Escape para quem e para onde?

Estilistas nacionais respondem à pergunta e abordam a necessidade de revisão de antigos-novos sonhos.


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Há grandes chances de você já ter ouvido alguém falar que a “a moda precisa fazer sonhar” ou que “em tempos sombrios, ela nos ajuda a ter força”. Essas afirmações não estão certas nem erradas, elas apenas carecem, muitas vezes, de uma análise social mais sensível – ou interessada.

Exuberância e escapismo, por exemplo, apareceram de maneira marcante nas coleções apresentadas após o 11 de Setembro de 2001. Em uma matéria do Washington Post de 2018, Robin Givhan escreveu sobre aquele momento: “Os americanos foram encorajados a se saciar com atividades que lhes trouxessem felicidade, porque fazer isso era uma maneira de lutar. Fazer moda, produzir desfiles. Os básicos sustentam a vida. O extra nos permite viver plenamente”.

Sonhar é um mecanismo natural a qualquer ser humano. É involuntário e precisamos dele: nos ajuda a passar por uma guerra, um vírus, em rumo ao ideal do amanhã. Lidamos com crises nos apoiando no fantástico, na poesia, espiritualidade e muito mais. Entretanto, no exercício da imaginação, é importante não se descolar da Terra.


Em relação a como o sonho se apresenta no seu trabalho, o estilista destaca a espiritualidade, e não a religião. Segundo ele, esta última está muito associada a uma estrutura eurocêntrica. “Faço um estudo muito grande com recorte afro-indígena-ancestral, eles tinham uma filosofia de vida, não religião. A ligação com o divino já existe em quem tem o Candomblé que, por conta de uma estratégia de sobrevivência, precisa se enquadrar como religião para ter subsídios e proteção governamentais”, explica Isaac.

Angela Brito também destaca a importância de se utilizar referências ancestrais espiritualistas e enfatiza a perigosa tentativa da indústria de criar a categoria de “moda negra”, “trans”, “indígena” de acordo com um imaginário pautado por uma lógica caucasiana, que exotiza o que lhe difere.

“Somos indivíduos. Criaremos diferentemente, teremos vivências e experiências diversas. Eu sou eu e estou me descobrindo. Quando falam que a minha estética não é negra, falo que sou uma mulher negra e pergunto se acham que um espírito branco me possuiu na hora que estava criando”, finaliza ela.

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