Novos designers: mais seis nomes independentes para ficar de olho

Arte contemporânea, observações do cotidiano, memórias afetivas e culturas de diversos países estão entre as inspirações das marcas selecionadas este mês.





Oroomin

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A relação de Denise Salles com a moda começou por intermédio de uma tia, que a ensinou a fazer crochê quando tinha apenas sete anos, no bairro de Cajazeiras, subúrbio de Salvador, onde nasceu. Contudo, foi só durante o curso de Gestão em design de moda, na Universidade UNIFACS, que a estilista e diretora criativa da Oroomin percebeu como tudo a sua volta, seu cotidiano, questionamentos e interesse por arte poderiam construir toda uma nova forma de expressão por meio de roupa. “A maioria dos meus colegas trazia sempre os mesmos assuntos, pensavam no mesmo público alvo e isso me deixava inquieta”, relembra Denise. “Achava a forma como as pessoas pesquisavam e apresentavam seus trabalhos muito rasa, e passei a questionar o que era beleza, estética e todos esses conceitos.”

O trajeto diário de Cajazeiras até Salvador levava por volta de duas horas, tempo que a jovem estilista usou para observar seu entorno, buscar referências e inspirações onde poucos costumam olhar. “Via o que as pessoas estavam usando, o contexto delas e tirava dali cores e formas. Olhando o motoboy, as feiras, os pescadores, percebi que tudo tinha um apelo estético, mesmo que de forma involuntária, e comecei a trazer isso para as minhas pesquisas.” Em paralelo, estudava e explorava as obras de artistas visuais como Ana Kwasi Wiafe, Seyon Amosu, Fela Kutio e Carybé, em quem se inspirou para o seu TCC, apresentado em meados de 2011. “Fiquei encantada pela forma como ele retratava os pescadores, especialmente as redes. Como venho de uma família de pescadores, quis relacionar essa herança com suas pinturas através de experimentos manuais no vestuário”, explica.

O desejo de ter seu próprio negócio, já existia bem antes de tal pesquisa. Porém, mesmo depois de concluída a gradução, Denise decidiu dar continuidade aos estudos e embarcou numa jornada acadêmica que a levou para o Rio de Janeiro, onde vive atualmente. Nesse período, fez diversos cursos no Senac, no Instituto Rio Moda e na Dacri Deviati.

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Para se manter e desenvolver o lado criativo, ela trabalhou para a Unidos da Tijuca, passando por todos os ateliês do barracão da escola de samba. “Estava tão empolgada que fazia o dobro do que me pediam e acabei estabelecendo uma relação de amizade com todos e comecei a pegar outros trabalhos”. Ao longo de 11 anos, Denise teve experiência em diferentes áreas do varejo e confecção de moda. Em cada lugar, uma descoberta de material ou uma nova vivência pavimentava o caminho para a Oroomin (junção de duas palavras em iorubá que significa riqueza das águas).

“Percebi que a indústria da moda correlaciona o povo preto ao street ou ao esporte, às roupas de movimento. É como se a roupa do preto estivesse sempre fora da casa grande, onde ficam aquelas feitas à mão, sofisticadas, como se isso não se relacionasse aos negros”, explica sobre o mote da sua etiqueta. “Quero inverter esses valores nas minhas criações, com peças que possam ser vistas naturalmente como um objeto de arte, para que pessoas pretas tenham acesso a esse vestuário artesanal e se vejam em outros lugares.”

Lançada no início deste ano, a marca desenvolve pequenas coleções temáticas de peças únicas. Contudo, Denise já está trabalhando em um desdobramento comercial para suas criações e fomentando parcerias entre arte, cinema e música (a estilista é também responsável pelos figurinos do pianista afrofuturista Jonathan Ferr). “Somos um estúdio de experimentações manuais e têxteis, onde não há limites para a criação”, define ela, que pretende apresentar sua próxima coleção por meio de um curta-metragem. “Vamos jogar isso pro universo para ver se vem.”

NuiNui

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Fundada pelas mineiras Camilla Orellana e Julia Nogueira, a NuiNui nasceu em 2018, a partir da dificuldade da dupla em encontrar peças que representassem suas personalidades. “Por mais que buscássemos, nunca nos identificávamos com as propostas disponíveis”, explica Julia. “Queríamos fazer diferente e unir, de alguma forma, moda e arte. A solução veio por meio de parcerias com artistas plásticas, como Julia Fontes, Fernanda Santiago, e Nicole Bini: a cada temporada, um novo nome é convidado para assinar uma estampa exclusiva.

Quer dizer, até a chegada da pandemia, quando as estilista decidiram fazer da nova coleção uma verdadeira tela em branco. “É um reflexo do momento mundial em que estamos vivendo. Optamos por peças lisas, mas preservando a nossa pegada artística e moderna”, diz Julia.

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Além da arte, a dupla também busca inspiração em registros do cotidiano, na arquitetura e pesquisas em revistas antigas para construir peças com leveza e fluidez. “Usamos tecidos como crepes e musselines, mas mesclamos com materiais naturais, como linho e algodão”, conta Camilla. Trabalhar com fornecedores brasileiros também é uma característica cada vez mais forte da marca, que recentemente tem buscado processos mais sustentáveis em seu desenvolvimento. “Utilizamos poliéster reciclado ou sem químicos danosos, a fim de minimizar os impactos causados na produção”, diz Camilla.

A modelagem é outro destaque da marca, que geralmente faz até cinco peças piloto para chegar no resultado desejado. “Trabalhamos com perfeccionismo até a roupa ficar com caimento ideal, exatamente como queremos.” Na última coleção, a dupla priorizou formas oversized, tanto em volume quanto em comprimento. “Para o verão, estamos desenvolvendo outras peças e trabalhando com uma nova artista, que está pintando um quadro especialmente para nós”, antecipa Julia. Há ainda duas collabs em andamento, uma de bolsas e outra de acessórios, previstas para o segundo semestre. “Além de aumentar o nosso mix de produtos, também exercitamos essa relação colaborativa com outros segmentos e profissionais”, completa Camilla.

Oaques

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Foi no Ministério Público do Rio de Janeiro que Deivedy Oaques descobriu seu talento para a moda. “Tinha começado o primeiro período da faculdade de direito na Estácio e consegui um estágio na promotoria. Nas horas vagas, desenhava roupas e vestidos, até que uma promotora encontrou um caderno que tinha esquecido e veio falar comigo”, relembra ele. “Ela adorou o que viu e disse que eu deveria estudar moda. A partir daí, comecei a me questionar se estava no lugar certo ou perdendo tempo. Como não podia pagar uma faculdade à toa, decidi mudar para moda.”

Com uma bolsa, começou um curso técnico em produção de moda no Senac e percebeu o quanto realmente gostava do assunto e de vestir – os outros e a si mesmo. “Fiz tudo com muito custo, pois não tive aprovação da minha família”, conta Deivedy, que concluiu o curso em 2014 com a ajuda de amigos e professores. “Lá, tive uma noção básica de todas as áreas, do desenho à modelagem e marketing, mas o que me deu base mesmo foi começar a trabalhar para ver na prática como as coisas aconteciam e ter contato com outros profissionais.”

Ao longo da trajetória, ele estagiou na Oh Boy, foi assistente de modelagem na Sacada, passou pela A.teen, Zibba, Farm e Caroline Rossato, até decidir que queria ter a própria marca. “Gosto de criar, de imaginar e fazer acontecer, tirar esses desejos da minha cabeça”, fala. Em 2017, percorreu o bairro de Bento Ribeiro, onde mora, para selecionar costureiras que pudessem lhe ajudar a tirar as ideias do papel. Nascia assim a Oaques, etiqueta que conta ainda com o suporte da amiga e modelista Micheli Souza.

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De lá para cá, o estilista – que também é modelo e faz leitura de cartas ciganas – tem desenvolvido pequenas coleções temáticas, sempre misturando a história e a cultura carioca com elementos vintage e da moda francesa. “Gosto de tecidos leves, formas diferentes, de um bom caimento, mas sem muita extravagancia”, explica o designer, que tem Jacquemus e as antigas coleções de Chanel como principais inspirações.

A Oaques não segue um calendário específico de lançamento e atende apenas sob demanda. “Gosto de lançar no tempo certo, para poder pensar nos temas com mais profundidade e me organizar direito”. As peças levam em torno de 15 dias para ficarem prontas e os clientes que também curtem esoterismo ainda são presenteados com cristais. “Adoro ter um contato mais próximo com as pessoas e quero fazer com que elas entendam essa vertente mística da melhor forma possível”. Esse, aliás, será o tema da próxima coleção, ainda sem data de lançamento – Deivedy está cursando História da Arte na UFRJ e o tempo anda escasso. “A pandemia está muito pesada, então quero levar a espiritualidade às pessoas através das minhas roupas.”

Caché

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Lançar uma marca em plena pandemia não é tarefa simples, mas foi exatamente o que fizeram as sócias Renata Mello e Paula de Souza Aranha. “Depois de 12 anos trabalhando para outras marcas, senti que era a hora de levantar esse projeto”, conta Renata, estilista à frente da etiqueta. “Trabalhamos juntas por muito tempo, estou no mercado há quase 18 anos e sempre quis fazer algo com a Re. Quando ela me disse que estava a fim de empreender, foi o casamento perfeito”, diz Paula, responsável pela estratégia comercial.

A primeira coleção, inspirada em Hanói, capital do Vietnã, foi apresentada em janeiro para um pequeno grupo de compradoras e conquistou 18 pontos de venda no Brasil, antes mesmo do lançamento oficial. “Nem tínhamos um perfil no Instagram, então foi uma grande surpresa”, comenta Paula. Com o algodão como principal matéria-prima, a Caché busca enaltecer a produção nacional. “O Brasil é um dos países que mais planta algodão e, às vezes, temos falta de insumos, porque é tudo exportado. Queremos fomentar os fornecedores locais para que esses materiais fiquem conosco”, defende a diretora comercial. Um jacquard especial, baseado em estudos das tramas de cestaria, e estampas manuais também servem de lembrança para as clientes da importância do valor humano na cadeia produtiva. “Mesmo a máquina de costura é conduzida pelas mãos de uma pessoa”, reitera Renata.

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“Queremos que a nossa cliente se sinta bonita para ela mesma e que tenha uma relação de afeto com as nossas roupas”, define Renata. “O intuito é trazer leveza, beleza e alegria para o dia a dia. Por isso, trabalhamos com um pantone de cores exclusivas e seguimos um caminho mais atemporal, com peças que podem ser usadas o ano todo”, completa.

Com duas coleções anuais, a marca não pretende ter loja física, apenas um estúdio de criação. As vendas e comunicação ficaram concentradas no Instagram e em um ecommerce, ainda desenvolvimento. “Em São Paulo, também enviamos uma malinha de roupas para as clientes provarem em casa. A ideia é seguir assim”, explica Renata. A segunda coleção será lançada em meados de setembro e tem a Bahia como fonte de inspiração.

Carnan

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Mostrar o mundo ao mundo. Essa é a proposta da carioca Carnan, dos amigos Paulo Henrique Carneiro, Breno Fernandes e Lucca Augustin. “Eu e Breno estudamos na mesma sala da faculdade de publicidade e, diversas vezes, conversamos sobre moda, tínhamos esse interesse em comum”, conta Paulo, responsável pelo estilo da marca. Desses papos, veio a vontade de empreender na área e, em 2017, eles apresentaram a ideia para Lucca, que, na época, estudava em Londres. “Ele ficou super animado, porque também tem as mesmas ideias e gostos que a gente”, lembra Carneiro.

Em janeiro de 2018 os três largaram seus respectivos empregos e iniciaram um processo de quase um ano de pesquisas para lançar a grife. “Por mais que tivéssemos uma relação pessoal com a moda, não nos formamos na área e é muito diferente na hora de fazer a máquina girar”, conta Breno, coordenador de comunicação. “É muito difícil dar esse primeiro passo, tivemos barreiras burocráticas, de mão de obra e negociações com fornecedores”, completa Lucca, encarregado do financeiro e logística.

Apesar dos obstáculos, o trio seguiu em frente e lançou a Carnan oficialmente no final de 2018, com uma pré-coleção de seis modelos de shorts inspirados no estilo de vida globe-trotter. “Todos nós moramos fora, a família do Lucca é da aviação e, desde os 15 anos, fazemos mochilões pelo mundo”, diz Breno. As viagens foram incorporadas à marca como pano de fundo para as coleções que, hoje, englobam um maior mix de produtos, indo de camisetas a bonés e casacos.

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Com a pandemia, a Carnan precisou pausar as viagens ao exterior, mas não diminuiu o ritmo nem se distanciou de sua essência nômade. Em vez de três coleções por ano, passaram a fazer drops mais enxutos com maior frequência. “Lançamos uma cápsula há dois meses, a partir de uma viagem que fizemos para um sítio na serra, onde andamos de moto, a cavalo, fomos em cachoeiras e também aproveitamos o cenário para produzir nossos conteúdos”, conta Breno.

Além de um novo drop que abordará a relação com o mar, o trio está finalizando uma coleção mais ampla para lançar no começo de junho, com tema japonista. “Mesmo sem poder ir até lá, o Japão é o lugar que mais nos atrai atualmente”, diz Paulo. “O Lucca tem amigos japoneses que nos deram o maior suporte, acompanharam toda a produção, dando opiniões e nos abastecendo com ideias e elementos do cotidiano deles”, completa. Em paralelo, um longo trabalho de pesquisa sobre cultura, estamparia e o estilo de vida nipônico ajudou a complementar a coleção. “É a nossa masterpiece, que nos encheu de orgulho e elevou ainda mais o sarrafo da Carnan”, arremata Breno.

Grama

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“Sempre gostei de criar através do vestir. Sou neta e bisneta de costureiras e crocheteiras e passei muitos finais de semana na casa delas na minha infância”, conta a paranaense Roberta Muradás, nome por trás da recém-lançada Grama. “Quando comecei a imaginar esse projeto, o ponto principal era que as modelagens fossem confortáveis e amplas, para serem usadas em situações reais do dia a dia. Ao mesmo tempo, queria que fossem singulares em suas cores e tivessem estampas que aflorassem a criatividade”, completa.

A coleção de estreia, batizada Foz, mistura as memórias afetivas de Roberta com alfaiataria masculina e peças desenvolvidas com uma família de crocheteiras locais paranaenses. “Conheço elas há muitos anos, formamos uma relação próxima quando trabalhei na Lafort. Então, a primeira pessoa em que pensei, quando comecei a Grama, foi na Rose, nas suas filhas e noras”, conta a estilista. “Pretendo sempre incluir o trabalho delas nas minhas coleções, pois a riqueza do manual me lembra a minha infância e isso é algo que faz parte dos pilares da marca.”

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Com pequenos drops mensais e produtos que vão de acordo com a estação vigente, a Grama procura usar o máximo de matéria-prima nacional e de fornecedores responsáveis, além de ser transparente em seus processos. Para isso, busca por certificações de procedência como OEKO-TEX, FCS e algodão BCI – orgânico ou reciclado. A estamparia digital é estratégica para garantir menor uso de água e geração de resíduos. A grade enxuta reduz estoques excedentes, enquanto a papelaria da marca é composta de materiais reciclados. “Queremos evitar a produção em excesso, então fazemos reposições de acordo com a disponibilidade da matéria-prima de cada modelo”, explica Roberta. “A ideia é introduzir também peças feitas sob medida nas próximas coleções para que possamos atender a todos.”

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