A história da Max Mara, grife italiana famosa por seus casacos

São 70 anos de sucesso consistente baseado na criação de peças atemporais e na crença de que a marca e seus produtos devem se destacar mais do que o estilista.


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Foto: Pietro S. D'Aprano / Correspondente



Conhecida por suas peças atemporais, de corte limpos e cores neutras – com destaque para o icônico casaco camelo –, a italiana Max Mara, que este ano completou 70 anos de história, por pouco não existiu. Mesmo tendo herdado de sua família a paixão pela moda, seu fundador Achille Maramotti optou por estudar direito na universidade. Apenas um pequeno desvio na sua trajetória. Assim que se formou, retornou ao corte e costura.

Ele era bisneto de Marina Rinaldi, diretora de uma casa de moda de luxo no final do século 19 , e filho de Giulia Fontanesi, professora de costura e escritora de livros dedicados à teoria do corte. Ela também fundou a Escola de Corte e Costura Maramotti, onde Archille aprendeu o oficio.

Em um momento em que muitas mulheres italianas ainda recorriam a costureiras para se vestir, ele decidiu realizar o sonho de produzir roupas femininas manufaturadas de alta qualidade, fundando a Confezioni Maramotti, em 1951, em Reggio Emilia, uma cidade italiana mais conhecida por seu queijo parmesão. O DNA da Max Mara nascia ali, com um casaco marrom e um terno vermelho definindo a primeira coleção. O nome pelo qual a etiqueta é conhecida hoje só veio três anos mais tarde, quando a empresa já tinha mais de 200 funcionários e precisou ampliar seu negócio.

O início da Max Mara

O “Mara” veio como abreviação do sobrenome Maramotti, enquanto “Max” se referia ao conde Max, um personagem local que torrou toda a sua fortuna em álcool, porém sem nunca perder o estilo. A ideia é que pudesse ser pronunciado com facilidade em qualquer idioma.

Desde o início, Archille definiu que sua marca não dependeria da personalidade de um designer, as peças falariam por si só. Ele ressaltava que o foco era fazer suas clientes se sentirem bonitas, não uma tela experimental para ideias ultrajantes.

Seus casacos de excelente qualidade eram inspirados no design de alta-costura francês, porém com técnicas de alfaiataria industrial de ponta. “O melhor da cultura italiana – na arte, na comida e também na moda – sempre tenta se apresentar como algo acessível”, costumava dizer o fundador.

Ela também foi a primeira marca a usar como inspiração a mulher trabalhadora, ao invés das damas do lazer. O plano, desde o início, foi vestir mulheres para que elas pudessem ter sucesso no mundo. Esse combo deu certo. Suas roupas ganharam um reconhecimento imediato e acachapante. Em poucos anos, surgiram novas linhas sob o guarda-chuva do grupo Max Mara.

Casacos icônicos da Max Mara

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O clássico casaco 101801 foi criado em 1981 Divulgação

Seu desfile de estreia, em Paris, foi em 1980. No ano seguinte, o casaco 101801, mais conhecido como camel coat, foi apresentado. A responsável pelo design propositalmente atemporal foi a estilista francesa Anne-Marie Berretta. Trespassado, com comprimento 7/8 e silhueta oversized, feito de uma mistura de lã e cashmere em um tom de bege caramelado, rapidamente se tornou um sucesso de vendas.

Com o templo, o 101801 também passou a ser vendido em outras cores. As fixas são: camelo, preto, marinho, cinza e branco gelo. No entanto, em toda temporada novos tons são apresentados para combinar com a paleta da estação. Muitos outros casacos se originaram a partir dele, mas o original nunca saiu de linha, sendo ainda hoje a peça mais vendida da casa.

Outro destaque é o Teddy Bear, lançado em 2013, a partir de designs de arquivo dos anos 1980. O nome veio do tecido felpudo com o qual é revestido – uma mistura macia de lã e fibras de alpaca ou camelo sobre uma base de seda. A peça seduziu fashionistas e celebridades imediatamente por mesclar a elegância clássica sempre presente nos itens da Max Mara com um toque lúdico cativante.

A expansão da Max Mara

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Modelo de óculos de sol lançado pela Max Mara em 2002 Foto: J. Vespa / Getty Images

A primeira participação na semana de moda de Milão foi em 1983. Em 1987, a marca inaugurou a sua primeira loja em Hong Kong e, em 1990, no Japão, expandindo sua atuação pelo continente asiático. A luxuosa flagship na Madison Avenue, em Nova York, foi aberta em 1994 e, quatro anos mais tarde, aterrissou também na China.

Em 1998, a grife decidiu diversificar seus produtos lançando a sua primeira coleção de óculos. O DNA continuou o mesmo: peças atemporais com alto padrão de qualidade. O mesmo valeu para todos os acessórios que vieram na sequência, incluindo meia-calças, bolsas, cintos e calçados.

No Brasil, a primeira loja foi aberta em 1999. Vinte anos depois, a empresária Angelika Winkler, representante oficial da grife em território nacional, decidiu dar um passo além e inaugurou a primeira flagship da Max Mara na América do Sul, fechando os dois endereços menores que mantinha com o nome da casa italiana. O local escolhido foi o shopping Iguatemi em um espaço de 300 metros quadrados.

Atualmente, o grupo Max Mara está presente em 105 países com mais de 2.500 lojas de uma única marca e mais de 10 mil lojas multimarcas. Além do carro-chefe que deu origem a tudo, outras linhas foram sendo criadas com o passar dos anos a fim de atender outros públicos. São eles: Sportmax, Weekend, Max&Co., Pennyblack, Marina Rinaldi, Persona, Marella, iBlues, Intrend. O faturamento anual da empresa é de cerca de 1,6 bilhões de euros (cerca de 9,89 bilhões de reais).

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Para celebrar os 70 anos da marca, a Marcolin, empresa líder mundial na indústria de óculos e atual responsável pela produção de eyewear da Max Mara, lançou uma edição especial do modelo MM0030. Em formato retangular e feito de acetato, o modelo recupera os traços essenciais de sofisticação e atemporalidade da grife. Em edição limitada os itens vêm com uma caixa de cor camelo personalizada com o logotipo de 1951.

Estilistas secretos

Muitos estilistas de renome passaram pela Max Mara, mas suas atuações só foram revelados quando eles saíram. Essa foi uma maneira de garantir a qualidade dos designs da etiqueta sem que seu sucesso dependesse de uma figura pessoal. Na casa italiana, a estrela são os produtos e todos envolvidos na sua produção tem igual relevância.

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Na Max Mara, a marca e os produtos estão sempre acima do nome dos designers Foto: Tullio M. Puglia / Getty Images

Além de Anne-Marie Beretta, os notáveis designers Karl Lagerfeld, Domenico Dolce e Stefano Gabbana, Emmanuelle Khanh, Jean-Charles de Castelbajac, Luciano Soprani, Giambattista Valli também ajudaram a construir a reputação da grife. Em algumas épocas, o nome de quem estava na direção criativa até era conhecido por quem procurava saber, mas nunca com um alarde que sobrepusesse o interesse pela marca. Talvez a chave dos 70 anos de sucesso seja a consistência que esse posicionamento ajudou a trazer.

A morte de ​Achille Maramotti

Achille Maramotti faleceu em 12 de janeiro de 2015. Com isso, a Max Mara passou a ser comandada por seus filhos Luigi, Ignazio e Maria Ludovica, mantendo o negócio como uma empresa estritamente familiar – o que vai no contrafluxo da ordem mundial em que imperam os grandes conglomerados de luxo.

O fundador já não interferia em nada na parte de moda desde 1989, quando se aposentou desse setor e ficou focado apenas em atividades administrativas. De todo modo, a segunda geração não quis mexer na fórmula de sucesso. Os princípios aplicados por Archille desde a criação da casa se mantém até os dias de hoje.

Ian Griffiths, atual diretor criativo

Mesmo tentando evitar burburinho sobre si mesmo, o atual diretor criativo da etiqueta, Ian Griffiths, não conseguiu passar batido. Há 35 anos na empresa, ele conhece a essência da Max Mara como ninguém e, mesmo se tratando de um homem britânico, suas criações conseguem dialogar com seu público com maestria.

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Halima Aden puxa a passarela da Max Mara na Semana de Moda de Milão de 2017 Foto: Miguel Medina / Getty Images

Ex-punk, estudou arquitetura e ingressou na marca após vencer um concurso de estudantes em 1987 – para o qual quase não se escreveu. A tinta da sua caneta acabou enquanto preparava a sua inscrição, mas seu colega de apartamento salvou a sua pele chegando em casa com uma nova ainda na madrugada da data limite.

Em 2017, chamou a atenção a sua decisão de colocar a modelo Halima Aden na passarela. Ela portava um hijab, sendo a primeira vez que isso aconteceu na semana da moda de milão. Ian conta em entrevistas que Luigi Maramotti, filho de Achille e charmain do grupo, autorizou na esperança de que não repercutisse muito. Por ser um fato histórico, é claro que foi muito comentado, mas de uma forma tão positiva que agradou a direção.

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