6 marcas especializadas em técnicas ou produtos específicos

Esqueça a lógica tradicional de oferecer todo um guarda-roupa. Nichos de mercado se mostram cada vez mais atraentes para novos nomes da moda.


7gtxnSmD origin 32



Em oposição às grandes marcas que criam propostas para espaços e momentos diversos, do casual à festa, da linha infantil à decorativa, existem outras, quase sempre independentes, absorvidas por um único foco. A delimitação, seja ela técnica, material ou de tipo de produto, assemelha-se ao desenvolvimento de um software: ao invés de se elaborar novos modelos o tempo todo, melhora-se constantemente o mesmo.

Para essas empresas, especialização é a chave, já que a amplitude de oferta no mercado, com frequência, incentiva mais do mesmo. Neste ponto, a moda pode aprender com o mundo tech: não é necessário ter de tudo um pouco para se tornar grande, caso seja este o objetivo.

ELLE levantou 6 marcas que trabalham de maneira especializada. Confira!

Ateliê de Calças

data-instgrm-permalink="https://www.instagram.com/p/CPsiQ_RDggD/?utm_source=ig_web_copy_link" data-instgrm-captioned data-instgrm-version="4" style="background:#FFF; border:0; border-radius:3px; box-shadow:0 0 1px 0 rgba(0,0,0,0.5),0 1px 10px 0 rgba(0,0,0,0.15); margin: 1px; max-width:658px; padding:0; width:99.375%; width:-webkit-calc(100% - 2px); width:calc(100% - 2px);">

Calças curingas, com custo-benefício interessante e fora da lógica de coleção. Este era o desejo de Liana Pandin, que tem uma predileção por negócios focados em monoprodutos. Além do Ateliê, a empresária também é sócia da Nomad Blazer, apenas blazers, e da Auranuda, com uma gama maior de peças, mas ainda com a premissa do essencial.

Liana, que originalmente trabalhava no mercado financeiro, lançou o Ateliê de Calças em 2010. A ideia era abarcar vários produtos mas, pesquisando, observou um movimento de e-commerces fora do país com alvos bem delimitados. Viu uma oportunidade e aceitou o desafio.”Precisávamos ter uma identidade de moda, mas atemporal. Então, começamos a trabalhar as diferentes estações junto com uma série de best sellers”, afirma a empresária.

Painel de inspira\u00e7\u00e3o da Ateli\u00ea de Cal\u00e7as.

Foto: Lorena Dini

A calça, segundo Pandin, contempla uma região do corpo da mulher que, em uma perspectiva prática e cultural, é entendida como delicada. Com isso em mente, diferentes testes foram realizados para a modelagem, o grande diferencial da marca. “Nós fazemos uma piloto ajustável a cada tecido, ou seja, algumas cinturas são mais justas em uma determinada peça, como nas com elastano, e maiores em outras”, explica.

Geralmente, as marcas têm uma modelagem padrão, que serve de base para todos os cortes, independentemente do material utilizado. “Fazer essa mudança nos permitiu ter um refinamento de produto, já que detemos a nossa própria qualidade e inteligência”, finaliza Liana.

Katsukazan

Bolsa de vinil da marca Kstukazan.

Foto: Divulgação

Em vez de imaginar a peça e depois testar o conceito, Guilherme Akio e Priscila Sabino fizeram o caminho inverso. Eles investigaram os materiais, mais especificamente o vinil, e entenderam em quais modelagens poderiam chegar. O resultado é a Katsukazan, marca de bolsas e acessórios, sediada em Curitiba.

No início de tudo, em 2017, eles mal sabiam costurar – daí a ausência de zíperes nas criações. “Agora, é um paralelo entre o que a gente consegue fazer versus o que temos em mente”, explica Akio. A limitação, contudo, não é vista como um ponto negativo, pelo contrário. O designer acredita que se tivessem uma noção de como fazer uma bolsa, talvez acabassem reproduzindo modelagens mais genéricas.

O vinil, com as suas possibilidades de cor vibrante e toque emborrachado, é um importante componente da identidade da marca. “A ideia é explorar o que esse material pode nos entregar. Não temos tanto interesse em variar, começar a fazer bolsa de couro”, conta. “Queremos o novo mas dentro do que já fazemos. É o que dá a nossa cara. Pensando no vinil, ele nos faz desenvolver as coisas de certa forma, pois tem as suas características e, consequentemente, limitações”, finaliza Akio.

Toró

data-instgrm-permalink="https://www.instagram.com/tv/CL-aR8YnD9O/?utm_source=ig_web_copy_link" data-instgrm-captioned data-instgrm-version="4" style="background:#FFF; border:0; border-radius:3px; box-shadow:0 0 1px 0 rgba(0,0,0,0.5),0 1px 10px 0 rgba(0,0,0,0.15); margin: 1px; max-width:658px; padding:0; width:99.375%; width:-webkit-calc(100% - 2px); width:calc(100% - 2px);">

Chuva não tem que ser sinônimo de roupa molhada. Esta é a premissa da Toró, marca curitibana que pensa o vestuário para quando o aguaceiro não dá trégua. Criada no final de 2019 por Anne Neubauer e Sarah Hartmann, a ideia surgiu com a dificuldade da segunda em encontrar uma capa de chuva que não tivesse cara de, bem, capa de chuva.

Para ela, as opções disponíveis não se integravam com harmonia ao look, tinham ar grosseiro e pouco prático. “Ou você pagava caro ou só encontrava uma opção mais descartável, para usar em festival (saudades)”, explica Sarah. “Às vezes, dava para achar um corta-vento em marcas esportivas, mas não era algo muito legal”, continua.

O ponto de partida foi a capa, mas logo veio a necessidade de complementar a gama de produtos com a mesma premissa de proteção e impermeabilidade. Daí foram criados ponchos, bolsas e chapéus. Os produtos vêm em cores sóbrias e também vivas, sempre feitos de náilon resinado e emborrachado. “Existem opções no mercado que são apenas resinadas, não emborrachadas, mas que perdem a impermeabilidade com o tempo”, detalha Sara.

bolsa e chap\u00e9u da marca Tor\u00f3.

Foto: Janis Lima

O foco é durabilidade. “O cliente vai ter para o resto da vida. Usamos nos acabamentos um metal que não enferruja, o latão niquelado, e as costuras têm por dentro um viés, para impedir a passagem da água”, fala Sara. O negócio é nichado, mas a dupla afirma que, em relação ao público, o recorte não é tão estreito assim. O poncho, por exemplo, tem alta adesão de pessoas que se locomovem de bicicleta, já que as costuras laterais impedem a entrada de água para a camada inferior e a silhueta é perfeita para cortar o vento.

O trabalho focado, quase obsessivo, garante uma maior especialidade. Claro, não se pode desconsiderar o tamanho da marca, mas a oferta enxuta não é apenas pela baixa quantidade de funcionários (apenas as duas). Também é estratégica. “Se abríssemos um leque, não conseguiríamos refinar tanto. Pesquisando capas de empresas não especializadas, percebemos uma falta de atenção aos detalhes”, conclui Anne Neubauer.

Milk Supply

Modelo veste camiseta cinza da Milk Suply.

Foto: Alex Batista | Modelo Felipe Rocha

Idealizada pelos publicitários Pedro Tourinho e Rafael e Guilherme Cadeira, a Milk Supply, lançada em fevereiro de 2019, é o resultado de uma busca obstinada pela camiseta perfeita. É isso que eles entregam, em branco, preto e cinza. Nada mais. A abordagem pode parecer simples, mas é fruto de muito estudo.

“A gente sempre comprava e comparava camisetas, até que pensamos: por mais que existam mil lojas de ‘básico’ no país, não conseguimos encontrar uma t-shirt perfeita”, explica Rafael. “Muitas vezes, as marcas desistem de focar em um produto e criam vários”, continua. A Milk não quer estar em todas as seções do seu guarda-roupa. “É muita presunção achar que o consumidor vai comprar tudo que precisa de você”, argumenta Guilherme.

A dupla passou 2 anos focada em modelagem e tecido. Optou, então, por trabalhar com o algodão pima do Peru, espécie nobre com mais de 5 mil anos. O material é leve e se encaixa bem no clima brasileiro. Já o modelo de negócio consiste em um clube de assinatura: o cliente paga um valor por mês e, a cada trimestre, recebe três camisetas.

O modo de operação é tecnológico, lapidado e focado na experiência. Meio Vale do Silício, meio Santa Cecília (o público é robustamente formado por artistas e por quem trabalha com tecnologia). Com apenas um produto, sempre aprimorado como um software, a dupla acredita que as chances de se tornar referência são fortalecidas.

Mateus Cardoso

Look Mateus Cardoso.

Foto: Franklin Almeida | Beleza: Melissa Domingues | Modelo: Alexandre Silva

O estilista por trás da marca homônima, criada em 2019, é metódico e gosta de estudar. “Nerd” é um termo que recentemente tem sido revisitado, agora sem o caráter pejorativo. Mateus Cardoso possivelmente se encaixa bem nesta nova configuração e a sua pesquisa com a alfaiataria é prova disto.

Peças com construção simples não enchem os olhos do estilista. “Não gosto de costurar roupa fácil”, conta. “Na faculdade, os professores me instruíam a aprender a costurar pela alfaiataria. Começando pelo difícil, conseguiria encurtar o caminho”. E assim ele o fez.

Tanto que para Mateus, alfaiataria e moda são coisas diferentes. “São universos distintos. Percebia que as marcas podem até ter um conceito e vontade, mas acabam não tendo produto”, analisa. “Hoje, vejo o quão complicado é desenvolver uma proposta mais complexa com esse recorte.”

De fato, o ritual de ir a um alfaiate e a precisão de uma peça por encomenda parecem se esvair com o tempo. “Não há uma valorização da mão de obra do alfaiate. Se o cliente encontrar um blazer no shopping, ele vai comprar”, comenta.

Look Mateus Cardoso

Foto: Franklin Almeida | Beleza: Melissa Domingues | Modelo: Alexandre Silva

Mateus percebeu, então, que a falta de opção no mercado poderia ser suprida pelo seu desejo e encantamento com a técnica. Foi aí que a paixão se tornou viável. “Comecei a gostar de moda a partir da alfaiataria”, afirma. Seu ponto de partida é a tradição e o destino, a reconfiguração dela.

“A dificuldade que é fazer um blazer sempre me encantou. Você nunca aprende 100%, sempre tem algo novo”, conta. “Vou a alguns brechós, compro peças e faço estudos no manequim. Com isso, chego à uma proporção minha”. O que não quer dizer que o estilista não faça peças básicas e simples, “mas quando parto da tradição, desconstruo e volto, o olhar já é diferente. O meu básico não é somente básico. Eu sempre acrescento algo”, finaliza.

Fernando Cozendey

data-instgrm-permalink="https://www.instagram.com/p/COdO-G0nyA0/?utm_source=ig_web_copy_link" data-instgrm-captioned data-instgrm-version="4" style="background:#FFF; border:0; border-radius:3px; box-shadow:0 0 1px 0 rgba(0,0,0,0.5),0 1px 10px 0 rgba(0,0,0,0.15); margin: 1px; max-width:658px; padding:0; width:99.375%; width:-webkit-calc(100% - 2px); width:calc(100% - 2px);">

Com cuidado para não cair em imagens simplistas e míopes, visualize o seguinte cenário: subúrbio do Rio de Janeiro, mulheres com roupas justas e curtas e uma criança atenta à esta composição. É a este recorte que Fernando Cozendey credita a sua estética. E à Lycra. Foi com esse tecido que o estilista encontrou o componente perfeito para a materialização das lembranças, misturadas a referências pop e muito mais.

Seja em uma jaqueta, camisa social ou até mesmo almofadas, lá está ela. Já foi combinada com tule, rendas, viscose ou jeans. “O material está presente em quase todos os produtos que já criei”, conta Cozendey, que abriu a sua marca há 10 anos. “Sou apaixonado, foi o primeiro tecido que vi sendo costurado. Depois fiz cursos especializados em malha, ao longo dos anos aprendi muito e ainda sigo.”

Lycra, pontua Cozendey, é o nome de uma marca que trabalha com o fio de elastano, não o do tecido. Porém, é popularmente conhecido desta maneira. O fio de elastano é uma fibra sintética com alta flexibilidade, comumente usado em roupas de banho e meias-calças. O desafio está fortemente associado à sua maleabilidade. “Quanto mais recortes você faz, mais ele distorce. É preciso ter leveza na mão, para que não cresça e fique folgada”, explica.

data-instgrm-permalink="https://www.instagram.com/p/CIJFa9kHQgf/?utm_source=ig_web_copy_link" data-instgrm-captioned data-instgrm-version="4" style="background:#FFF; border:0; border-radius:3px; box-shadow:0 0 1px 0 rgba(0,0,0,0.5),0 1px 10px 0 rgba(0,0,0,0.15); margin: 1px; max-width:658px; padding:0; width:99.375%; width:-webkit-calc(100% - 2px); width:calc(100% - 2px);">

Por razões evidentes, o estilista – e o elastano – é frequentemente associado ao Carnaval, apesar de não ter sido o seu objetivo. Ele não gostava da festa, mas com o tempo foi seduzido. “As criações são uma via para eu colocar as minhas fantasias em um objeto”, confessa.

“O que faço expressa as minhas lembranças, junto com um clipe da Madonna e mil elementos. O que me encanta é o show, o fogo, a energia máxima que a gente coloca na nossa persona para virar quase um super-herói”, detalha. “É essa a relação que tenho com a roupa”. E que boa companheira a Lycra tem sido.

Para ler conteúdos exclusivos e multimídia, assine a ELLE View, nossa revista digital mensal para assinantes