O legado coletivo de Black Fashion Fair

Plataforma lança sua primeira publicação impressa prestigiando designers negros do presente e passado a fim de vislumbrar um futuro de mais reconhecimento e valorização.


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Em 2016, Antony Gregory lançou uma thread no twitter listando inúmeros designers negros que você deveria conhecer. A postagem gerou uma grande ação coletiva de documentação online. Como resultado, uma verdadeira biblioteca com centenas de designers independentes e profissionais negros foi gerada organicamente, causando impacto direto nos negócios dos nomes listados. Nasceu assim a Black Fashion Fair. Agora, esse arquivo público ganha versão impressa. Um livro de quase 200 páginas joga luz em criadores negros que, ao longo da história, contribuiram com construção de novos imaginários na industria por meio de roupas e imagens.

Com nome de Volume 0: Seen, a publicação impressa é um potente material documental de preservação da memória e valorização da presença e influência da cultura negra na moda, beleza, sociedade e cultura. É um projeto coletivo de pessoas que entendem o peso do racismo sistêmico que dá base ao mercado e afeta a vida de pessoas negras, indígenas e não-brancas. Designers como: Pyer Moss de Kerby Jean-Raymond, Sergio Hudson, House of Aama e Edvin Thompson são alguns dos nomes que marca presença nesta primeira edição.. Em suas páginas, fotógrafos negros, incluindo Aijani Payne, Amber Pinkerton, Quil Lemons e Ahmad Barber e Donté Maurice, que juntos são conhecidos como AB+DM, também compartulham seus olhares.

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Foto: AB+DM | Divulgação

Em entrevista ao The New York Times, Gregory fala sobre o desejo de trazer uma visão real do mundo sobre a moda, estilo e cultura negra. “Estou valorizando os designers negros, e fazer isso é estar no mais alto nível’’, disse. Assim como no Brasil, a indústria de moda estadunidense enfrenta o terrível desafio imposto pela estrutura racista que se instala no cerne da sociedade e em suas entranhas. O trabalho para criar rupturas só é possível com ações coletivas.

O Black Fashion Council e o Your Friends in New York, são exemplos de organizações trabalhando para que profissionais negros sejam devidamente reconhecidos. Isso inclui desde projetos com empresas independentes para impulsionar e pressionar a indústria por castings mais inclusivos nas passarelas até campanhas publicitárias e outras ações internas em todas as camadas da indústria. Em solo nacional, vale destacar os trabalhos dos coletivos Pretos na moda, o Projeto Sankofa como algumas das iniciativas atuantes e com objetivos similares.

Mas, afinal, o que é a Black Fashion Fair?

De acordo com o site, a BFF é uma experiência conceitual voltada para a descoberta e promoção de designer negros com o objetivo de cultivar experiências, apoiar ideias e dar suporte ao crescimento de designers e marcas de propriedade de pessoas negras. “Nosso foco na moda se relaciona especificamente com as contribuições de designers negros e o impacto da cultura negra. Contaremos as histórias muitas vezes esquecidas, enquanto também documentamos e preservamos a moda negra: passado, presente e futuro”, lê-se no site do projeto. Lá, é enfatizado que a plataforma não é excludente e tem o compromisso de incluir “todos os interessados em descobrir as contribuições e a influência dos negros na moda, arte, design e cultura popular. A Black Fashion Fair incentiva o diálogo e dá voz a quem foi historicamente apagado dessas narrativas”.

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Foto: Quil Lemons | Divulgação

Mesmo que o ano seja 2022, Gregory, precisou afirmar o óbvio ao NYT por compreender que a indústria da moda ainda encobre e tapa os olhos para debates que alicerçam a sociedade. “Não há mais desculpas. Temos acesso demais ao mundo, temos acesso demais à internet e uns aos outros. Não dá mais para dizer ‘ah, eu não sabia’ ou ‘não consegui encontrar’, comentou ele.

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