Organizações e sindicatos globais da moda lançam campanha ”Pay Your Workers”
A ação reúne 200 entidades e está mobilizando a sociedade civil para cobrar de grandes varejistas amparo aos seus trabalhadores.
A pandemia de Covid-19 deixou a classe trabalhadora da indústria da moda ainda mais vulnerável. Agora, o principal problema (além da crise sanitária) é a falta de pagamentos, indenizações e salários por parte de grandes marcas de moda. Essa realidade motivou mais de 200 organizações e sindicatos – como Fashion Revolution, Clean Clothes Campaign, Oxfam e EcoAge – a somarem esforços na criação da campanha global Pay Your Workers. O objetivo é simples: amparo financeiro imediato para os trabalhadores do vestuário em todos os países, além de uma reforma na indústria da moda.
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A campanha elenca três ações emergenciais que as marcas devem tomar neste momento: pagar aos seus trabalhadores, diretos ou indiretos, o salário integral durante a pandemia; assinar um fundo de garantia de demissão (uma espécie de seguro desemprego), garantindo que os trabalhadores não fiquem, sob nenhuma circunstância, sem salário ou indenização caso sua fábrica vá a falência; e proteger o direito dos trabalhadores de se organizar e negociar coletivamente, já que muitos são proibidos ou não são sindicalizados. A lista faz parte de uma petição online que pode ser assinada no site. Um chamado também é feito para consumidores e cidadãos se envolverem por meio das mídias sociais, comentários com a hashtag #PayYourWorkers (paguem seus trabalhadores, em tradução livre) e compartilhamento de materiais informativos.
É possível que 10% dos trabalhadores da indústria da moda tenham perdido seus empregos durante a pandemia, conforme relatório da Clean Clothes Campaign. A maioria são mulheres. Os que permanecem empregados, enfrentam dificuldades. Apenas nos primeiros três meses da pandemia, estima-se que eles perderam, globalmente, pelo menos US$ 3 bilhões em renda. Isso acontece porque, desde o início da pandemia, grandes marcas de moda, com instalações principalmente na Ásia, cancelaram pedidos já prontos ou em andamento.
Conforme a coalizão, ”não seriam necessários mais do que dez centavos por camiseta para as marcas de vestuário garantirem que os trabalhadores do setor, que lhes renderam bilhões em lucros, recebam o alívio econômico necessário para sobreviver à crise e fortaleçam as proteções contra o desemprego futuro”.
Um giro pelo mundo
Mianmar, um grande produtor de vestuário e o terceiro que mais exporta para a União Europeia, também sofre com a pandemia. Ao todo, mais de 10 mil empregos do setor de confecção foram perdidos desde o início de 2020. Por conta do alto volume de produção têxtil, é comum trabalhadores da indústria, em especial mulheres, serem líderes sindicais e ativistas.
Agora, com as manifestações contra o golpe militar do dia 01 de fevereiro, não foi diferente. Apenas mais repressivo. Mais de mil trabalhadores da indústria ficaram presos dentro da fábrica onde produzem, impedidos de participar das manifestações que ocorrem há dias por todo território. Eles são funcionários da empresa GY Sen, que fornece para a irlandesa Primark, e alegam, em entrevista ao jornal britânico The Guardian, que seus supervisores tentaram impedi-los de faltar ao trabalho para participar dos protestos, no dia 18 de fevereiro.
Integrantes da Federação de Trabalhadores do Vestuário de Mianmar em protesto.Foto: FGWM via The New York Times.
Com o regime totalitário instalado no país do sudeste asiatico, grandes marcas que têm seus núcleos produtivos no país, como H&M, C&A e Primark, são pressionadas por um posicionamento. No dia 19 de fevereiro, a coalizão ACT, que reúne sindicatos e varejistas internacionais na busca por melhores negociações na indústria do vestuário, publicou uma declaração sobre a situação do país, onde diz estar monitorando os acontecimentos.
”Nosso foco está nos trabalhadores e empregadores em mais de 200 fábricas das nossas cadeias de suprimentos. […] Como empresas, temos o compromisso de respeitar plenamente os direitos humanos e os direitos trabalhistas, e em particular, o direito a organizações de assembléias pacíficas, a liberdade de opinião e liberdade de associação conforme a Declaração Universal dos Direitos Humanos”, diz o comunicado
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