Estreia de Alexei é o grande destaque do terceiro dia de Casa de Criadores
E mais: a coleção descompromissada de Felipe Fanaia, o amor de mãe de Sillas Filgueira, a história adolescente da Pedra e o deboche evangélico de Da Silva Santos Neves.
Dizem que para trabalhar com moda é preciso uma boa dose de amor — e de loucura. A tese foi confirmada no terceiro dia de Casa de Criadores, que rolou nesta sexta-feira, 08.07. Houve casos em que o amor maternal reinou, como na estreia de Sillas Filgueira, que desembarcou de Salvador com uma coleção em homenagem a sua mãe através de crochês luxuosos e uma alfaiataria em tons metalizados festivos. Houve também quem jogou inspirações e storytelling para o alto e decidiu fazer o que amava, caso de Felipe Fanaia, com uma seleção de boas peças que marcaram sua história, desta vez contada ao lado da marca UMS 458-LL. Puffers gigantes, capas, calças jeans desconstruídas, suéteres oversized, crochês de teia de aranha e toda uma vibe filme de terror invadiram a passarela ao som de hits dos anos 2000.
Sillas Filgueira
Foto: Marcelo Soubhia/@agfotosite
Felipe Fanaia
Foto: Marcelo Soubhia/@agfotosite
Já na estreia de Da Silva Santos Neves, jovem designer de 19 anos, ainda no segundo ano da faculdade de Têxtil e Moda da USP, o amor vem em forma de deboche. Em uma coleção toda branca, ele brinca com os códigos da vestimenta evangélica, religião forte na Paraíba, de onde vem, e os mistura com referências da cultura Ballroom. São saias jeans compridas combinadas a cuequinhas e calcinhas fio dental de fora, camisas polo transformadas em vestidos hiper curtos, usados com balaclavas. Na Alexandre dos Anjos, a paixão pela arte e pela ancestralidade embala sua moda. Misturando elementos de festividades negras, como o tule do carnaval e as mãos dançantes do samba rock, ele estampa peças e as pinta à mão, como num quadro.
Alexandre dos Anjos
Foto: Marcelo Soubhia/@agfotosite
Da Silva Santos Neves
Foto: Marcelo Soubhia/@agfotosite
Quem também falou sobre amor, no caso amor aos tecidos, à história da moda e ao próprio ofício, foi a Reptilia. Com uma pesquisa extensa sobre matérias-primas antigas e novas, Heloísa Strobel constrói uma das coleções mais precisas tecnicamente da CdC. O patchwork de retalhos e tapeçaria em formas orgânicas decora as costas de regatas, casacos oversized que eram contrapostos a saias de gazar de seda leves e esvoaçantes, e casacos volumosos que ganhavam novas formas por conta dos elásticos ajustáveis.
Reptilia.
Foto: Marcelo Soubhia/@agfotosite
Houve ainda quem preferiu contar uma história de amor mais adolescente, como a Pedra. Em sua estreia na Casa de Criadores, a estilista mistura referência do anos 2010, harajuku, emo e raver para falar de meninas que se apaixonam por homens que usam seus sentimentos como forma de empoderamento. São sainhas bem curtas, tops recortados, aplicações de cristais em forma da palavra “fode”, babados aplicados em tops, vestidos justos e calças superdecoradas. Tudo desfilado por um casting 100% trans, que ressignifica esse enredo que já foi contada milhares de vezes em filmes, séries e livros infanto-juvenis e, hoje, ganha novos personagens e uma nova roupagem – literalmente.
Pedra
Foto: Marcelo Soubhia/@agfotosite
Mas é da loucura e da dor do amor que vem a melhor coleção desfilada no terceiro dia de evento. A estreia de Alexei busca dar forma a um sentimento que gostaria de expurgar. São referências de skate misturadas a peças históricas, como as saias armadas e os shortinhos de cetim usados com uma cueca samba-canção aparecendo, camisetas puídas com estruturas de corsets, bermudas compridas de renda, peças transparentes marcadas pelos beijos do ex, um vestido de noiva redecorado com retalhos de paetês – o estilista conta que sempre quis seguir a tradição da alta-costura de terminar o desfile com uma noiva – e até uma estampa criada a partir de uma fotografia das marcas de sua pele. O conto Imitação da Rosa e o livro Paixão Segundo G.H, de Clarice Lispector, aparecem como os dois pilares de referências em que a coleção se baseia, mas é das experiências pessoais e das dores e amores de Leonardo Alexei que sai a parte mais visceral dessas roupas.
Alexei.
Foto: Marcelo Soubhia/@agfotosite
O estilista, que veio de Londrina, no Paraná, também faz upcycling de várias peças antigas de sua etiqueta, que tem cinco anos, como os moletons recortados e costurados e as camisetas com silks aplicados e remodeladas, além dos retalhos que complementam a imagem caótica – no melhor dos sentidos – que ele apresenta como seu DNA. “Cada look é o relato de uma experiência que vivi”, conta, no backstage. E pense em um relato bem contado, cheio de nuances e detalhes que narram histórias. A imagem de sua moda é teatral, exagerada, caricata, passional, emocionante – todos adjetivos que também podem ser usados para descrever o começo (ou o fim) de um relacionamento. É que para trabalhar com moda – e não só – é preciso de uma boa dose de amor e de loucura.
Alexei.
Foto: Marcelo Soubhia/@agfotosite
Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes