Índice de Transparência da Moda chega em sua quinta edição brasileira

Encabeçado pela organização Fashion Revolution Brasil, o relatório analisa a disponibilidade de informações públicas de 60 empresas de moda com operações nacionais, baseado em critérios socioambientais.


Relatorio Transparencia 01
Ilustração: Mariana Baptista



Transparência não é sinônimo de sustentabilidade, mas o Fashion Revolution Brasil acredita que a prática é um passo importante para mudar e melhorar a indústria da moda. Por isso, a organização lança hoje, 29.11, a quinta edição do Índice de Transparência da Moda Brasil. O relatório analisa e cataloga em que medida 60 das maiores marcas de vestuário operantes no país divulgam publicamente suas políticas, indicadores e resultados socioambientais.

Neste ano, a pontuação média foi de 17%, um ponto percentual a menos do que em 2021. As maiores pontuadoras foram C&A (73%), Malwee (68%), Havaianas (57%), Renner (57%) e Youcom (57%). Contudo, a maioria das etiquetas analisadas, muitas representantes da indústria da moda brasileira, está concentrada na faixa de 0 a 10%. Vinte e duas delas zeraram a pontuação (Besni, Brooksfield, Caedu, Carmen Steffens, Cia. Marítima, Colcci, Di Santinni, Fórum, Havan, Klin, Kyly, Leader, Lojas Avenida, Lojas Pompéia, Marisol, Moleca, Netshoes, Nike, Penalty, Sawary, TNG e Trifil).

O que os números significam?

O Índice de Transparência da Moda é um projeto do Fashion Revolution Global promovido desde 2016, mas que chegou ao território nacional em 2018. Vale destacar que o relatório não fiscaliza a veracidade do conteúdo divulgado pelas etiquetas. O objetivo é exigir transparência das marcas de moda que ainda carecem de dados abertos e confiáveis sobre seus impactos sociais e ambientais.

As etiquetas são selecionadas com base no tamanho, relevância e capilaridade no mercado. Para facilitar a compreensão, no relatório final as informações dividem-se em cinco seções: políticas e compromissos, governança, rastreabilidade, conhecer, comunicar e resolver e tópicos em destaque no momento.

A metodologia consiste na análise de informações públicas a partir de mais de 200 indicadores. Eles cobrem tópicos relacionados às práticas de compra, salário justo para viver, igualdade de gênero e racial, circularidade, clima e biodiversidade, rastreabilidade da cadeia de fornecimento, iniciativas de governança etc.

O que significam as pontuações?

A pontuação zero, então, significa que aquelas empresas não divulgam publicamente nenhuma informação sobre tais indicadores. Já as marcas que têm uma pontuação baixa, divulgam muito pouco. Algumas pontuam apenas em seções específicas, o que revela pouco compromisso sistêmico com a transparência do negócio.

Ao longo de cinco edições, o Índice gerou resultados positivos e mostrou por que transparência é essencial. “Ele trouxe luz a essas questões da indústria da moda”, avalia Isabella Luglio, coordenadora do projeto no Brasil. “Apesar da média geral não ter aumentado neste ano, as marcas que estavam incluídas desde o começo (as 20 analisadas na primeira edição do relatório no ano de 2018), mostram claramente uma evolução. Isso evidencia que, uma vez que elas são avaliadas pelo Índice, começam a divulgar mais informações, criar comitês internos e equipes e relatórios anuais de sustentabilidade.”

Mesmo reconhecendo os avanços, a coordenadora diz que se preocupa em ver grande parte das etiquetas analisadas com pontuação entre 0 a 10%. “Não podemos mais viver nessa indústria tão obscura, ainda mais com a emergência climática, desigualdades sociais, Brasil no mapa da fome… Acredito que, com tantos problemas, não é mais possível seguir assim.”

Principais descobertas em gênero, raça e clima

Nenhuma das 60 marcas avaliadas divulga um compromisso mensurável e com prazo determinado para o desmatamento zero, mesmo o Brasil tendo um alto grau de desmatamento. Apenas 5% das marcas analisadas comunicam evidências de implementação de práticas agrícolas regenerativas em pelo menos 1 tipo de matéria prima, apesar de a indústria da moda ser grande geradora de lixo têxtil.

Outros 28% publicam anualmente a distribuição de gênero por cargo (ex.: nível executivo, gerentes/supervisores, funcionários) dentro das instalações da empresa (sede, lojas, instalações próprias e de terceiros/multimarcas), o que dificulta o mapeamento preciso do que é necessário ser feito para melhorar a equidade de gênero nas empresas.

17% das marcas analisadas publicam anualmente a diferença de salários entre mulheres e homens dentro da empresa, considerando a distribuição por cargos. 5% das marcas analisadas divulgam ações com foco na promoção da igualdade de gênero nas instalações dos fornecedores. 32% das marcas analisadas publicam ações com foco na promoção de igualdade racial entre seus funcionários, o que dificulta avaliar o avanço de práticas antirracistas na indústria da moda.

Porém, nenhuma marca publica anualmente as diferenças salariais de seu quadro de funcionários sob a perspectiva racial, considerando a distribuição por cargos.

Cenário global

No Índice de Transparência da Moda Global, realizado desde 2016, os números alcançados pelas etiquetas também são baixos. Em 2022, a média geral das 250 marcas e varejistas de moda avaliadas aumentou apenas um ponto percentual, passando para 24%. As principais descobertas foram:

– 96% das grandes marcas não publicam o número de trabalhadores em sua cadeia de suprimentos que recebem um salário mínimo, mesmo com uma indústria majoritariamente composta por mulheres e muitas pessoas em situação de vulnerabilidade.

– Quase metade (46%) das 250 marcas analisadas publicam metas sobre materiais sustentáveis, mas apenas 37% fornecem informações sobre o que é, especificamente, um material sustentável.

– 85% das empresas analisadas não divulgam seus volumes anuais de produção, mesmo com o desperdício que permeia a indústria.

Para Isabela, a transparência é um tema que será continuado pelo Fashion Revolution, a nível global ou nacional. Contudo, a coordenadora destaca que “nosso objetivo é que o Índice não precise mais acontecer, o ideal seria se as marcas já tivessem 100% de transparência”, finaliza.

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