Doze novas marcas para ficar de olho

De camisetas a acessórios e sapatos, apresentamos algumas das grifes e criadores mais interessantes do momento.


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O mercado pode não estar muito para peixe neste resto de 2020, o que não quer dizer que não haja novidade por aí. Em sintonia com questões urgentes e relevantes para o contexto atual, uma leva de criadores quer mudar a maneira como se produz moda e como nos relacionamos com o que consumimos e vestimos. Conheça doze deles a seguir:

Teodora Oshima

Sabe o vestido vermelho usado por Iza na capa da primeira ELLE Premium? Então, é de Teodora Oshima, estilista que lançou há poucos meses sua marca homônima. Natural de Campinas, a paulista de 30 anos teve seu primeiro contato com moda ainda no colégio, mais precisamente na sétima série, por meio de uma revista de coleções. “Me apaixonei, mas meu pai não enxergava isso como profissão, então virou um sonho distante”, conta.

Decidida a tornar seu sonho uma realidade, ela se mudou para São Paulo em 2011 para estudar estilismo na Faculdade Santa Marcelina. “Foi quando entendi as possibilidades do mercado e que aquilo era possível pra mim”. Após uma rápida experiência com o chapeleiro Eduardo Laurino, conseguiu um estágio com Helô Rocha, ainda na Têca, antiga marca da estilista. O estágio evoluiu para um cargo fixo, cada vez com mais autonomia.

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Teodora Oshima.Foto: Cai Ramalho

No meio do caminho, a Têca virou Helô Rocha, mais focada no mercado de festa e sob medida e, em 2017, Helô foi contratada pelo grupo Restoque para criar a Atelier Le Lis Blanc, linha mais exclusiva da marca. Teodora acompanhou a antiga chefe até o encerramento da etiqueta, em 2019, quando decidiu alçar vôo solo. “Comecei uma pesquisa para me aprofundar na minha ancestralidade enquanto travesti nipo-brasileira. Fiquei um tempo nesse processo para entender o que fazia sentido para mim dentro de referências da cultura japonesa, imagens, silhuetas, etc”, diz. Ao longo da carreira, trabalhou de perto com o feito à mão e desenvolveu um apreço por peças produzidas dessa forma, num timing bem específico.

Logo que se desligou do antigo emprego, deu início a uma parceria com a cantora Liniker, que foi o empurrão que faltava para própria empreitada. “Ela me convidou para criar um look para uma turnê e foi incrível, pois comecei a exercitar meu ofício”. A pandemia veio na sequência, mas a estilista não desistiu. “Tive medo de lançar a marca, mas queria essa autonomia, porque já havia passado por muita coisa e visto o quão abusivo, racista e LGBTQfóbico o mercado é”, afirma. “Queria liberdade para me fazer o que acredito, para poder trabalhar mais com pessoas pretas, trans e travestis em um ambiente saudável.”

Minimalismo, conforto e contrastes de shapes e materiais são algumas das características de Teodora Oshima, que curte mixar referências e jogar com transparências, recortes e fluidez versus construções mais fechadas e estruturadas. Plissados, nervuras e pregas enchem de charme os looks da coleção de estreia, que já está disponível para encomendas online, via Instagram e, em breve, no ecommerce próprio. Em paralelo ela segue colaborando com artistas como Felipa Damasco, com quem está desenvolvendo um projeto em parceria com a Melissa. Vem coisa boa por aí.

+ @teodoraoshima

Normando

Parece história pronta, mas assim como muitos estilistas, Marco Normando aprendeu a costurar com a avó. “Ela fazia desde enxoval até roupa de debutante, então aprendi a cortar tecido, conhecer o fio, o que era trama, curtume, etc”, diz o paraense de 29 anos. Mais do que o know how, contudo, o que realmente fez a diferença no momento de lançar a própria marca foram suas raízes em Belém.

“Quis trazer características de afeto à marca por meio de experiências do meu imaginário nessa cidade cosmopolita com lugares muito bonitos, um entorno de rios lindos e praias de água doce, numa mistura louca com o mar”, explica. Salinas e Mosqueiro são algumas dessas regiões que inspiram a coleção de estreia da Normando, marca fundada em 2019 ao lado do artista visual Emídio Contente, parceiro de vida e negócios. “Como o ateliê começou em casa fui me envolvendo de uma forma muito natural e quando vi, estava totalmente imerso”, diz Emídio.

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Normando.Foto Cortesia | Normando

Por meio das roupas a dupla interpreta elementos da fauna e flora local, ora mais literal, como no caso da camisa vitória-régia que reproduz o shape redondo e as nervuras da planta, ora mais subjetivamente, como no blazer assimétrico Pirarucu ou no vestido Rio Amazonas. A arquitetura modernista e a fotografia contemporânea também são grandes fontes de inspiração e aparecem em cores e texturas. Elza Lima, Guy Veloso e Luiz Braga são alguns dos artistas que influenciaram as criações da etiqueta. “Abrimos um livro de Braga enquanto pesquisávamos a cartela de tons da coleção e começamos a fazer um contraponto entre as cores fortes do trabalho dele com a obra do Guy, que retrata muito o cotidiano do interior do Pará”, explica Marco.

Tratar da beleza dentro da banalidade cotidiana é outra característica da grife e é algo que dialoga diretamente com as imagens de Elza Lima, com quem a dupla colaborou na campanha de lançamento. “Ela é apaixonada por moda e queria participar de algo jovem, com pessoas que tivessem uma visão mais poética”, diz Emídio. “Existia essa vontade de colaborar com uma mulher, afinal somos dois homens dentro da marca e senti que precisava de uma voz feminina”, completa Marco. Para a collab, Elza selecionou algumas imagens com o tema da natureza e dos rios em seus arquivos. “Tudo com essa característica de um êxodo urbano e um ar mais escapista paro o campo e o interior, fugindo da cidade”, completa Marco.

Hoje, o casal vive e trabalha em São Paulo (o ateliê da marca fica na Rua Libero Badaró, no centro da cidade), mas visitam Belém sempre que conseguem. “É muito louco, porque estamos ao lado da prefeitura, acontecem manifestações o tempo todo, mas essas interferências também são muito bem-vindas em nosso processo criativo”, conta Normando, que é formado em moda pela Universidade da Amazônia, participou do Movimento Hotspot, em 2012, e trabalhou com Alexandre Herchcovitch antes de encarar a empreitada independente.

+ normando.co

Dod Alfaiataria

Juares Tenorio, ou Jubba, sempre foi do skate, mas emprestava do pai, Antônio, o estilo de vestir, especialmente as calças de alfaiataria. “Ele era uma referência positiva pra mim e, hoje, me pareço com ele nos anos 1970, com calça de alfaiataria, tênis jogger e camiseta” diz o designer paulistano à frente da Dod Alfaiataria. O gosto por moda, veio no fim dos anos 1990, quando foi trabalhar como vendedor na Forum. “Comecei a entender que não precisava me limitar apenas ao visual do skate e passei a trazer outros elementos para o meu universo”, conta.

Na estante de casa, revistas Trasher passaram a dividir espaço com ELLE, Harper’s Bazaar, entre outras. “Até hoje é assim, mas na época via como o skate influenciava a moda, as colaborações entre atletas e marcas, algo que só foi crescendo”. No Brasil, poucos já tinham sacado essa conexão e Jubba foi um dos primeiros a levantar a bandeira fashionista dentro da comunidade skater. “Sempre fui o amigo zuado, com trança na barba, vários anéis. Curtia me vestir de um jeito mais social que me permitia ir para o rolê e depois trabalhar, ir em festa, sem precisar parar para me trocar.”

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Dod Alfaiataria.Foto: @CSIOANDREASI

Em meados dos anos 2000, ele já havia conquistado experiência suficiente no varejo para entender como a moda masculina era limitada no Brasil. “O homem é tratado como coadjuvante, o mercado é muito careta, é tudo parecido. Eu não encontrava o produto ideal que caísse bem na minha silhueta magra e alta”, conta. “Como não sou de reclamar, decidi fazer por conta própria.”

Ao lado de um costureiro e alfaiate, ele começou a reformar algumas peças de brechó e a produzir suas próprias. “Para entender o processo e os shapes, fiz alguns cursos de modelagem no Sigbol Fashion e na Culture Lab”, fala. A partir daí, ele passou a adaptar suas calças também para o esporte. “Aumentei o gancho para uns 3cm acima do padrão da indústria, ampliei as coxas e encurtei as barras. Acho que testei umas 10 até chegar na ideal.”

Isso despertou o interesse dos amigos que passaram a procurá-lo para encomendar ou reformar peças. “Comecei a fazer sem pretensão alguma de ganhar dinheiro, até uma amiga sugerir a criação de uma conta no Instagram para divulgar meu trabalho, no final de 2018.” Desse misto de boca-a-boca com perfil nas redes, surgiu a Dod, em referência à sonoridade das palavras Dândi e Daddy. “A marca é o resultado do que juntei desde a minha mais ancestral referência do meu pai aos lugares onde trabalhei e vivi”, explica. “É muito mais sobre a troca com pessoas do que a venda de um produto.”

Com uma dupla de alfaiates que encabeçam a produção, Jubba se concentra na criação, modelagem e nos clientes que faz questão de atender pessoalmente por meio de visitas agendadas. “A galera vai me trazendo referências e brisamos juntos. Atendo de 25 a 30 pessoas por mês, mas também tenho um plano de site onde irei oferecer 3 shapes: High, com modelagem bem ampla, Classic, para o dia a dia, e a Casual, mais ajustada ao corpo.” Todos os forros são feitos a mão e a lã fria é o principal material utilizado pela Dod, que também atende clientes em uma loja de tecidos no centro de São Paulo. “É um processo exclusivo e especial em que todo mundo me inspira e que também serve para a galera acreditar que é possível colocar a mão na massa e fazer as coisas acontecerem.”

+ @dod_alfaiataria

Minco

Fundada por Melanie Swidrak em 2018, a marca de objetos e acessórios artesanais surgiu de uma paixão antiga pelos processos manuais e brincos. “Não tenho experiência anterior em moda, mas achei que seria uma boa designer de acessórios. Comecei a desenvolver minhas habilidades e fui aprendendo as técnicas na prática, avançando com o tempo”, diz a argentina radicada em São Paulo há nove anos.

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Minco.Foto Cortesia | Minco

Formada em publicidade e propaganda pela Anhembi Morumbi, Melanie trabalhou na área durante seis anos, fazendo marketing de produto, planejamento estratégico, consultoria e pesquisa de tendências para marcas e agências como o WGSN. Em 2018, ela se viu esgotada e tirou um tempo para exercer o lado criativo. “A marca surgiu de um insight, mas também de um desejo de manipular formas e cores”, explica ela, que, junto da fotógrafa Camila Tuon, lançou a Minco naquele mesmo ano. “No começo, trabalhávamos muito com resina, depois migrei para pérolas naturais, porcelanas e vidro.” Com o isolamento social, veio uma vontade de testar novos materiais, como cerâmica e metais. “Adoro experimentar e acho que, hoje, o meu trabalho é fruto do não saber, porque eu não sou uma designer ou ourives e, sim, uma artesã que cria acessórios para o corpo e, quando dá na telha, para a casa.”

Em ritmo de slow fashion, a Minco lançou neste ano uma primeira coleção propriamente dita, ainda assim com tiragem pequena. “Acho a repetição um pouco chata. Faço no máximo cinco pares iguais e não trabalho com estoque.” Peças novas são adicionadas aqui e ali e Melanie mantém uma reprodução de modelos mediante a disponibilidade de material, além de aceitar encomendas sob medida ou para editoriais de moda. “Me interesso pelo processo de produção das coisas, na percepção de que os objetos têm vida própria”, reflete. “Desta forma, por si só eles despertam emoções, memórias e afeições múltiplas”. Atualmente a loja virtual está com uma promoção e o resultado das novas experimentações deve ser revelado nos próximos meses.

+ @minco.co

Baobá

“Sempre quis ter algo feito por mim e que marcasse positivamente a autoestima das pessoas”, conta a paulistana Larissa de Souza Santos sobre a Baobá, marca de acessórios que fundou há 3 anos com o namorado Gabriel Wesley. “Somos artistas independentes e já fazia algum tempo que estava interessada em criar acessórios. Com o apoio dele, consegui tirar a ideia do papel”, diz Larissa.

Os brincos são o carro-chefe da marca, um gosto que foi herdado da avó, Maria de Lourdes. “Ela trabalhava como empregada doméstica e costumava me dar de presente os brincos e colares que ganhava das patroas”, lembra. “Os brinco eram os únicos acessórios que tinha e, até hoje, é uma peça que não consigo tirar, nem para dormir”. As doações de roupas também eram frequentes e, desde cedo, ela já customizava suas peças com pinturas, desenhos e outras intervenções artísticas. Foram os grafites, contudo, espalhados pelos muros de São Paulo, que realmente a inspiraram a seguir uma carreira criativa.

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Baobá.Foto Cortesia | Baobá

Apesar de não ter formação acadêmica, Larissa estudou de tudo um pouco. “Fiz curso de comunicação visual no Senac, oficinas de produção de vídeo, visual merchandising, aulas de modelagem e costura. Estou sempre estudando alguma coisa.” Essa curiosidade constante e generalizada é vista também nas criações da Baobá, nome que reflete uma das maiores e mais antigas árvores que existe. “Estamos sempre pesquisando novos materiais e possibilidades criativas para trazer originalidade às peças”, explica. “Agora, por exemplo, estamos experimentando com cerâmica e tecido de tela. Também gostamos de trabalhar com pedrarias, miçangas, porcelanas, linho e pinturas.”

Com inspirações que resgatam diversos elementos da cultura afro, a Baobá trabalha com criações individuais, mas pretende desenvolver coleções temáticas em breve. “Por enquanto, atendemos sob demanda e é possível reproduzir alguns modelos”, finaliza a designer, que tem concentrado as vendas pelo Instagram, em um perfil também ilustrado com as obras de arte desenvolvidas pelo casal.

+ @ba.o.ba

Robert Wun

Cardi B., Erykah Badu, Lady Gaga, Solange Knowles, Celine Dion, Charlie XCX. Esses são só algumas artistas que já se apresentaram ou simplesmente foram vistas com um look criado por Robert Wun. Conhecido por criações esculturais, que misturam elementos da natureza com um mood futurista, o estilista é um dos nomes mais promissores da cena londrina.

Filho de pai mongol e mãe tibetana, Robert nasceu em Londres, mas se mudou com a família para Hong Kong aos 3 anos. “Meus avós permaneceram no Reino Unido, então passava pelo menos uns 2 meses por ano com eles”, conta ele. “Quando meu pai percebeu que eu queria seguir carreira criativa, achou melhor que isso acontecesse em Londres, onde há mais oportunidades no mercado.” Após ingressar na London College of Fashion, em 2007, ele estabeleceu de vez a residência na cidade e engatou um estágio com Lucas Nascimento, que havia acabado de ganhar um patrocínio do projeto Newgen.

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Robert Wun.Foto Cortesia | Robert Wun

Após a experiência no time do estilista brasileiro, Wun fez mais alguns estágios em revistas de moda, entre elas a Dazed. “Nessa época passei a frilar como stylist, desenvolvendo conceitos e direção criativa para os títulos do grupo, entre outras publicações.” Em paralelo, ele estava montando sua coleção de graduação e logo chamou a atenção do grupo JOYCE, responsável pelo primeiro investimento no designer e pontapé para seu próprio negócio. “Sempre tive dificuldade de conseguir apoio de programas como Newgen e Fashion East, que preferem estilistas 100% britânicos”, diz. “Então fiz tudo por minha conta, pegando vários trabalhos ao mesmo tempo para poder sobreviver e consegui ver meu negócio decolar.”

Os esforços foram bem-sucedidos e hoje Wun não só veste algumas das principais artistas da indústria musical, como suas criações estão sempre estampadas em capas e editoriais das publicações de moda mais importantes do mundo. “Você não é obrigado a se encaixar em uma categoria específica e quando se é inspirado por algo tão original e genuíno, a autenticidade prevalece”, fala.

Obcecado pela natureza desde a infância, Wun costumava passar horas nos campos e parques próximos de sua casa, colecionando todo tipo de animal. “Pegava lagartos, sapos e cobras, construía aquários e cuidava deles”, lembra. Aos 15, teve seu primeiro contato com moda através de revistas que lia no salão de beleza, enquanto acompanhava a mãe. A partir daí, foi conectando cada vez mais os dois universos.

Hoje, ele gosta de explorar as formas das flores em construções modernas e esculturais. Sua coleção mais recente, de verão 2021, é um estudo sobre o ciclo de vida das flores, uma ideia que surgiu quando Londres entrou em lockdown, no começo do ano. “Há uma floricultura embaixo do meu estúdio e, como todos estavam proibidos de circular, as flores ficaram lá esperando para morrer.” Por não haver ninguém no prédio e sua equipe ser pequena, Wun era o único que podia circular no local. “Todo dia que passava por ali, observava aquelas plantas morrendo lentamente e o jeito que que as pétalas iam se contorcendo ao secarem. Comecei a desenvolver as modelagens e padronagens pensando nos lírios, mais especificamente, e o restante surgiu daí.”

Mesmo com uma lista poderosa de clientes e fãs, Wun ainda sonha em vestir o casting da série Pose. “Não existe um fã maior do que eu, desde a primeira vez que assisti fiquei apaixonado”, diz. “Essas são as mulheres que realmente estão mudando o mundo e quero fazer parte dessa jornada, vestindo pessoas que estão de fato fazendo a diferença e transformando a maneira como a sociedade percebe o feminino e sexualidade.”

+ @robertwun

Miso

Criada em 2019 por Mariane Taminato, a Miso é fruto de um esgotamento e desconforto que a estilista sentia dentro da indústria, cada vez mais massificada, veloz e desenfreada. “Nossa sociedade ansiosa passa por cima de muitos fatores buscando soluções paliativas antes da conscientização e tenta ressignificar antes mesmo de significar”, diz ela, que precisou ultrapassar barreiras internas antes de se aventurar na própria label. “Depois de viver um momento delicado no qual tive de lidar com crises de ansiedade e pânico, esse desejo se concretizou. Antes, precisei desacelerar e buscar autoconhecimento como forma de resgatar a minha própria identidade.”

Nascida em São Paulo, Taminato é o tipo de pessoa que cresceu já sabendo o que quer, desenhando e criando roupas logo nos primeiros anos de vida. “Quando tinha entre 4 e 5 anos, ilustrava bonequinhas com roupas, penteados, sapatos e acessórios de diferentes estilos.” Hoje, esses desenhos estão emoldurados na casa de sua avó Kimiko, conhecida no Brasil como dona Leninha. “Foi dela que ganhei minha primeira máquina de costura infantil e aprendi a fazer barra em paninhos.”

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Miso.Foto Cortesia | Miso

Com 1 ano de idade, sua família foi morar no Japão, onde viveram por 7 anos. “Lá, tive contato com materiais de papelaria, fazia trabalhos manuais na escola, como dobraduras, estamparia e tie dye em camisetas — atividades comuns na grade escolar japonesa. Lembro que fazia minhas próprias revistas de moda, colocava preços e inventava nomes de marcas”, conta. “Tudo isso me estimulou a desenvolver a criatividade e fez eu ter mais certeza da minha vocação. Parece até exagero, mas acho que eu nunca pensei em outro caminho se não a moda.”

De volta a São Paulo e após se formar em moda pelo Senac, em 2010, foi conseguiu uma vaga de estágio na equipe de Alexandre Herchcovitch, com quem trabalhou por boa parte da carreira. “Foi um presente, pois ele é um mentor generoso que sempre transmitiu seu conhecimento com muito carinho e dedicação”, revela. “Seu pensamento criativo único fazia com que, a cada coleção, eu saísse da minha zona de conforto.”

Quando Herchcovitch deixou sua marca homônima, em 2016, Taminato colaborou com Reinaldo Lourenço por um ano, até ser chamada novamente para trabalhar com Alexandre, agora na À La Garçonne. “Pensar fora da caixa, o respeito e a troca de ideias entre estilista e outros profissionais envolvidos no processo de criação são valores que carrego até hoje e que refletem diretamente na minha empresa.”

Na Miso, a estilista gosta de trabalhar com malha em modelagens e peças atemporais para o dia a dia. “Penso na praticidade de se vestir de manhã com uma roupa que dê conta de todos os compromissos ao longo do dia, de forma que atenda com elegância e versatilidade”, define. “Mas tento colocar um pouco de leveza e ironia nisso tudo, propondo uma peça de aparência clássica, mas que, ao mesmo, tempo carregue um detalhe imprevisível.”

A marca ainda está em sua primeira coleção e não tem pretensão de seguir estações, muito menos acompanhar o ritmo acelerado da indústria. “Trabalhamos com produção sob encomenda com o intuito de evitar o excesso de produção, desperdício de matéria-prima. Em troca, possibilitamos pequenas personalizações.” Nesse processo não há intermediários e o cliente fala diretamente com Taminato. “Acredito que, assim, a experiência de compra fará com que a roupa seja valorizada, cuidada e usada por mais tempo”, diz.

Há ainda um cuidado especial com a entrega, onde, ao receber a encomenda, a cliente poderá retornar a embalagem com uma peça de roupa usada. “A Miso se compromete a destiná-la para reciclagem e doação.”

+ miso.aid

Idée Fixe

O que começou como um plano despretensioso entre as amigas Salome Sadunishvili, Ninutsa Ivardava e Tika Kereselidze para criarem modelos de sapatos que gostariam de usar e não encontravam no mercado, se transformou em um negócio próprio. “Foi tudo muito espontâneo, não tínhamos um objetivo específico, apenas seguimos o flow e, quando vimos. a marca estava acontecendo”, explica Ivardava, sobre a origem da Idée Fixe, grife de sapatos lançada em meados de 2017, em Tbilisi, na Georgia.

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Idée Fixe.Foto Cortesia | Idée Fixe

A estética minimalista está no DNA da marca, que trabalha apenas com materiais naturais e fornecedores locais. “Acreditamos na simplicidade e em uma beleza sutil, onde haja pouca intromissão humana”, diz Ivardava. “Nosso processo criativo começa a partir das cores. Uma vez que definimos a cartela, vamos atrás dos materiais para produção.” Manter a espontaneidade na criação é outro aspecto importante para o trio. “Queremos nos divertir e valorizar essa arte tão incrível que é fazer sapatos, então, às vezes, passamos um bom tempo desenvolvendo peças piloto com nossos artesãos até chegar ao produto final”, completa.

As sapatilhas Mary Jane são um hit e já se espalharam pelo feed de Instagram de top fashionistas e influencers como Leandra Medine, Sophia Rosemary, Brittany Bathgate, entre outras. “Também temos uma bota e um modelo de salto baixo que sempre reintroduzimos com novas cores e materiais.” Essa evolução poderá ser conferida na coleção de inverno, que também terá bolsas inspiradas em técnica de tecelagem com fitas de tecido Shaker. “Além disso, estamos introduzindo algumas roupas com tiragem limitada”, finaliza.

+ @idee.fixe

Bruna Pegurier

São poucas as marcas que têm a oportunidade de estrelar no Big Brother Brasil sem precisar fazer um bom investimento financeiro, mas a estilista e designer de acessórios Bruna Pegurier conquistou esse feito através de Manu Gavasi, que usou um de seus colares de porcelana no reality show. “Não tenho televisão em casa e de repente vários amigos começaram a me ligar avisando”, conta Bruna. “Foi engraçado, pois, até hoje, não sei como ela descobriu minhas peças.”

Nascida em Crateús, no sertão do Ceará, Bruna se mudou para o Rio de Janeiro com a mãe em 1986, com o sonho de ser bailarina. “Estudei balé na escola do Teatro Municipal durante sete anos e, quando entendi que não ia ser uma grande profissional, fiquei muito perdida, porque foi um período em que vivia para isso”, conta. Pouco depois, sua madrinha a convidou para trabalhar em uma confecção de roupas que tinha em São Cristovão e Bruna iniciou sua trajetória na moda. “Comecei fazendo bordados manuais, mas tinha 17 anos, então achava tudo meio chato.” A conexão com pessoas, porém, serviu como combustível para continuar explorando o território fashion. “O que mais me encantou foi perceber a quantidade de mãos envolvidas para você chegar no produto final.”

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Bruna Pegurier.Foto Cortesia | Bruna Pegurier

Depois de largar o colegial e passar sete anos trabalhando no varejo de moda, Bruna finalmente se formou no provão do MEC, aos 25, e decidiu estudar moda no Senai. “Tive uma experiência na Maria Bonita Extra, na época comandada pela Andrea Marques, e isso me deu impulso para entrar na faculdade”, conta ela, que, depois, estagiou na equipe de Marques na marca própria da estilista, durante um ano. “Dei muita sorte de começar dessa forma, a Andrea é uma pessoa incrível, generosa e delicada. Foi uma inspiração que pude levar para frente.”

A partir daí, Bruna não saiu mais do mercado e colheu experiências na Mara Mac, Richards, A. Brand, entre outras. Em 2014, passou por uma crise de identidade profissional e, em busca de autoconhecimento, começou um curso de cerâmica e porcelana. “Fiquei encantada com o trabalho manual”, lembra. “Me trouxe memórias da infância no sertão e me deu vontade de criar com esses materiais.” Uma de suas primeiras peças foi um colar de estilo rudimentar. “Postei umas fotos e uma amiga que era assessora de imprensa gostou e acabou me conectando com Roberta Damasceno, da [multimarcas] Dona Coisa, para criar uma pequena coleção”. Os modelos se esgotaram no dia do lançamento e ela passou a desenvolver itens pontuais em colaboração com amigos como Guto Carvalho Neto, Fernando Cozendey e Eloi Nascimento.

Em 2017, uma viagem para Berlim expandiu ainda mais seus horizontes. Lá, Brunadecidiu montar o Lascivia Project, um projeto artístico que explora a liberdade sexual pelo olhar feminino. “A ideia era fotografar falos masculinos e transformá-los em esculturas de porcelana.” Para isso, usou o Tinder para conseguir o maior número de modelos no menor espaço de tempo possível. O projeto foi exposto em Berlim e no Rio de Janeiro e, possivelmente, se tornará um zine em parceria com a plataforma Herética.

Atualmente, a designer faz parte da equipe de estilo da Eva, do grupo Reserva, e segue com sua produção de acessórios, agora numa pegada mais comercial. O processo, porém, não mudou e é todo feito a mão com porcelana. “Gosto que as coisas sejam simbólicas, que façam sentido.” O colar usado por Manu Gavassi se tornou uma peça assinatura e possui uma plaquinha que pode vir gravada com signos do zodíaco ou personalizada. “Quando era criança minha mãe fazia questão que eu tivesse brochinhos descritivos, então quis fazer algo que lembrasse isso e resgatasse memórias afetivas”, diz. “Gosto de criar coisas singelas que despertem sentimentos gostosos.”

+ @bruna.pegurier

Argalji

Para Monique Argalji a moda corre no sangue: sua família possui uma fábrica de lingerie no Rio de Janeiro. “Cresci ao redor de máquinas de costura e todo esse lado industrial”, diz ela, sem se aprofundar muito no assunto, afinal sua trajetória no mercado sempre foi bastante independente. Tanto que, antes de fundar sua label homônima, ela já havia lançado duas outras marcas. “Foi um preparo até me sentir confortável de estar num lugar de criação mais autoral”.

Aos 22 anos ela criou a My Philosophy, ao lado da irmã Nicole, e começou a desenvolver um interesse maior pela modelagem. “Sou bem ansiosa, queria ver as peças piloto logo, então fui me aproximando das modelistas para entender o processo. De repente, a minha mesa já estava na área de modelagem e me apaixonei por isso.” Ela decidiu se aprimorar na técnica e saiu da sociedade para estudar na Parsons School of Design, em Nova York, e na Central Saint Martins, em Londres. “Fui me aperfeiçoando e nesse processo criei uma marca chamada Lab, para fazer pequenos experimentos e projetos.”

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Argalji.Foto: Carol Bergallo

Com a Lab, Argalji realizou parcerias com amigos como Leo Muqui e Julia Gastin e pequenas coleções de Carnaval para diferentes lojas cariocas. “Fui trabalhando dessa forma até chegar em um momento que eram tantas parcerias que fiquei perdida e senti que era o momento de consolidar tudo isso em uma única identidade.” Foi então que a Argalgi nasceu, há cerca de dois anos. “A primeira coleção chamei de Essência e fotografei na fábrica onde cresci”, conta. “Era um lugar que comunicava a história da marca de um jeito verdadeiro.”

Sem se apegar a um estilo ou perfil, a estilista mistura referências, sempre com uma boa dose de brasilidade. “Gosto de trazer a sensualidade e o calor da nossa cultura através de estampas, por exemplo, e estou sempre pensando em maneiras de traduzir essas inspirações de um jeito contemporâneo.” Paetê, tafetá e linho são alguns dos materiais com os quais Argalji gosta de trabalhar. “Faço tops, mas também tenho vestidos com 10 metros de tecido, varia muito”, explica ela, que também tem um apreço especial por mangas e volumes.

A produção é feita em pequena escala, com algumas peças únicas. A marca realiza ainda projetos especiais com artistas como Duda Beat. As vendas acontecem pelo Instagram, mas Monique também atende em seu ateliê, dentro de casa. “Estou trabalhando na próxima coleção dentro do possível e bem devagar, pois estou insegura em fazer um investimento que não sei se será bem aceito”, revela. “Gosto de fazer roupas divertidas que as pessoas usam mais para sair e não sei se é o momento ideal para isso, mas estou administrando”, finaliza.

+ @argalji__

Rodrigo Kupfer

O designer e ilustrador Rodrigo Kupfer sempre desenho como hobby, mas nunca sentiu muita confiança para considerar aquilo uma profissão. Fez algumas tentativas no mercado de moda, mas não deu muito certo. Pelo menos não tanto como quando começou a explorar a arte homeorótica. Foi com um mix dessa vertente e de sua paixão por mangás e animes que sua mais recente linha de camisetas está ganhando sucesso (e reposts) nas redes sociais.

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Rodrigo Kupfer.Foto: @leofagherazzi

“Sempre gostei desse universo mas era muito difícil achar produtos legais por aqui. Chegava muita pouca coisa, precisava comprar fora e tudo ficava bem caro”, diz ele. No meio do caminho, Rodrigo começou a se incomodar com a “biscoitagem” no Instagram e decidiu explorar um conteúdo diferente: sua arte. Começou a postar algumas ilustrações e percebeu um engajamento bem maior. Tempos atrás, ele já havia produzido algumas camisetas com seus desenhos (chegou até a vender algumas delas na loja e multimarcas Das Haus, dos estilistas Rober Dognani e Felipe Fanaia) e decidiu repetir a dose.

Antes disso, Rodrigo já vinha experimentando criativa: fez uma série de panneaux com suas ilustrações e também expôs alguns de seus trabalhos no Museu da Diversidade Sexual, em São Paulo. Foi com essa expo, que percebeu como sua arte se relaciona com os desejos, medos, identidades e sexualidades das pessoas e decidiu explorar mais o assunto. A atual coleção de camisetas é o começo dessa experimentação, uma combinação de gostos e paixões pessoais, com questões mais abrangentes. (LUIGI TORRE)

+ @rodrigokupfer

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