformes, o que contribui para a singularidade de cada um e do local.

Cada vendedor tem sua própria linguagem corporal, destacando-se como parte viva deste intrigante espaço. Curiosamente e feito raro na indústria, nenhum deles é obrigado a usar Comme des Garçons – o que torna a experiência ainda mais autêntica, a ponto de, em alguns momentos, ser difícil distinguir quem é vendedor e quem é cliente.

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O subsolo mostra coleções que vão de Margiela à Vaquera ou Balenciaga. Nada é linear.

A “nova bagunça” de Rei Kawakubo ocupa 1.100 m², e nenhum cabideiro é imediatamente visível. É necessário passear entre as peças de estética crua, contornar divisórias sinuosas e subir a majestosa escadaria original para finalmente descobrir as roupas, que são apresentadas em móveis brancos arredondados e telas de malha de aço personalizadas por Rei e fabricadas no Japão.

A tubulação exposta no teto, os pisos preservados e uma camada de tinta nas paredes sem nada pendurado evidenciam o respeito pela estrutura original do edifício. Rei, vale destacar, sempre se esforça para manter elementos pré-existentes em suas lojas. Em comunicado, a marca explica: “A própria natureza do design leva a uma viagem de descoberta. Kawakubo costuma dizer que quanto mais o cliente é capaz de encontrar as coisas por si mesmo, maior é o seu sentimento de satisfação.”

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As peças da Charles Jeffrey Loverboy fazem parte da linha streetwear da DSMP.

Por fim, no subsolo, fica a área de streetwear, com cerca de 150 marcas e uma ampla gama de preços que atendem desde adolescentes em busca de peças a partir de 30 euros até executivos dispostos a investir em casacos de couro que podem superar 10 mil euros.

A ala dos tênis também se destaca, com uma variedade que começa em torno de 130 euros, o que é bastante razoável para um espaço desse porte.

Moda e arte

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A atual exposição da DSMP traz as fotos e as instalações do artista Marc Leschelier.

E, se tudo isso não parecer o bastante, tem mais: Matty Bovan foi convidado a ocupar um nível inferior, uma espécie de porão com pedras expostas. Formado na Central Saint Martins, o estilista inglês recebeu liberdade criativa para criar uma instalação que recriou o seu mundo colorido – um apartamento decorado à mão e um rack com sua coleção cápsula.

Uma visita é mais do que recomendada.

Serviço:
Dover Street Market Paris
3537 Rue des Francs Bourgeois ·
Todos os dias, das 11 às 19h.

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