Lenny Niemeyer convida o estilista Leandro Benites para colaboração
Um dos maiores nomes da moda praia nacional se junta ao talento em ascensão na coleção de alto verão 2023, que será desfilada dia 19.11 na SPFW.
Numa manhã de quinta-feira, Lenny Niemeyer pede desculpas por aparecer na tela do meu computador de cara lavada, “sem nenhum blush”, brinca ela. Na mesma videochamada, o estilista Leandro Benites, da BEN Ateliê (e ex-Ginger e Rosa Chá), prefere nem comentar seu look matinal, enquanto experimenta diferentes fundos virtuais. Mesmo à distância, eu e ele em nossas casas, em São Paulo, e ela no Rio de Janeiro, é visível o entrosamento entre os criativos.
É que nos últimos meses, Lenny e Leandro vem estreitando relações, dividindo experiências e somando criatividades. Tudo graças ao intermédio do stylist Daniel Ueda, amigo e colaborador da designer há cerca de 12 anos. Foi ele quem sugeriu a ela que convidasse algum novo nome para uma colaboração. E assim, no dia 19.11, a dupla apresentará uma coleção feita a quatro mãos na São Paulo Fashion Week. Marcado para acontecer no Auditório Ibirapuera, o desfile é uma espécie de continuação do que celebrou os 30 anos de marca, com olhar ainda mais futurista, orgânico e feminino.
A seguir, Lenny e Leandro falam, com exclusividade, sobre a parceria.
Croquis de Leandro Benites para a coleção de alto verão 2023 de Lenny Niemeyer. Foto: Divulgação
Queria ouvir sobre o encontro de vocês…
Leandro Benites: Foi amor à primeira vista. Eu trabalho muito como o Dani (Ueda), fizemos desfile em Nova York, (o figurino de) Verdades Secretas, então ficamos muito próximos. Quando ele me falou sobre esse projeto, aceitei na hora. Fiquei muito animado. E ainda posso ficar indo para o Rio (de Janeiro) toda hora para fazer provas de roupa e tudo mais.
Lenny Niemeyer: Não sabia que vocês tinham feito tantas coisas juntos. O Dani é aquela pessoa que, além de amigo e stylist, sempre me confronta. Uma dessas provocações era para eu fazer uma collab. E, hoje, depois dos 30 anos (de marca), acho isso muito importante, ter um olhar convergente com o seu, que agregue. Essa junção de criar novas formas vem trazendo um resultado muito satisfatório para minha parte de criação.
E o Leandro é muito talentoso, uma pessoa fácil de lidar (eu não sou tão fácil assim, mas também não sou difícil). Eu vivia dizendo que estava muito moderno e ele, que estava careta demais. Isso é muito produtivo, muito saudável para todo mundo.
Foto: Divulgação
Em quais pontos vocês acham que o trabalho de vocês se aproximam e se repelem?
LN: O principal confronto são as formas mais inusitadas, com um novo olhar. São tipos de recortes, de fendas, mas que remetem à alfaiataria, como um blazer com uns recortes que são a cara do Leandro, as calças com o DNA dele. Coisas que, num primeiro momento, me assustavam e, de repente, no conjunto da obra, funciona perfeitamente em harmonia.
LB: Confesso que foi a primeira vez que colaborei com alguém que é estilista e isso foi muito bom. Ainda assim, no início eu achava que seria um desafio muito grande, porque é um universo bem diferente, são duas cidades quase que opostas. Mas chegando lá foi muito fácil e maravilhoso. Ela sabe exatamente o que quer e tem muito claro quem é essa mulher, esse público alvo.
Foto: Divulgação
Você falou dessa dicotomia entre Rio e São Paulo. Como que isso aparece na parceria?
LB: Eu já cheguei querendo fazer roupa. Vamos fazer um blazer, uma camisa! Acho que essa mulher tem que transitar, sair da praia e ir para outros lugares. Mas aí, o Dani e a Lenny sempre vinham dar uma segurada. Eles diziam que a moda está num momento muito duro, então não precisávamos só de roupa, mas de histórias, algo mais artístico.
LN: Sempre olhei para o beachwear como um pós-praia, além da areia. Como paulista sempre busquei isso, porque foi uma coisa que senti na pele, sair da praia e não saber o que vestir. Tem ainda a inspiração nas arquitetura, na botânica, mas o essencial é a mulher transitar em qualquer lugar.
Sempre gostei desse desafio, estudar formas… Mas nunca imaginei em fazer uma collab com outro estilista. Acho que os tempos mudaram, a moda mudou. Quando chega aquele momento em que você sente sua criatividade esgotada, depois de tantas formas loucas que você já fez, cores e temas, é hora de trazer um outro olhar. O Leandro vem num momento muito bom. Acho que a gente está meio namorando, né, Leandro?
LB: Eu estou completamente apaixonado. Falo que a Lenny é a pessoa mais chique que conheço. Ela é muito generosa. Eu tinha essa ideia de que ela seria uma mulher austera, mas não. No começo, ela sempre falava: “Meu Deus, eu jamais usaria isso”. Mas aí, pouco tempo depois, ela fala: “Ah, tá bom.”
LN: A gente brinca que nosso slogan é contemporâneo e inovador. Apesar de todo stress, é um trabalho muito alegre e foi muito bom poder fazer isso em parceria. Aliás, tem sido muito bom, porque não acabou ainda, né, Leandro?
Foto: Divulgação
LB: Não, está só começando!
LN: Me sinto muito bem com isso, de ter um parceiro na criação. O Dani também participa muito dessa parte criativa. Ele me incentivou muito quando comecei a querer inovar na marca. E isso vem desde o desfile do Japão (verão 2017). Eu vivia falando que não ia dar certo, que era muito ousado. E ele voltava insistindo que eu saberia fazer do meu jeito, com a minha cara. E até agora eu soube. Não sei no próximo desfile, porque estou sempre em crise – e não é por causa do Leandro, tá? Na verdade, eu gosto disso. A parte que mais me anima é acreditar que não vai dar certo. E no fim sempre dá.
LB: Eu estou muito confiante. A Lenny tem uma estrutura incrível, então nunca duvidei. Mas agora que está chegando perto…
LN: Está ficando com medo, Leandro?
Foto: Divulgação
Você sempre fica com medo antes dos desfiles, não?
LN: Sempre! É difícil porque preciso me expor. Sei que não parece, mas sou tímida. E nunca ninguém vai me ouvir dizer “está maravilhoso, vocês vão adorar”.
LB: Você fica muito apegada ao último desfile. Na mesa dela, tem todos os desfiles que já aconteceram – e são muitos. Eu sempre falava: Lenny você tem que gostar desse, do atual. Aí, no ano que vem, ela vai estar lembrando de forma apaixonada disso. Mas é tudo tão rápido que não dá tempo de assimilar.
LN: Foi mais rápido no ano passado, na comemoração dos 30 anos, que foi uma releitura de tudo que já tinha feito, mesmo com todas as dificuldades da pandemia. Neste ano, a gente continuou com recursos muito limitados, para conseguir novos tecidos, novas texturas, importar materiais. Antes, quando alguma coisa não dava certo, a gente buscava uma textura diferente que ninguém faz aqui, mas agora não teve isso. Foi mais desafiador. Ainda assim, a locação é ótima e o Leandro vai agregar muito. Vamos buscar fazer o melhor possível. Aliás, as pessoas sempre brincam: “Lenny, você já fez vários desfiles, se esse não ficar bom, ninguém vai prestar atenção”. Ah, mas vai sim.
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