MASP Renner chega a 3ª temporada de parcerias entre artistas e estilistas

A 3ª fase do projeto dá continuidade à tradição do acervo têxtil da instituição, marcado pelo MASP Rhodia, nos anos 1970, e outras iniciativas, de debater assuntos da ‘ordem do dia’, como política e sociedade


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Casaco Jaime Lauriano e João Pimenta | Foto: Divulgação/MASP



Política, sociedade, sustentabilidade e corpos sempre possíveis são algumas das questões – não temas – propostas pela terceira temporada do projeto MASP Renner. A ideia consiste na criação de um look feito conjuntamente por um estilista e um artista. Ao todo são dez duplas e os resultados finais passam a integrar o acervo de moda do museu.

Os duos foram selecionados pela curadora adjunta do Museu de Arte de São Paulo e colunista de ELLE, Hanayrá Negreiros, pelo diretor artístico da instituição, Adriano Pedrosa, e pelo assistente de curadoria do MASP, Leandro Muniz. São eles: Aline Bispo e Flavia Aranha; Criola e Luiz Claudio Silva (apartamento 03); Larissa de Souza e Diego Gama; Lidia Lisbôa e Fernanda Yamamoto; Panmela Castro e Walério Araújo; Edgard de Souza e Jum Nakao; No Martins e Angela Brito; Randolpho Lamonier e Vicenta Perrotta; Valdirlei Dias Nunes e Vitorino Campos; Wallace Pato e Day Molina.

“É como se fizéssemos uma costura que não acaba. Quando tivermos a terceira temporada completa (os looks devem ser finalizados em junho), teremos uma ideia do projeto como um todo: até mesmo para entender o MASP Renner como um prolongamento do Rhodia e de outras relações que o museu traz com a moda desde a época de Pietro Maria Bardi (diretor-fundador)”, diz Hanayrá Negreiros.

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A mulher que vê a lua de dia, é a mais bela, de Larissa de SouzaFoto: Wallace Domingues/MASP

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Look de Diego Gama.Foto: Cai Ramalho

MASP Rhodia, o projeto ao qual a curadora adjunta se refere, foi uma parceria entre a empresa têxtil e o museu. Tecidos apresentados na Feira Nacional da Indústria Têxtil (Fenit) – maior evento de moda da época -, entre os anos 1960 e 1970, foram doados à instituição para serem trabalhados por artistas como Carybé, Francisco Brennand, Alceu Pena e Ugo Castellana. Já nas duas primeiras temporadas do MASP Renner, iniciado em 2018, 53 visuais foram feitos – atualmente expostos digitalmente pelo museu.

Naquela primeira versão, a estampa de um artista plástico era utilizada em um vestido ou saia, por exemplo. Agora, a ideia da curadoria, explica Negreiros, é elaborar o que significa criar roupa em um espaço museológico, com outro tempo, condições e motivações, e quais as possibilidades de encontro – ainda mais em um contexto pandêmico. “Propomos pensar como se cria junto para além disso. Como o artista pensa modelagem e o estilista as cores, por exemplo. É um objetivo desta temporada tensionar isso”, diz.

Na etapa de pesquisa, foram levantadas algumas afinidades estéticas que também refletem entrelaçamentos éticos e políticos. “É interessante pensar que Panmela Castro, que possui uma prática social ativista de discussão de gênero, e Walério Araújo tenham uma visualidade parecida: o rosa, os grandes volumes com drapeados e outros pontos. Além disso, os dois veem na prática artística uma forma de superação de traumas”, analisa Leandro Muniz

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My kind of dirty, Randolpho Lamonier.Foto: Divulgação/MASP

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Look de Vicenta Perrotta. Foto: Danilo Sorrino

A estilista Angela Brito e o artista visual No Martins desdobram o registro de suas histórias em imagens e materiais. Enquanto Aline Bispo tematiza a ancestralidade e mecanismos de cura em sua pesquisa, Flavia Aranha apreende, em seus estudos de tingimento natural, uma possibilidade de cura para a velocidade de consumo. “A paleta mais pastel das duas e o uso blocado de cor foi o que orientou nossa afinidade a princípio, mas, depois, percebemos um diálogo mais profundo ao conversar com elas”, relembra o assistente.

Uma atribuição do MASP neste projeto é pensar em diversidade, pontua Negreiros. “Quando propomos os encontros, focamos não apenas em produção, mas também em quem são essas pessoas que enunciam a arte, de onde elas partem. Isso se reflete nas escolhas das duplas e como as formamos”, diz a curadora.

A possibilidade de extrapolar a roupa do contexto do dia a dia, da passarela ou da revista cria oportunidade de refletir sobre mediação e educação. “O espaço do museu, antes, era pensado como um repositório de coisas antigas. É interessante notar como isso muda, como o MASP tem trabalhado nos últimos anos para reverter isso”, explica Negreiros. “O local é um espaço vivo com discussões que estão fervilhando. Quando as peças forem expostas presencialmente ou no site, o que elas vão disparar? Quais são as possibilidades de discussão sobre corpos não hegemônicos, narrativas anti ou decoloniais e sustentabilidade?”

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Tetas que deram de mamar ao mundo, Lidia Lisbôa.Foto: Divulgação/Filipe Berndt

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Look de Fernanda Yamamoto.Foto: Marcelo Soubhia /Agência Fotosite

“Há muita sedimentação, pesquisa, interlocução e produção. Para a indústria da moda, seria insano e inviável”, declara Muniz. Mas a própria impossibilidade nas configurações atuais poderia assentar outras alternativas? Hanayrá Negreiros questiona: “Será que conceber roupas em um espaço museológico não é uma alternativa ao tempo de produção de um mercado de moda tão afoito, com impactos ambientais e emocionais tão severos?”

A exibição presencial dos looks da temporada vigente ainda não tem data confirmada. “Como o museu está criando um anexo novo, que se chamará Pietro, a ideia é que tenhamos um desfile, uma exposição e um catálogo quando ele estiver pronto”, explica Leandro Muniz. Apresentações digitais, em contrapartida, estão previstas para este ano, com a disponibilização de minidocumentários sobre as duas primeiras fases do MASP Renner.

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